11 de Maio de 2012
Estava um dia quente de Primavera, eu tinha ido ao hospital de Penafiel buscar um doente para a sua residĂȘncia. Vinha eu a chegar Ă Calçada quando o meu telemĂłvel tocou, era o meu cunhado Daniel a perguntar-me onde estava, consegui detectar-lhe na voz alguma preocupação e entĂŁo perguntei-lhe o porquĂȘ de querer saber onde eu estava. Disse-me que tinha acontecido um atropelamento, e que estava junto de uma menina, mas que achava que jĂĄ estava morta. Estas palavras provocaram em mim um grande arrepio, e imediatamente comecei a andar mais rĂĄpido, fui tentando saber mais pormenores do que que tinha acontecido, foi-me dizendo que tinha sido uma moto a atropelar uma criança, e que esta nĂŁo dava sinais de vida, e que ainda havia outro ferido que era o condutor da moto, mas nĂŁo sabia como Ă© que ele estava porque nĂŁo tinha saĂdo de junto da menina. Disse-lhe para se manter junto dela, e que eu jĂĄ estava a chegar, liguei para a central a dizer o que se passava, e recebi a indicação que jĂĄ tinham enviado uma viatura.
Passados trĂȘs minutos eu estava junto da menina atropelada, nĂŁo haviam duvidas, a menina estava mesmo em PCR (paragem cĂĄrdio-respiratĂłria).
Tinha vĂĄrias lesĂ”es, fracturas mĂșltiplas, feridas abertas, tinha um TCE (traumatismo crĂąnio-encefĂĄlico) gravĂssimo, e dei por mim a pensar, "vou fazer o quĂȘ?" infelizmente por alguns segundos, fiquei completamente bloqueado, nĂŁo pela situação em si, mas porque tinha acabado de reconhecer a pequena PatrĂcia, que alĂ©m de me cruzar com ela quase todos os dias na escola do Pinheiro, era tambĂ©m filha de pessoas amigas.
Tinha vĂĄrias lesĂ”es, fracturas mĂșltiplas, feridas abertas, tinha um TCE (traumatismo crĂąnio-encefĂĄlico) gravĂssimo, e dei por mim a pensar, "vou fazer o quĂȘ?" infelizmente por alguns segundos, fiquei completamente bloqueado, nĂŁo pela situação em si, mas porque tinha acabado de reconhecer a pequena PatrĂcia, que alĂ©m de me cruzar com ela quase todos os dias na escola do Pinheiro, era tambĂ©m filha de pessoas amigas.
Imediatamente dei inicio a manobras de reanimação, ao mesmo tempo que entrei em contacto com o CODU (centro de orientação de doentes urgentes) e os coloquei a par da situação, ao qual me foi dito que iam enviar uma equipa médica helitransportada.
Fiquei completamente "isolado" do mundo, nĂŁo ouvia nada Ă minha volta, apesar de toda a confusĂŁo instalada no local, era como se estivesse sozinho a socorrer a menina. Liguei mais uma vez para a central e pedi mais meios para o local, mas atĂ© eles chegarem tinha que fazer tudo ao meu alcance para tentar salvar a menina, Ă medida que ia fazendo reanimação, tentava perceber o que se tinha passado, mas sinceramente naquela hora nĂŁo entendi nada, pois a minha missĂŁo era socorrer a pequena PatrĂcia e nada mais.
Fiquei completamente "isolado" do mundo, nĂŁo ouvia nada Ă minha volta, apesar de toda a confusĂŁo instalada no local, era como se estivesse sozinho a socorrer a menina. Liguei mais uma vez para a central e pedi mais meios para o local, mas atĂ© eles chegarem tinha que fazer tudo ao meu alcance para tentar salvar a menina, Ă medida que ia fazendo reanimação, tentava perceber o que se tinha passado, mas sinceramente naquela hora nĂŁo entendi nada, pois a minha missĂŁo era socorrer a pequena PatrĂcia e nada mais.
Passados poucos minutos chegava junto a mim a ABSC-03, colocamos a menina dentro da viatura, e continuamos com o nosso trabalho.
A equipa desta viatura continuou com as manobras e eu fui até junto da outra vitima tentar avaliar o estado dela, tinha uma fractura num membro superior e vårias escoriaçÔes, entretanto chegou mais uma viatura e tomou conta desta vitima.
Passado algum tempo aterrava junto a nĂłs o helicĂłptero do INEM com uma equipa mĂ©dica vinda do hospital Pedro Hispano em Matosinhos, jĂĄ eu estava novamente junto da pequena PatrĂcia.
De pouco ou nada puderam valer Ă pequena PatrĂcia, mas pelo menos tudo foi feito para que esta sobrevivesse.
A noticia foi-se espalhando rapidamente, fazendo com que muita gente se deslocasse para o local do acidente, o que nos dificultou em certa parte o nosso trabalho, a equipa mĂ©dica ia fazendo de tudo para salvar a pequena PatrĂcia, mas de nada valeram todos os nossos esforços. Depois de largos minutos de reanimação, chegou-se Ă conclusĂŁo de que dada a gravidade dos ferimentos, nada mais se podia fazer.
