Jovem Pai Morre para Salvar a Filha de 6 Anos - VIDA DE BOMBEIRO

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domingo, 6 de outubro de 2013

Jovem Pai Morre para Salvar a Filha de 6 Anos


7 de Julho de 2013

Estava um dia quente de Verão, com as temperaturas a rondar os 40 graus, eu estava a fazer reforço aos incêndios florestais pois o nosso distrito encontrava-se em alerta laranja. O dia até tinha sido calmo dado o calor que se fazia sentir, pois só tínhamos tido um pequeno incêndio.
Nesse dia além de chefe de equipa da equipa de reforço era também o elemento mais graduado no quartel, e por volta das seis e meia da tarde chega um telefonema à nossa central em que nos era dito que alguém se tinha afogado na albufeira do Torrão.
De imediato se fez deslocar para o local duas ambulâncias e o bote de salvamento. Enquanto íamos a caminho do local muita coisa me foi passando pela cabeça, e rapidamente me vieram à memoria duas situações que tinha vivido naquele local, uma em que dois jovens tinham perdido a vida quando o barco em que andavam se virou, e outra de um pai que para salvar o filho acabou por se afogar.
Pelo caminho fomos apanhando algum transito pois era fim de tarde de Domingo, a sirene do VCOT ia abrindo caminho por entre carros de um lado e do outro, e não sei porquê dei por mim a sentir um arrepio por todo o corpo, sentia uma grande ansiedade em chegar ao local, sentia que algo de muito grave  tinha acontecido.
E quando chegamos ao local o meu pressentimento não me enganou, pois um homem de 33 anos tinha-se afogado para salvar a filha de seis anos apenas.
Uma vez mais, um pai perde a vida neste mesmo local, para salvar um filho.


Imediatamente após a chegada, enquanto uns colocavam o barco na água, eu fui-me inteirar do que tinha acontecido ao certo, e para minha desolação fui encontrar a esposa da vitima com a filha no seu colo sentadas na margem do rio, completamente imóveis a olhar para o rio onde o homem se tinha afogado.
Muito delicadamente me dirigi à sra. e lhe perguntei se estava bem, simplesmente não me respondeu, não se mexeu sequer e continuou incrédula a olhar para o rio, aproximei-me um pouco mais e tentei chamar a sua atenção, e aí sim já olhou para mim, voltei a perguntar como estava, ao qual me respondeu num sussurro, "estou bem, o meu marido salvou a minha filha mas afogou-se".
Olhei de relance à minha volta, o bote já estava na agua, os meus camaradas que tinham ido nas ambulâncias estavam a chegar junto de nós, confesso que fiquei um pouco aturdido com aquela resposta, mas pior fiquei quando a menina de apenas 6 anos olha para mim e me diz, "sr. bombeiro o meu pai salvou-me, eu gosto muito do meu pai".
Só quem passa ou já passou por uma situação destas, sabe o que nos passa na alma numa hora destas, fiquei completamente comovido com aquelas palavras, muito delicadamente pedi à sra. para acompanhar os meus colegas até à ambulância, porque ali não era o melhor sitio para estar com a filha, e de imediato aceitou a minha sugestão, os mirones no local eram imensos, consegui apurar mais ou menos o local onde se tinha afogado e dei a indicação para o bote dessa mesma localização. Infelizmente já nada se podia fazer, e passados alguns minutos recebia a indicação dos colegas do bote que, não havia sinal de ninguém.


Pouco tempo depois começavam a chegar familiares da vitima ao local, as autoridades também já estavam presentes e começavam a efectuar diligencias para tentar apurar ao certo o que se tinha passado, viemos a saber mais tarde, que o homem andava a nadar com a filha às costas, e que subitamente se terá atrapalhado com alguma coisa e já só teve tempo de entregar a menina há mãe que ao aperceber-se do que estava a acontecer ainda teve tempo de agarrar a filha e tirá-la da agua.
Apesar de esta ser uma situação como muitas outras que acontecem por esse país fora, não consegui ficar indiferente ao que ali se tinha passado, guardo na minha memória as imagens da hora em que cheguei ao local, mãe e filha sentadas numa toalha junto à margem a olhar para o rio, a olhar para o local onde o marido e pai, acabara de dar a vida pela filha. Olhavam para o rio como se estivessem à espera que milagrosamente o homem dali saísse a qualquer momento, à sua volta, todos os acessórios necessários para uma tarde bem passada em família, uma lancheira, uma arca de bebidas, protector solar e uma bóia que supostamente seria para a menina.


