Das "muitas centenas" de tremores de terra, só 28 foram sentidos pela população da zona central da ilha de São Miguel
A crise sísmica que está a afetar desde ontem a zona central da ilha de São Miguel, nos Açores, entre a Serra da Água de Pau e a Lagoa do Congro, "deverá durar alguns dias, mas é expectável que a sua intensidade diminua nas próximas horas e ao longo dos próximos dias, e que a situação não se prolongue por meses", disse ao DN o presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Miguel Miranda. O facto de esta crise sísmica ocorrer numa zona bastante delimitada da ilha "aponta nesse sentido", sublinha o especialista.
Ontem ao fim da tarde, o CIVISA, Observatório Vulcanológico e Sismológico da Universidade dos Açores, que assegura em permanência a monitorização e vigilância dos riscos geológicos dos Açores, já registava "um ligeiro decréscimo da atividade sísmica", como adiantou ao DN Teresa Ferreira, investigadora daquele organismo. A situação vai continuar, no entanto, a ser acompanhada e os dois especialistas alertam para que a população deve permanecer atenta às indicações do serviço regional de proteção civil. Este, bem como o governo regional, estão a acompanhar a situação em permanência (ver texto ao lado).
A atividade sísmica intensificou-se na zona central da ilha de São Miguel pelas 23.47 de domingo (hora local) e desde então já "foram registadas muitas centenas de de microssismos" na zona - a sua contabilidade final ainda estava ontem, ao fim do dia, a ser concluída pelos investigadores do CIVISA.
"Só 28 destes sismos foram sentidos pela população residente entre Água de Pau e Povoação, na costa Sul, e entre Rabo de Peixe e Fenais da Ajuda, na costa Norte", adiantou ainda Teresa Ferreira. "O mais intenso de todos tremores de terra registados atingiu 3,1 na escala de Richter e ocorreu às 06.18 [de ontem], e o último que foi sentido ocorreu ainda durante a manhã, às 11.25", especificou a investigadora.
Os dados recolhidos pelo CIVISA mostram que esta crise sísmica está associada a um sistema regional de falhas que atravessa a ilha, com uma direção Noroeste-Sudeste, que tem sido fonte nas últimas décadas de vários picos de atividade sísmica.
Um deles ocorreu em 2005 e prolongou-se por cerca de quatro meses. Também em 2007 e em 2011 se registou uma atividade sísmica acima do normal naquela mesma zona da ilha, mas tanto num caso como noutro foram situações de menor intensidade e duração, em relação a 2005.
Sobre a atual crise sísmica "não é possível fazer previsões", diz Teresa Ferreira. "Há um ligeiro decréscimo da atividade, e não existem neste momento alterações ao nível dos sistemas vulcânicos da zona", adianta. O que se observa, diz, "é um padrão tectónico, em que estão a ocorrer fraturas nas rochas deste sistema de falhas". Mas, afirma, "continuamos a monitorizar e a acompanhar a situação, nunca esquecendo que estamos numa região vulcânica ativa, e que temos de estar atentos a eventuais alterações nos sistemas vulcânicos".
Para já não existe nenhum sinal nesse sentido e a intensidade dos sismos permanece baixa, o que implica que também não existe nenhum risco de tsunami.
Situado numa zona de confluência de três placas tectónicas - a Eurasiática, a Africana e a Americana - o arquipélago dos Açores é uma região de grande sismicidade.
Na prática - e mesmo que de forma indireta em relação à presente crise sísmica -, o movimento de afastamento entre as placas funciona como motor para a alta sismicidade na região, e nomeadamente na ilha de São Miguel. "A placa africana e a placa eurasiática estão ali a afastar-se uma da outra a uma velocidade de cerca de cinco milímetros ao ano", diz Miguel Miranda.
Fonte: DN
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