A violĂȘncia do impacto foi muito grande, o que levou a que a menina fosse projectada contra um automĂłvel que se encontrava ali estacionado, provocando lesĂ”es completamente irreversĂveis, e que se revelaram fatais.
Foi para mim um pouco complicado gerir as emoçÔes, não só por conhecer minimamente a menina, mas principalmente porque mais uma vida humana se perdia, e ainda por cima a vida de uma criança, mais uma criança, que não tem culpa de nada, e acaba por perder a vida de forma trågica.
Mais tarde vim a saber como aconteceu o acidente, a PatrĂcia saiu do autocarro e começou a atravessar a estrada, quando de repente apareceu a moto que acabou por nĂŁo conseguir desviar-se, embatendo com violĂȘncia na menina. O avĂŽ do outro lado da rua, assistia a tudo, incrĂ©dulo, sem poder fazer nada. A violĂȘncia do embate foi tĂŁo grande, que a moto acabou por ir parar a quase cem metros Ă frente.
Esta estrada jĂĄ Ă© conhecida pela "estrada da morte", e muito sinceramente nĂŁo sei se este tipo de acidentes algum dia vai parar. Os condutores continuam a conduzir a velocidades proibidas, os peĂ”es nem sempre tĂȘm o cuidado devido a atravessar a rua, jĂĄ a estrada por si sĂł tem pouca sinalização, e em muitos locais onde deveriam existir passadeiras para peĂ”es, simplesmente nĂŁo existem, e como se nĂŁo bastasse tudo isto, somos confrontados com paragens de autocarro localizadas praticamente em "cima" das curvas.
Tudo isto a juntar aos quase 30.000 utilizadores diĂĄrios que nela circulam, em pouco mais de 14 quilĂłmetros.
Penso que estĂĄ na hora de dizer "Basta", acho que estĂĄ na hora de alguĂ©m fazer alguma coisa, jĂĄ o fiz em posts anteriores e volto a fazĂȘ-lo neste, acho que estĂĄ na hora dos nossos governantes olharem para este troço com preocupação, pois nĂŁo Ă© normal os acidentes que nesta via acontecem, desde despistes, atropelamentos, a colisĂ”es. Para tudo hĂĄ solução, menos para a morte de todas estas pessoas, por isso Srs. autarcas hĂĄ que "meter os pĂ©s ao caminho" e fazer alguma coisa, ou sĂł o sabem fazer quando precisam de votos eleitorais???
Pode-se fazer muita coisa nesta estrada e por pouco dinheiro, mas penso que quando se trata de salvar vidas humanas nĂŁo se deve olhar a gastos. Lembrem-se que "amanhĂŁ" podem ser vocĂȘs a sofrer um acidente nesta estrada, ou entĂŁo ainda pior, pode ser um filho vosso a ser atropelado como foi a pequena PatrĂcia.
Sinceramente dou por mim a pensar "que mais serå preciso acontecer, para que se faça alguma coisa?"
SERĂ QUE QUEREM FICAR COM O PESO NA CONSCIĂNCIA???
Aos pais da pequena PatrĂcia, quero deixar aqui uma palavra de conforto, e acreditem que todos os que estiveram envolvidos no socorro da vossa filha, fizeram tudo para a salvar, mas infelizmente pouco ou nada havia a fazer. A PatrĂcia Ă© neste momento um anjo no cĂ©u a olhar por todos nĂłs, por isso tenham muita força para aguentar a dor de tal perda, e tentem viver tudo aquilo que a PatrĂcia queria que vocĂȘs vivessem.
E nunca se esqueçam que a vossa dor, em certa parte Ă© tambĂ©m a nossa dor, Ă© uma dor diferente, Ă© uma dor revoltante por nĂŁo se ter conseguido fazer mais, Ă© uma dor de impotĂȘncia, Ă© uma dor que fica para sempre e que Ă© sentida com mais força em cada situação que intervimos, pois todas as memĂłrias passam novamente por nĂłs.
Para os pais da PatrĂcia, JosĂ© Soares e FĂĄtima Soares, a minha palavra amiga e o meu conforto dentro do possĂvel, e tambĂ©m o meu agradecimento pela autorização para que eu pudesse escrever sobre este acidente. A PatrĂcia com toda a certeza que iria gostar de ser recordada desta forma. Obrigado e muita força para vocĂȘs.
Ana PatrĂcia Borges
Uma estrela a brilhar no céu
A violĂȘncia do impacto foi muito grande, o que levou a que a menina fosse projectada contra um automĂłvel que se encontrava ali estacionado, provocando lesĂ”es completamente irreversĂveis, e que se revelaram fatais.