O sentimento de impotência era geral em todos os envolvidos, infelizmente nada se podia fazer a não ser aguardar a chegada dos mergulhadores para procurarem e resgatarem o corpo, na nossa ambulância, continuavam mãe e filha completamente desoladas, uma tarde que deveria ser de alegria em família, acabou por ser uma tarde de tragédia e sofrimento.  Conseguia ver um brilho fora do normal nos olhos da menina, brilho esse que ia ao encontro das palavras que me tinha dito e que continuavam a "martelar-me" na cabeça, "o meu pai salvou-me, eu gosto muito do meu pai", aquela criança de apenas seis anos, tinha a noção do que o pai tinha acabado de fazer por ela, tinha a noção que nunca mais voltaria a ir para o rio com ele, que nunca mais iria brincar com ele, mas consegui perceber que tinha a noção que nunca mais o veria com  vida, quando se virou para um dos agentes da GNR e lhe disse, "o meu pai é um herói".
Acreditem, não consegui manter-me mais tempo ali junto deles, e percebi que para o agente da GNR também não foi nada fácil continuar a fazer o seu trabalho dada a emoção que aquelas palavras provocaram em todos nós.
Era um turbilhão de sentimentos que vivia naquela hora, apesar de não conhecer a pessoa em questão não consegui ficar indiferente ao que ali tinha acontecido, este era verdadeiramente um grande Pai, era um pai que fazia tudo pela filha, incluindo dar a vida por ela, era um pai que amava a sua filha acima de tudo e de todas as coisas, pois para mim não há maior prova de amor do que dar a vida por quem amamos. Este era com toda a certeza um grande Herói.
Passado pouco mais de uma hora, chegavam os mergulhadores, equiparam-se e prepararam-se para começar as buscas.


Infelizmente a noite começou a cair e depois de duas tentativas de mergulho que não surtiram efeito, chegou-se à conclusão que as buscas seriam suspensas até ao dia seguinte.
Já no dia seguinte logo pela manhã deu-se inicio às buscas e passado pouco mais de meia hora, era encontrado o homem que tinha dado a sua vida pela da filha.
Como disse anteriormente esta é uma situação como muitas outras, mas a mim marcou-me muito pelo acto de coragem e de amor que este pai teve com a filha, eu não tenho a menor duvida que qualquer pai ou mãe que se digne de ser chamado de pai ou mãe, faria exactamente a mesma coisa pelo seu filho.
O que mais me custa, é saber que existe uma menina com apenas seis anos, que nunca mais voltará a ver o seu "Herói".

"o meu pai salvou-me, eu gosto muito do meu pai"

Posso passar um milhão de vezes naquele local, que de todas as vezes me lembrarei destas palavras.
Descansa em Paz grande Herói, e obrigado pelo acto de amor que comprova que felizmente ainda existem bons pais e mães neste mundo de loucura.














2 comentários:

  1. Um verdadeiro PAI! que agora é um anjo que olha por sua filha bem lá do alto! Junto de todos os Heróis que descanse em PAZ.

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  2. Fui eu que atendi a chamada para esta ocorrência no CDOS, tudo foi muito estranho. Desde que só houve uma chamada, coisa muito rara nestas ocasiões, até que a pessoa que ligou não sabia dizer nome da praia, barragem, ou mesmo se estavam no rio Douro ou num afluente. Infelizmente houve uma morte, se poderia ter sido evitada ou não com uma informação melhor, talvez...

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