Sete sapadores espanhóis combateram fogo com fogo e evitaram o pior em Vila de Rei - VIDA DE BOMBEIRO

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terça-feira, 22 de agosto de 2017

Sete sapadores espanhóis combateram fogo com fogo e evitaram o pior em Vila de Rei


Militares de Madrid protegeram o Penedo durante a madrugada, ateando um grande fogo de forma controlada ao redor da aldeia.

As chamas, com várias dezenas de metros de altura, faziam antever o pior. A menos de um quilómetro das casas, o fogo uivava e agarrava-se aos eucaliptos e pinheiros, pintando um quadro assustador. 

De longe, habitantes do Penedo, uma pequena aldeia do concelho de Vila de Rei, assistiam com preocupação ao evoluir daquela parede de lume. Passavam alguns minutos das 4h da manhã e o incêndio permanecia ativo com várias frentes, ameaçando também três outras aldeias de Mação do outro lado das encostas.

Enquanto aquilo parecia um apocalipse ao olhar menos experiente, aquela frente tão agressiva tinha algo de diferente ao olhar mais entendido no assunto. Aquele fogo era, na verdade, um contra-fogo ateado pelos militares espanhóis da Unidad Militar de Emergencias (UME), que têm combatido as chamas em Vila de Rei ao abrigo de protocolos de cooperação europeus. Mais propriamente por um grupo de apenas sete militares da unidade apelidada de BIEM I, apoiados por um grupo viaturas pesadas que se contavam pelos dedos de uma mão e um jipe.

“Está tudo controlado”, disse um dos militares à Tomar TV que acompanhava a situação com alguma distância, questionado numa altura em que o fogo parecia avançar em direção à aldeia do Penedo. A técnica é conhecida por fogo de supressão. Em traços gerais, os bombeiros ateiam um fogo controlado que avança em direção à frente de fogo que arde de forma descontrolada. Ao encontrarem-se, ambos os fogos perdem intensidade e evita-se o pior. Caso contrário, aquela área poderia arder descontroladamente e ameaçar seriamente os habitantes do Penedo que, apesar da ordem de evacuação, decidiram ali permanecer, junto das suas terras e dos seus bens.

A dada altura, surge uma ordem: “Está a 50%. Dá-lhe velocidade.” Numa questão de segundos, o fogo começou a evoluir. As labaredas aumentaram e começaram a deslocar-se para a esquerda. Ao fundo escutava-se o estalar da madeira, o mato a ser consumido, as chamas a ganharem nova dimensão. Tudo sob o princípio de que o que já ardeu, tão facilmente não volta a ser ateado.

A Tomar TV testemunhou o recurso a esta técnica em duas ocasiões durante a tarde de segunda-feira e na madrugada de terça. Antes, já a equipa de reportagem no terreno tinha estado com a unidade BIEM V do município espanhol de Leão. Aconteceu junto a uma estrada nacional, em que um pequeno grupo de militares, em conjunto com os Bombeiros Voluntários de Vila de Rei, realizavam as últimas diligências de contra-fogo, evitando que o incêndio se propagasse para a periferia da vila.

Em ambas as ocasiões, a metodologia dos bombeiros espanhóis, que usam mais fogo do que água, mostrou-se bastante eficaz na travagem do fogo. No entanto, o fogo de supressão é um tema polémico em Portugal. Desde 2009 que os bombeiros portugueses tem regras apertadas nesta matéria, podendo incorrer em responsabilidade criminal. Segundo uma notícia do jornal Correio da Manhã de junho de 2009, para o fazerem “é necessária autorização superior e exigida presença, sempre que possível, de um técnico da Autoridade Florestal Nacional”.

Já ao Diário de Notícias, o então presidente do Concelho Nacional Operacional, José Campos, disse mesmo que a nova lei era “prejudicial”. “Só vem complicar e pode até causar algumas fricções”, afirmou. Desde então, a técnica terá caído em desuso em situações de emergência no território nacional.

Reportagem no local por Flávio Nunes, Tomás Duran, Orlando Oliveira e Rúben Gameiro.
http://tomartv.com/

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