![]() |
Dia e local do acidente |
Mais tarde vim a saber como aconteceu o acidente, a PatrĂcia saiu do autocarro e começou a atravessar a estrada, quando de repente apareceu a moto que acabou por nĂŁo conseguir desviar-se, embatendo com violĂȘncia na menina. O avĂŽ do outro lado da rua, assistia a tudo, incrĂ©dulo, sem poder fazer nada. A violĂȘncia do embate foi tĂŁo grande, que a moto acabou por ir parar a quase cem metros Ă frente.
Esta estrada jĂĄ Ă© conhecida pela "estrada da morte", e muito sinceramente nĂŁo sei se este tipo de acidentes algum dia vai parar. Os condutores continuam a conduzir a velocidades proibidas, os peĂ”es nem sempre tĂȘm o cuidado devido a atravessar a rua, jĂĄ a estrada por si sĂł tem pouca sinalização, e em muitos locais onde deveriam existir passadeiras para peĂ”es, simplesmente nĂŁo existem, e como se nĂŁo bastasse tudo isto, somos confrontados com paragens de autocarro localizadas praticamente em "cima" das curvas.
Tudo isto a juntar aos quase 30.000 utilizadores diĂĄrios que nela circulam, em pouco mais de 14 quilĂłmetros.
Penso que estĂĄ na hora de dizer "Basta", acho que estĂĄ na hora de alguĂ©m fazer alguma coisa, jĂĄ o fiz em posts anteriores e volto a fazĂȘ-lo neste, acho que estĂĄ na hora dos nossos governantes olharem para este troço com preocupação, pois nĂŁo Ă© normal os acidentes que nesta via acontecem, desde despistes, atropelamentos, a colisĂ”es. Para tudo hĂĄ solução, menos para a morte de todas estas pessoas, por isso Srs. autarcas hĂĄ que "meter os pĂ©s ao caminho" e fazer alguma coisa, ou sĂł o sabem fazer quando precisam de votos eleitorais???
Pode-se fazer muita coisa nesta estrada e por pouco dinheiro, mas penso que quando se trata de salvar vidas humanas nĂŁo se deve olhar a gastos. Lembrem-se que "amanhĂŁ" podem ser vocĂȘs a sofrer um acidente nesta estrada, ou entĂŁo ainda pior, pode ser um filho vosso a ser atropelado como foi a pequena PatrĂcia.
Sinceramente dou por mim a pensar "que mais serå preciso acontecer, para que se faça alguma coisa?"
SERĂ QUE QUEREM FICAR COM O PESO NA CONSCIĂNCIA???
Aos pais da pequena PatrĂcia, quero deixar aqui uma palavra de conforto, e acreditem que todos os que estiveram envolvidos no socorro da vossa filha, fizeram tudo para a salvar, mas infelizmente pouco ou nada havia a fazer. A PatrĂcia Ă© neste momento um anjo no cĂ©u a olhar por todos nĂłs, por isso tenham muita força para aguentar a dor de tal perda, e tentem viver tudo aquilo que a PatrĂcia queria que vocĂȘs vivessem.
E nunca se esqueçam que a vossa dor, em certa parte Ă© tambĂ©m a nossa dor, Ă© uma dor diferente, Ă© uma dor revoltante por nĂŁo se ter conseguido fazer mais, Ă© uma dor de impotĂȘncia, Ă© uma dor que fica para sempre e que Ă© sentida com mais força em cada situação que intervimos, pois todas as memĂłrias passam novamente por nĂłs.
Para os pais da PatrĂcia, JosĂ© Soares e FĂĄtima Soares, a minha palavra amiga e o meu conforto dentro do possĂvel, e tambĂ©m o meu agradecimento pela autorização para que eu pudesse escrever sobre este acidente. A PatrĂcia com toda a certeza que iria gostar de ser recordada desta forma. Obrigado e muita força para vocĂȘs.
Ana PatrĂcia Borges
Uma estrela a brilhar no céu
fiquei sem palavras ;(
ResponderEliminardeve ser sem dĂșvida uma dor horrĂvel perder um filho e ainda mais nestas situaçÔes
Nós somos condutores e também somos peÔes e por vezes não pensamos nisso
continuamos a ser irresponsĂĄveis todos os dias
infelizmente existe muitas Patricias por este mundo fora ;(
sofia ;)
NĂŁo quero nem imaginar a dor de perder um filho.
Eliminarsem duvida alguma que serå sempre uma estrela que nos acompanha e um anjo no céu a olhar por nos.
ResponderEliminarnunca serĂĄs esquecida prima.
lembrar-nos-emos sempre de ti meu anjo.
Andreia Coelho
NĂŁo duvides disso Andreia, pois a PatrĂcia nunca serĂĄ esquecida.
EliminarE complicado entender assim uma perda . Era uma menina perfeita em tudo. Foi complicado chegar lå ao pé dela e nao poder fazer nada .
ResponderEliminarAgora és o nosso anjo da guarda e a estrela que mais brilha no céu . Alexandrina dias
Infelizmente pouco ou nada pudemos fazer.
EliminarRIP
ResponderEliminar