Dizem-nos para aproveitar as Ășltimas oportunidades relativas a eventual apoio a investimento em equipamentos e infra-estruturas por via das verbas comunitĂĄrias canalizadas atravĂ©s do Quadro de ReferĂȘncia EstratĂ©gico Nacional (QREN).
Ao que parece serão de facto bem poucas caso se confirme uma verba de apenas 10 milhÔes de euros para tudo o que diga respeito aos bombeiros.
Nos Ășltimos 15 anos assistimos a uma diminuição acentuada da participação directa do Orçamento do Estado (OE) e a um crescente recurso Ă s verbas comunitĂĄrias. De inĂcio, essas verbas nem estariam disponĂveis para os bombeiros mas o seu poder reivindicativo conseguiu inverter a situação. Contudo, foi-se tambĂ©m assistindo, na verdade, proporcionalmente, Ă retirada do OE do processo.
Hoje, a dependĂȘncia do QREN e de outros apoios comunitĂĄrios Ă© praticamente total e muito perigosa.
Em qualquer sociedade, a monocultura foi sempre vista como perigosa, com vulnerabilidades evidentes e riscos muito grandes.
Ă assim que estamos hoje e Ă© para esse estado de coisas que a Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) vem alertando nos Ășltimos anos as entidades pĂșblicas.
Como vai ser quando o QREN acabar? E, se não acabar, com quanto vai ficar? E, se não ficar, como é que o Estado vai abordar a situação?
Vão longe os tempos dos planos de reequipamento anual dos bombeiros, para cuja importùncia e função a LBP nunca deixa de chamar a atenção. Planos em que com critérios e parcimónia, se procurava contemplar as necessidades dos bombeiros através do OE, mesmo se ainda aquém das necessidades identificadas.
Eram tempos em que, complementarmente, muitas associaçÔes conseguiam também ir suprindo outras dificuldades.
Quem nĂŁo tinha PEM do INEM, com a respectiva ambulĂąncia, recebia do Estado uma viatura equivalente.
Hoje, o INEM hĂĄ muito alterou o perĂodo de vigĂȘncia das ambulĂąncias nas associaçÔes, sem a respectiva substituição por novas no prazo acordado e, jĂĄ nĂŁo deixando as antigas na associação, ao contrĂĄrio do passado.
Hoje, até assistimos à criação de novos PEM com a entrega de ambulùncias com peso nos anos e nos quilómetros percorridos.
Longe, muito longe, vai o tempo em que o INEM chegou a entregar segundas ambulĂąncias de reserva onde jĂĄ tinha PEM.
Para muita gente hoje tudo se explica com a crise mas, apesar de tudo, acredito que a crise também não explica tudo.
Dizem-nos que se nĂŁo houvesse QREN seria bem pior. EntĂŁo, como seria?
A meu ver, a questĂŁo estĂĄ e esteve sempre muito para alĂ©m do QREN. Por absurdo, a reflexĂŁo que se impĂ”e pode ter a ver com os apoios e com a prĂłpria existĂȘncia dos bombeiros, e em que condiçÔes.
à falta de equipamento adequado, que tal pensar sobre o retorno à bomba braçal de outros tempos e o recurso aos muares que em determinado altura também passaram a puxar as ditas bombas e outros equipamentos de antanho?
A LBP tem dito e redito que as associaçÔes estĂŁo exauridas e que as exigĂȘncias crescentes que sobre elas pendem estĂŁo em relação diametralmente oposta com os apoios recebidos, nĂŁo sĂł destinados ao prĂłprio equipamento, como tambĂ©m para acompanhar as exigĂȘncias que correspondam aos novos equipamentos.
O anunciado fim do QREN e a prĂłxima drĂĄstica diminuição dos recursos que dele resultam sĂŁo bons alertas para uma profunda anĂĄlise sobre o que fazer no futuro prĂłximo, que jĂĄ Ă© amanhĂŁ, para que nĂŁo se chegue a atingir o beco sem saĂda.
Um bom exercĂcio no sentido de repensar tudo, por exemplo, serĂĄ analisar com o detalhe e a profundidade devida as verbas empregues na ANPC.
Lembram, por certo, de uma estrutura que existiu no passado chamada SNB. Serviço tão reivindicado pelos Bombeiros e que mais tarde eles foram descobrindo que o que tinham pensado e defendido, afinal, jå não era. E que, o serviço que tinha como função båsica servir de distribuidor das verbas recolhidas para os bombeiros praticamente na totalidade paulatinamente se ia apropriando delas também para o seu próprio funcionamento.
Quantas artimanhas administrativas se foram montando entretanto para legitimar essa cativação crescente? E quantas outras foram também montadas para ir reduzindo proporcionalmente o peso do Estado para justificar progressivamente essa cativação?
Muitos dizem hoje que o que, bem intencionados, reivindicĂĄmos e ajudĂĄmos a criar no passado, afinal, transformou-se num monstro administrativo ĂĄvido de consumir a prĂłpria paternidade, apagar as origens e responsabilidades para com elas e ganhar dimensĂŁo prĂłpria e avidez correspondente sĂł comparĂĄvel a uma qualquer mĂtica hidra de sete cabeças.
Mal sabiam os bombeiros que, ao criarem o SNB, mais tarde estariam a ser alvo da abertura de uma qualquer caixa de Pandora.
E ainda nem se falava do QREN, do seu previsĂvel fim e no que viria a seguir.
Rui Rama da Silva