Há comandantes que transformam as redes sociais numa extensão do quartel.
Publicam tudo: TOs, viaturas milimetricamente alinhadas, operações, formações, medalhas, mudanças de equipamento, cada hora de serviço e cada opinião sobre incêndios.
E fazem bem.
A comunidade tem de ver o trabalho dos bombeiros, tem de perceber o esforço, o rigor, a dedicação.
Não sou contra isso pelo contrário, é importante que mostrem.
Mas é curioso e inquietante ver que a mesma presença tão ativa desaparece quando surgem situações realmente graves, aquelas que mexem com a dignidade da farda e que exigem postura pública.
É aí que muitos comandantes se retraem, se resguardam, se calam.
E é precisamente aqui que se pede coerência.
É pedir que quem tem sempre tanto para dizer sobre os bombeiros não desapareça exatamente quando os bombeiros mais precisam de uma posição clara.
Porque um comandante, nestes momentos, não precisa gritar, atacar ou apontar dedos.
Precisa apenas de dizer algo simples, firme e responsável:
“Estou atento. Isto não nos representa. E se algum dia acontecer aqui, eu falo, eu resolvo, a porta está aberta.”
Não é heroísmo.
É liderança.
É transmitir aos seus homens que não estão sozinhos, que não estão entregues ao silêncio, que alguém os protege mesmo quando o problema não nasce dentro da própria casa.
E também é uma mensagem para o país:
que a farda é uma só, de norte a sul, e que quem a lidera não se esconde quando ela é posta em causa.
O silêncio, nestas alturas, não é prudência.
É ausência.
E quem comanda sabe bem o peso que essa ausência tem dentro do próprio quartel.
Por isso, quem fala todos os dias de bombeiros deve manter a mesma postura quando ela mais faz falta.
A farda merece essa coerência.
E os bombeiros também.
PS: Como é que se fazem dois comunicados públicos em 48 horas e nem uma única linha é dedicada à vítima? Nenhum pedido de desculpa, nenhum sinal de apoio, nenhuma palavra sobre o seu estado. Num caso destes, o silêncio sobre quem sofreu é um retrato duro da cultura que ainda persiste: protege-se a instituição, esquece-se a pessoa. A vítima continua a ser o que nunca devia ser invisível, mas ela também faz parte da instituição.
Ariana Ribeiro

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