30 de Agosto de 2006
Estava um dia quente de Verão, convidativo para uma ida à praia. As praias fluviais das zonas circundantes à nossa área de intervenção, estavam sempre muito concorridas nos últimos dias, devido às altas temperaturas que se faziam sentir.
Pouco passava das cinco da tarde, quando fomos alertados para um possível afogamento na albufeira da barragem do Torrão, a indicação que nos deram, foi a de que, um pequeno barco de borracha com três pessoas teria virado, e que nem todos os seus tripulantes tinham conseguido chegar a terra.
Rapidamente avançamos para o local com duas viaturas de emergência e com um bote de salvamento, em poucos minutos conseguimos colocar duas viaturas no local, mas rapidamente se percebeu que era tarde demais. Eu e o Mário, tivemos a missão de colocar o barco na agua e leva-lo até ao local, mas pouco havia a fazer.
Depois de colocarmos o barco na agua, rapidamente chegamos ao local do acidente, e veio-se a confirmar o que já se suspeitava, já pouco ou nada se podia fazer para salvar aquela vitima.
Infelizmente já não havia sinais deste homem, pai de dois filhos menores que estariam juntos com ele num pequeno barco de borracha, que por algum motivo virou, fazendo com que caíssem à agua. Um deles conseguiu nadar até à margem, o outro como não sabia nadar muito bem, o pai consegui ajudá-lo a chegar a terra, mas, por motivos que nos são alheios, depois de ter salvo o filho, afogou-se e nunca mais ninguém o viu. Morreu para salvar o filho.
Quando se chegou à conclusão que já nada podíamos fazer, solicitou-se ajuda aos sapadores do Porto, para que estes pudessem localizar e resgatar o corpo, dado não termos equipa de mergulho.
Foram minutos de muita angustia enquanto esperávamos que os sapadores chegassem, os filhos do homem afogado estavam em estado de choque, e não se mentalizavam do que lhes tinha acabado de acontecer. Mas nós não baixamos os braços, e enquanto não chegavam os sapadores, fomos tendo sempre elementos dentro de agua, elementos estes que têm o curso de nadadores-salvadores. Passados alguns minutos o Marco disse-me, "encontrei o homem, está mesmo aqui por baixo de mim". Rapidamente se transmitiu esta informação ao Sr. Comandante que se encontrava no local, e depois de se ter avaliado ao pormenor a situação, o Marco disse que conseguia resgatar o corpo para fora de agua.
Tomamos todas as providencias para se resgatar o corpo em segurança, o INEM já tinha uma equipa de psicólogos no local a dar apoio aos filhos e restante família, e demos inicio aos trabalhos de resgate.
Passados poucos minutos tínhamos o corpo de um homem com aparentemente 45 anos já na nossa maca, a esposa depois de reconhecer o corpo regressou para junto dos filhos, que estavam completamente desolados.
O mais pequeno a chorar dizia entre soluços, "o meu pai é um herói, morreu para me salvar".
Estas palavras ficaram gravadas na minha cabeça para sempre. Foi muito complicado gerir as emoções, apesar de sermos "treinados" para lidarmos com relativa facilidade com estas situações, para mim sempre que envolva crianças, fico sempre um pouco abalado. E para mim ver o sofrimento daquelas duas crianças, pela morte do pai, foi um pouco complicado. Sinceramente não consigo entender como há pais que conseguem fazer mal aos filhos, para mim como já disse em posts anteriores, essas pessoas não são dignas de ser chamadas de pais, porque não passam de pessoas covardes, que não têm escrúpulos.
Infelizmente nada pudemos fazer por este homem, pelos vistos era um homem que adorava os filhos e que tudo fazia por eles, e a prova disso mesmo é o acto de bravura que teve com o filho, se realmente alguém merece ser lembrado por um acto de amor, este homem merece ser lembrado todos os dias, a todas as horas.
Felizmente ainda existem pais que só querem o bem dos filhos, e este era um deles. Quando vemos todos os dias, noticias a entrar pelas nossas casas dentro, de pais que matam os filhos, eis que um, dá a vida pelo seu filho. Um acto heróico, que com toda a certeza o seu filho nunca irá esquecer.
É para mim muito difícil, imaginar a aflição que aquele homem passou e viveu nos seus últimos minutos de vida, mas tenho a certeza que morreu em paz, morreu em paz, porque sabe que cumpriu a sua última missão, a de salvar o filho.
Eu enquanto pai de dois filhos, espero nunca me ver numa situação semelhante, mas se por algum motivo o destino assim o entender, tudo farei para que os meus filhos fiquem bem, pois por eles faço tudo, e é essa a obrigação de um pai ou de uma mãe, proteger os filhos com a sua própria vida.
Com a chegada do calor, as pessoas normalmente começam a passar os fins de semana nas praias, rios ou piscinas, não se esqueçam que com as crianças todo o cuidado é pouco, e ao mais pequeno descuido a tragédia acontece.
Não deixem os vossos filhos sozinhos na agua, nem os deixem afastarem-se muito das margens, pois quando derem por ela, já pode ser tarde.
Lembre-se que enquanto atende o telemóvel, o seu filho pode morrer afogado.
A morte por afogamento é rápida e silenciosa
Lembre-se que enquanto atende o telemóvel, o seu filho pode morrer afogado.
A morte por afogamento é rápida e silenciosa
já passei por uma situação em que tive que regatar o corpo de uma criança de apenas 7 anos filho único!! comtemplar o sofrimento dos pais foi uma situação muito muito ruim
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