Perdoem-me a citação em latim, porventura pretensiosa, mas que serve para recuar às origens de factos ocorridos e sinalizar uma história verdadeira, da realidade da vida, da tradição e da história universal.
Do fundo do baú, no meio dos livros de latim e grego que fui obrigado a trilhar, surge um acontecimento histórico que, em síntese, nos demonstra, acima de tudo, que a história, não só não se repete, como nem se rebobina nem volta atrás.
A expressão latina “Alea jacta est” tem merecido várias traduções ou leituras. “Os dados estão lançados” é uma delas. “A sorte está lançada” é outra. No fundo, sempre assente na lógica da irreversibilidade e da importância da decisão tomada e dos riscos assumidos.
O facto aconteceu. A frase é atribuída a Júlio César ao tomar a decisão de não voltar atrás para atravessar o rio Rubicão com as suas legiões, em terras que hoje delimitam a fronteira norte da Itália, afrontando o poder de Roma e o Senado.
A questão em apreço está, não só na vontade nem apenas no desejo, mas no próprio valor da decisão, no atrevimento em fazê-lo, na coragem em assumir que, como é comum dizer-se, nada será como dantes a partir dela.
Assim estão também os bombeiros, depois da discussão e das decisões tomadas em congresso, quer, para prosseguir o trabalho já iniciado, mas agora em novos patamares e etapas, quer para, a par disso, avançar para novos desafios também traçados e anunciados no congresso.
O grito de Júlio César, transposto para o actual momento dos Bombeiros Portugueses, traduz a irreversibilidade, a convicção das decisões tomadas sobre o seu futuro e, pelo ímpeto e conteúdo, afasta totalmente a possibilidade de recuar ou voltar atrás.
Em abono da verdade, é isso que os bombeiros portugueses já fazem todos os dias na sua missão de prestar socorro. A heroicidade e capacidade técnica aplicadas pelos bombeiros no socorro quantas vezes tornam o andamento da sua acção, forçosamente rápido, exigente e também irreversível. Há manobras e decisões que depois de tomadas, pese embora os riscos assumidos para socorrista e socorrido, não poderão ser anuladas.
É isso que torna os bombeiros, nem melhores, nem piores, mas diferentes, claramente diferentes. Muitos gostariam de ser como eles, mas não são. O facto é esse. Não basta gostar. É preciso querer e saber decidir.
Para os bombeiros, sempre que a sua intervenção é precisa, o lema é “Vida por Vida”. Por que não, também, “Alea jacta est”.
Fonte: Jornal Bombeiros de Portugal