Hoje é um daqueles dias em que dou por mim a pensar se devo ou não escrever isto, mas depois de muito reflectir, chego à conclusão que o devo fazer.
A semana começou um pouco "estranha" e os sentimentos falam mais alto.
Dou por mim a pensar no que será da minha vida daqui a uns anos, se terei saúde, se conseguirei ser autónomo sem dar trabalho aos meus filhos, ou se terei que ficar "enfiado" num lar ou noutro tipo de assistência social.
Devem-se estar a perguntar o porquê de tudo isto, e têm toda a razão para o fazer, mas vou-vos contar.
Como já escrevi noutros textos anteriores, nós somos humanos como toda a gente, e temos sentimentos como a maioria das pessoas, e daí não conseguir ficar indiferente ao que vivi hoje.
Poderia ser uma urgência como outra qualquer, mas ficou-me na retina por um simples pormenor.
Fomos accionados para uma doença súbita em que nos deram indicações de que seria um doente oncológico com perda de sangue, pela urina.
Depois de fazer a respectiva avaliação à nossa vitima, consegui ficar a saber pelos vizinhos que este doente era portador de cancro na bexiga. O homem vivia sozinho numa casa onde as condições eram poucas ou nenhumas, e simplesmente é seguido por uma instituição social.
Depois de avaliar todos os parâmetros vitais, demos inicio à nossa viagem até ao hospital, tinha a indicação de que um filho do doente estaria lá à sua espera.
Quando lá chegámos, lá estava o filho à espera deste pobre homem, cumprimentaram-se e trocaram duas ou três palavras.
Passados uns minutos, foi chamado para ir à triagem e eu, fiz questão que o filho o acompanhasse, pensando eu que este saberia muito mais do seu historial clínico.
Para meu espanto, depois de eu ter feito toda a passagem de dados ao enfermeiro da triagem, este perguntou ao filho qual era afinal a doença que o pai tinha ao certo, ao qual o mesmo respondeu:
"peço desculpa mas eu não sei, não estou muito por dentro do assunto".
Acreditem, isto criou em mim uma enorme tristeza, uma tristeza por aquele homem não ter consigo alguém que cuide de si como deve ser, alguém que cuide de si como ele provavelmente já criou em anos transactos, alguém que cuide de si como um ser humano deve ser cuidado.
Esta tristeza levou-me também a pensar no que será de muitos e muitos doentes que se encontrarão em situação igual ou idêntica, levou-me a pensar se daqui a uns anos serei eu numa situação destas, quero pensar que não, pois educo os meus filhos para serem bons homens, bons seres humanos, pessoas com sentimentos, porque apesar de tudo, seja um bom pai ou não, serei sempre o pai dos meus filhos.
Espero que me perdoem o meu desabafo, mas não consegui ficar indiferente, como disse no inicio, sou humano, tenho sentimentos, e por muito que se queira existem muitas coisas que não conseguimos simplesmente "deitar para trás das costas" e seguir em frente.
Sei que tenho uma profissão que exige de mim sigilo profissional, mas por isso mesmo não coloco nomes nem moradas, mas não consigo engolir certas coisas que se faz aos idosos, porque hoje são eles, mas amanhã seremos nós.
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