Menina de 11 anos morre atropelada - VIDA DE BOMBEIRO

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sĂĄbado, 8 de junho de 2013

Menina de 11 anos morre atropelada


11 de Maio de 2012

Estava um dia quente de Primavera, eu tinha ido ao hospital de Penafiel buscar um doente para a sua residĂȘncia. Vinha eu a chegar Ă  Calçada quando o meu telemĂłvel tocou, era o meu cunhado Daniel a perguntar-me onde estava, consegui detectar-lhe na voz alguma preocupação e entĂŁo perguntei-lhe o porquĂȘ de querer saber onde eu estava. Disse-me que tinha acontecido um atropelamento, e que estava junto de uma menina, mas que achava que jĂĄ estava morta. Estas palavras provocaram em mim um grande arrepio, e imediatamente comecei a andar mais rĂĄpido,  fui tentando saber mais pormenores do que que tinha acontecido, foi-me dizendo que tinha sido uma moto a atropelar uma criança, e que esta nĂŁo dava sinais de vida, e que ainda havia outro ferido que era o condutor da moto, mas  nĂŁo sabia como Ă© que ele estava porque nĂŁo tinha saĂ­do de junto da menina. Disse-lhe para se manter junto dela, e que eu jĂĄ estava a chegar, liguei para a central a dizer o que se passava, e recebi a indicação que jĂĄ tinham enviado uma viatura.
Passados trĂȘs minutos eu estava junto da menina atropelada, nĂŁo haviam duvidas, a menina estava mesmo em PCR (paragem cĂĄrdio-respiratĂłria).
Tinha vĂĄrias lesĂ”es, fracturas mĂșltiplas, feridas abertas, tinha um TCE (traumatismo crĂąnio-encefĂĄlico) gravĂ­ssimo, e dei por mim a pensar, "vou fazer o quĂȘ?" infelizmente por alguns segundos, fiquei completamente bloqueado, nĂŁo pela situação em si, mas porque tinha acabado de reconhecer a pequena PatrĂ­cia, que alĂ©m de me cruzar com ela quase todos os dias na escola do Pinheiro, era tambĂ©m filha de pessoas amigas.

     
Imediatamente dei inicio a manobras de reanimação, ao mesmo tempo que entrei em contacto com o CODU (centro de orientação de doentes urgentes) e os coloquei a par da situação, ao qual  me  foi dito que iam enviar uma equipa mĂ©dica helitransportada.
Fiquei completamente "isolado" do mundo, nĂŁo ouvia nada Ă  minha volta, apesar de toda a confusĂŁo instalada no local, era como se estivesse sozinho a socorrer a menina.  Liguei mais uma vez para a central e pedi mais meios para o local, mas atĂ© eles chegarem tinha que fazer tudo ao meu alcance para tentar salvar a menina, Ă  medida que ia fazendo reanimação, tentava perceber o que se tinha passado, mas sinceramente naquela hora nĂŁo entendi nada, pois a minha missĂŁo era socorrer a pequena PatrĂ­cia e nada mais. 
Passados poucos minutos chegava junto a mim a ABSC-03, colocamos a menina dentro da viatura, e continuamos com o nosso trabalho. 
A equipa desta viatura continuou com as manobras e eu fui até junto da outra vitima tentar avaliar o estado dela, tinha uma fractura num membro superior e vårias escoriaçÔes, entretanto chegou mais uma viatura e tomou conta desta vitima.
Passado algum tempo aterrava junto a nós o helicóptero do INEM com uma equipa médica vinda do hospital Pedro Hispano em Matosinhos, jå eu estava novamente junto da pequena Patrícia.

   

De pouco ou nada puderam valer Ă  pequena PatrĂ­cia, mas pelo menos tudo foi feito para que esta sobrevivesse.
A noticia foi-se espalhando rapidamente, fazendo com que muita gente se deslocasse para o local do acidente, o que nos dificultou em certa parte o nosso trabalho, a equipa médica ia fazendo de tudo para salvar a pequena Patrícia, mas de nada valeram todos os nossos esforços. Depois de largos minutos de reanimação, chegou-se à conclusão de que dada a gravidade dos ferimentos, nada mais se podia fazer.
A violĂȘncia do impacto foi muito grande, o que levou a que a menina fosse projectada contra um automĂłvel que se encontrava ali estacionado, provocando lesĂ”es completamente irreversĂ­veis, e que se revelaram fatais.

Dia e local do acidente
Foi para mim um pouco complicado gerir as emoçÔes, não só por conhecer minimamente a menina, mas principalmente porque mais uma vida humana se perdia, e ainda por cima a vida de uma criança, mais uma criança, que não tem culpa de nada, e acaba por perder a vida de forma trågica.
Mais tarde vim a saber como aconteceu o acidente, a PatrĂ­cia saiu do autocarro e começou a atravessar a estrada, quando de repente apareceu a moto que acabou por nĂŁo conseguir desviar-se, embatendo com violĂȘncia na menina. O avĂŽ do outro lado da rua, assistia a tudo, incrĂ©dulo, sem poder fazer nada. A violĂȘncia do embate foi tĂŁo grande, que a moto acabou por ir parar a quase cem metros Ă  frente.


