"Menina Morre Nos Meus Braços" - VIDA DE BOMBEIRO

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domingo, 2 de fevereiro de 2014

"Menina Morre Nos Meus Braços"


27 de Janeiro de 2013


Foi à pouco mais de um ano que um violento incêndio consumiu uma boate em Santa Maria, Rio Grande do Sul no Brasil. Este incêndio provocou 232 mortos e 131 feridos, alguns deles deixam aqui o seu testemunho dos horrores vividos naquele dia.

- "Foi um horror. Perdi um amigo muito próximo. As saídas de emergência eram insuficientes; perdi o meu amigo de vista na confusão e uma menina morreu nos meus braços. Senti quando o seu coração parou de bater. Só tinha visto isso no cinema. As barreiras de metal usadas para organizar as filas de espera bloquearam a evacuação. As pessoas empurravam-se e caíam umas por cima de outras. Ajudei a levantar as barreiras. Os bombeiros também se intoxicavam com o fumo. Mesmo correndo riscos, as pessoas entravam na boate para tentar salvar vidas. As ambulâncias não davam conta do número de feridos. Não conseguimos usar a saída de emergência. Os que estavam no fundo da boate ficaram presos", contou o dentista Mattheus Bortolotto.

- "Gritamos: 'fogo, fogo', mas o segurança abriu os braços para manter a porta fechada. Umas cinco ou seis pessoas derrubaram o segurança e a porta. Era a única saída", disse Murilo de Toledo Tiecher.

- "Toda a gente empurrava, foi uma questão de segundos. O fogo era pouco, mas, em questão de segundos, espalhou-se", contou Taynne Vendrusculo.

- "A banda tocava na festa, quando vi que iriam fazer um espectáculo pirotécnico. Foi aí que uma faísca iniciou o fogo no tecto. Íamos procurar o extintor para apagá-lo, mas, quando vimos, todo o local já estava em chamas. Pedimos às pessoas que saíssem, tinha muita gente ali dentro. Durante o tumulto, começaram a ser pisadas, atropeladas umas pelas outras. Tentamos resgatar pessoas, mas algumas tinham 80% do corpo queimado e não resistiram", disse o segurança Rodrigo.

- "Como eu estava perto da porta, graças a Deus saí a correr, e em cinco minutos estava do lado de fora. Uma pessoa me chamou para tirar fotos na área VIP, por isso eu estava ali, tinha uma visão melhor. Normalmente, fico no meio das pessoas, foi sorte. Achei que fossem apenas um fogos pequenos, ouvi a gritaria e achei que fosse uma briga. Foi quando ouvi gritarem: 'fogo!', vi o fumo e saí a correr", descreveu a fotógrafa Fernanda Bona.

O incêndio na boate Kiss foi um acidente que matou 242 pessoas e feriu 116 outras  numa discoteca da cidade de Santa Maria, no estado brasileiro do Rio Grande do Sul. O incêndio ocorreu na madrugada do dia 27 de Janeiro de 2013 e foi causado pelo acendimento de um sinalizador por um integrante de uma banda que se apresentava na casa nocturna. A imprudência e as más condições de segurança ocasionaram a morte de mais de duas centenas de pessoas.
O sinistro foi considerado a segunda maior tragédia no Brasil em número de vítimas  num incêndio, sendo superado apenas pela tragédia do Gran Circus Norte-Americano, ocorrida em 1961, em Niterói, que vitimou 503 pessoas; e teve características semelhantes às do incêndio ocorrido na Argentina, em 2004, na discoteca República Cromañón. Classificou-se também como a quinta maior tragédia da história do Brasil, a maior do Rio Grande do Sul, a de maior número de mortos nos últimos cinquenta anos no Brasil e o terceiro maior desastre em casas nocturnas no mundo.
Procedeu-se a uma investigação para a apuração das responsabilidades dos envolvidos, dentre eles os integrantes da banda, os donos da casa nocturna e o poder público. O incêndio iniciou um debate no Brasil sobre a segurança e o uso de efeitos pirotécnicos em ambientes fechados com grande quantidade de pessoas. A responsabilidade da fiscalização dos locais também foi debatida na mídia. Houve manifestações em toda a imprensa nacional e mundial, que variaram de mensagens de solidariedade a críticas sobre as condições das boates no país e a omissão das autoridades.
O inquérito policial apontou muitos responsáveis pelo acidente, mas poucos foram denunciados pelo Ministério Público à Justiça. O inquérito policial-militar, por sua vez, foi condescendente com os bombeiros envolvidos no caso. A Justiça instaurou um processo e começou a ouvir depoimentos como preparação para o julgamento, porém os sobreviventes e parentes dos mortos receavam que a impunidade fosse a tónica do evento criminoso. De fato, os servidores civis e militares, bem como as autoridades públicas, corriam pouco risco de sofrerem punições.


O incêndio teve ao todo 242 vítimas fatais. Destas, 235 morreram no dia do incêndio, a maioria asfixiada pelo fumo que tomou conta do ambiente interno, e sete nos meses seguintes, após atendimento hospitalar. Diversas vítimas fatais, entre elas oito militares, participaram no resgate de vítimas inconscientes da boate. Bombeiros relataram que, ao retirarem os corpos, ouviram os telemóveis das vítimas tocarem "ininterruptamente", significando que os seus parentes e amigos tentavam comunicar entre si. 
Devido à grande quantidade de vítimas, os bombeiros tiveram que recorrer a camiões frigoríficos para transportarem os corpos até o Centro Desportivo Municipal Miguel Sevi Viero, onde profissionais de diversas áreas reuniram-se como voluntários para prestarem assistência às autoridades e aos parentes das vítimas.




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