Nรฃo รฉ preciso um grande exercรญcio de anรกlise ou pesquisa comparada para perceber que Portugal รฉ um dos rarรญssimos paรญses do mundo onde as profissรตes de Tรฉcnico de Emergรชncia Mรฉdica, Tรฉcnico de Avanรงado de Emergรชncia Mรฉdica e Paramรฉdico continuam a nรฃo existir de forma estruturada, reconhecida e regulamentada. De resto, nรฃo existem de forma nenhuma.
Enquanto na generalidade dos paรญses desenvolvidos os paramรฉdicos sรฃo pilares fundamentais do serviรงo mรฉdico de emergรชncia - profissionais altamente treinados, com Educaรงรฃo e competรชncias clรญnicas avanรงadas -, por cรก, insiste-se numa espรฉcie de "faz-de-conta institucional", onde se simula um sistema moderno, sem nunca se lhe dar verdadeiramente corpo. Hรก quem tente, com boa vontade, improvisar. Outros, com discurso tรฉcnico, ensaiam simulaรงรตes. Mas a verdade รฉ uma sรณ: nem “brincar” aos paramรฉdicos se consegue fazer com coerรชncia.
E, como รฉ natural, os resultados fazem-se notar. Sรฃo visรญveis. Estรฃo documentados. E, muitas vezes, sรฃo trรกgicos. O que รฉ evidente, nรฃo carece de prova.
A Pergunta que Ninguรฉm Quer Responder:
Importa entรฃo perguntar: por que razรฃo Portugal ainda nรฃo tem Tรฉcnicos de Emergรชncia Mรฉdica, Tรฉcnicos de Avanรงado de Emergรชncia Mรฉdica e Paramรฉdicos, ร semelhanรงa do Reino Unido, Canadรก, Austrรกlia ou Estados Unidos? Entre dezenas de outros paรญses.
A resposta nรฃo estรก na falta de evidรชncia cientรญfica, nem tรฃo-pouco na ausรชncia de necessidade operacional. Muito menos se trata de um problema de vontade dos provedores de “socorro” ou dos cidadรฃos.
A resposta, embora incรณmoda, รฉ conhecida: hรก interesses que se levantam sempre que se fala em mudanรงa. Interesses institucionais, corporativos e atรฉ polรญticos, que parecem sistematicamente sobrepor-se ร lรณgica da saรบde pรบblica, da evidรชncia cientรญfica e, sobretudo, ร vida das pessoas.
ร mais confortรกvel manter o status quo, reciclar modelos ultrapassados e proclamar, com pompa e circunstรขncia, medidas paliativas. E assim se vai adiando - ano apรณs ano - a implementaรงรฃo de uma classe profissional que poderia verdadeiramente revolucionar, e criar um distinto e verdadeiro serviรงo mรฉdico de emergรชncia, que rapidamente se tornaria num modelo de eficรกcia e uma referรชncia europeia.
A Falsa Modernidade:
Recentemente, vemos surgir soluรงรตes que tentam mascarar esta ausรชncia estrutural com ambulรขncias “especializadas”, protocolos “reforรงados” e parcerias apressadas. No papel, parece haver progresso. Mas no terreno, o problema permanece: nรฃo hรก provedores com educaรงรฃo e treino adequados para responder aos quadros clรญnicos mais crรญticos no contexto prรฉ-hospitalar.
Criam-se figuras hรญbridas, ajustam-se nomenclaturas e atรฉ se exporta vocabulรกrio internacional mal traduzido para dar ares de modernidade. Mas a essรชncia continua por resolver: sem tem Tรฉcnicos de Emergรชncia Mรฉdica, Tรฉcnicos de Avanรงado de Emergรชncia Mรฉdica e Paramรฉdicos, Portugal continuarรก a responder ร emergรชncia com meios limitados, muitas vezes assentes na improvisaรงรฃo - quando deveria fazรช-lo com profissionalismo, ciรชncia e estrutura.
Conclusรฃo:
A criaรงรฃo da profissรฃo do Tรฉcnico de Emergรชncia Mรฉdica, Tรฉcnico de Avanรงado de Emergรชncia Mรฉdica e Paramรฉdicos em Portugal nรฃo รฉ apenas uma questรฃo tรฉcnica. ร uma escolha polรญtica, รฉtica e civilizacional.
ร optar entre o improviso e a preparaรงรฃo. Entre o risco e a seguranรงa. Entre o “quase” e o “pleno”.
E, sobretudo, รฉ escolher colocar a vida das pessoas no centro das decisรตes - e nรฃo nas margens do sistema.
Enquanto essa escolha continuar a ser adiada, Portugal continuarรก a ser o paรญs onde se fala de tem Tรฉcnicos de Emergรชncia Mรฉdica, Tรฉcnicos de Avanรงado de Emergรชncia Mรฉdica e Paramรฉdico. Mas nรฃo os terรก.
E isso, mais do que irรณnico, รฉ profundamente lamentรกvel.
Silva – Carlos JA | 2025
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