Esta estrada jĂĄ Ă© conhecida pela "estrada da morte", e muito sinceramente nĂŁo sei se este tipo de acidentes algum dia vai parar. Os condutores continuam a conduzir a velocidades proibidas, os peĂ”es nem sempre tĂȘm o cuidado devido a atravessar a rua, jĂĄ a estrada por si sĂł tem pouca sinalização, e em muitos locais onde deveriam existir passadeiras para peĂ”es, simplesmente nĂŁo existem, e como se nĂŁo bastasse tudo isto, somos confrontados com paragens de autocarro localizadas praticamente em "cima" das curvas.
Tudo isto a juntar aos quase 30.000 utilizadores diĂĄrios que nela circulam, em pouco mais de 14 quilĂłmetros.
Penso que estĂĄ na hora de dizer "Basta", acho que estĂĄ na hora de alguĂ©m fazer alguma coisa, jĂĄ o fiz em posts anteriores e volto a fazĂȘ-lo neste, acho que estĂĄ na hora dos nossos governantes olharem para este troço com preocupação, pois nĂŁo Ă© normal os acidentes que nesta via acontecem, desde despistes, atropelamentos, a colisĂ”es. Para tudo hĂĄ solução, menos para a morte de todas estas pessoas, por isso Srs. autarcas hĂĄ que "meter os pĂ©s ao caminho" e fazer alguma coisa, ou sĂł o sabem fazer  quando precisam de votos eleitorais???
Pode-se fazer muita coisa nesta estrada e por pouco dinheiro, mas penso que quando se trata de salvar vidas humanas nĂŁo se deve olhar a gastos. Lembrem-se que "amanhĂŁ" podem ser vocĂȘs a sofrer um acidente nesta estrada, ou entĂŁo ainda pior, pode ser um filho vosso a ser atropelado como foi a pequena PatrĂ­cia.
Sinceramente dou por mim a pensar "que mais serå preciso acontecer, para que se faça alguma coisa?"
             
                   SERÁ QUE QUEREM FICAR COM O PESO NA CONSCIÊNCIA???



Aos pais da pequena PatrĂ­cia, quero deixar aqui uma palavra de conforto, e acreditem que todos os que estiveram envolvidos no socorro da vossa filha, fizeram tudo para a salvar, mas infelizmente pouco ou nada havia a fazer. A PatrĂ­cia Ă© neste momento um anjo  no cĂ©u a olhar por todos nĂłs, por isso tenham muita força para aguentar a dor de tal perda, e tentem viver tudo aquilo que a PatrĂ­cia queria que vocĂȘs vivessem.
E nunca se esqueçam que a vossa dor, em certa parte Ă© tambĂ©m a nossa dor, Ă© uma dor diferente, Ă© uma dor revoltante por nĂŁo se ter conseguido fazer mais, Ă© uma dor de impotĂȘncia, Ă© uma dor que fica para sempre e que Ă© sentida com mais força em cada situação que intervimos, pois todas as memĂłrias  passam novamente por nĂłs.

Para os pais da PatrĂ­cia, JosĂ© Soares e FĂĄtima Soares, a minha palavra amiga e o meu conforto dentro do possĂ­vel, e tambĂ©m o meu agradecimento pela autorização para que eu pudesse escrever sobre este acidente. A PatrĂ­cia com toda a certeza que iria gostar de ser recordada desta forma. Obrigado e muita força para vocĂȘs.


                                                                  Ana PatrĂ­cia Borges
                                                             Uma estrela a brilhar no cĂ©u




7 comentĂĄrios:

  1. fiquei sem palavras ;(
    deve ser sem dĂșvida uma dor horrĂ­vel perder um filho e ainda mais nestas situaçÔes
    Nós somos condutores e também somos peÔes e por vezes não pensamos nisso
    continuamos a ser irresponsĂĄveis todos os dias
    infelizmente existe muitas Patricias por este mundo fora ;(
    sofia ;)

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  2. sem duvida alguma que serå sempre uma estrela que nos acompanha e um anjo no céu a olhar por nos.
    nunca serĂĄs esquecida prima.
    lembrar-nos-emos sempre de ti meu anjo.

    Andreia Coelho

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    Respostas
    1. NĂŁo duvides disso Andreia, pois a PatrĂ­cia nunca serĂĄ esquecida.

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  3. E complicado entender assim uma perda . Era uma menina perfeita em tudo. Foi complicado chegar lå ao pé dela e nao poder fazer nada .
    Agora és o nosso anjo da guarda e a estrela que mais brilha no céu . Alexandrina dias

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