Mataram o Socorro em Portugal - VIDA DE BOMBEIRO

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terça-feira, 29 de agosto de 2023

Mataram o Socorro em Portugal

 


Mataram o Socorro em Portugal, literalmente, com muita tristeza minha que estou no Quadro de Honra, pelo que se tem visto no nosso país, o socorro em Portugal está literalmente morto.


Mas o que me leva a desabafar sobre isto? Sim, porque isto não passa de um simples desabafo que sei que não leva a lado nenhum, por isso, se depois de lerem isto alguma virgem se sentir ofendida, é favor de falar para a minha palma da mão.


Conto com mais de 40 anos de bombeiro, e nunca vi o socorro em Portugal tão mau como agora, tempos de espera de 40 minutos para uma vitima de PCR como aconteceu recentemente no Algarve, em plena capital do país onde infelizmente resido, vitimas a esperar mais de uma hora por uma ambulância de socorro, isto até parece um país de 3º mundo.


Pelo que vou vendo e ouvindo, o sistema de socorro implementado em Portugal, está obsoleto, ultrapassado, ora então logo está morto, e a começar pelo INEM que cada vez tem menos recursos para responder ao fluxo de emergência, e que fique bem claro que nada tenho contra as pessoas que trabalham no INEM, muito pelo contrário, pois louvo a sua coragem por trabalharem numa instituição que tem o dever de fazer muito mais e melhor pelos cidadãos que precisam de socorro.


Mas vamos lá dar continuidade à coisa:


O INEM na maioria das situações encaminha as emergências para os seus parceiros, Bombeiros, Cruz Vermelha, daí existir uma coisa que se chama, SIEM, Sistema Integrado de Emergência Médica, e até aqui tudo normal, mas a porca torce o rabo quando do outro lado os técnicos do INEM ouvem que os Bombeiros ou até a Cruz Vermelha não tem disponibilidade de meios.


 Pois é meus caros, isto acontece todos os dias e cada vez com mais frequência.


Mas afinal porque é que isto acontece?


Penso que posso enumerar aqui alguns fatores, sendo que segundo um estudo feito, nunca em Portugal houveram tão poucos Bombeiros em Portugal. Mas será só por causa disto? Acredito que não, e explico porquê. 


Cada vez mais se vê as AHBV, Associações Humanitárias de Bombeiros Voluntários, a recusar emergências, umas por falta de efetivos, outras por falta de meios, e outras até porque para conseguir assegurar os transportes de doentes Não Urgentes, descuram as equipas de EPH, Emergência Pré-Hospitalar, pois é meus caros, isto não é novidade nenhuma, porque toda a gente sabe que o que sustenta as AHBV são os transportes de doentes Não Urgentes.


Agora, vou ser um verdadeiro cabrãozito e vou colocar aqui algumas questões.


Atualmente todas as AHBV em Portugal têm pelo menos uma EIP, Equipa de Intervenção Permanente, e que como toda a gente sabe, e se não sabe fica a saber, estas não podem fazer qualquer tipo de transporte de doentes Não Urgentes, assim como devem assegurar a partir da 2ª emergência para a frente, tretas certo? Não? Enganem-me que eu gosto. Quem nunca fez nada disto que atire a primeira pedra. 


Eles é fazer retornos, é fazer consultas, é fazer 1ª, 2ª 3ª e quantas emergências hajam para fazer, certo? Não me venham dizer que estou enganado, porque eu até os vejo a passar por mim todos os dias.


Agora vamos a outra questão.


ECIN, Equipa de Combate a Incêndios, criadas para combate a incêndios florestais na época florestal e muito bem, mas o que vos vou colocar daqui para a frente é o desafio de me tentarem responder às minhas duvidas.


E então as minhas duvidas são as seguintes:


As AHBV detentoras de Posto PEM ou Reserva INEM, são obrigadas a ter no mínimo uma equipa de EPH constituída por 2 elementos, certo? Mas também todos nós sabemos que em grande parte das AHBV isso não acontece, sendo a emergência assegurada por elementos das EIP, por elementos dos ECIN e por voluntários, certo?


Contudo, a lei diz que os ECIN não podem fazer emergência, as EIP só devem assegurar a partir da 2ª emergência, mas então e a primeira quem a faz???


Ora foda-se lá isto, deixem-me adivinhar, toquei num ponto sensível não foi?


Então deixem-me colocar as coisas de outra maneira:


Tenho 1 grupo de ECIN no Corpo de Bombeiros, sendo que a EIP já está a trabalho e não tenho mais ninguém disponível para socorrer uma vitima de 25 anos inconsciente, a questão que coloco é simples, recuso esta emergência porque o ECIN não pode fazer emergência e deixo morrer a vitima, ou quebro as regras e envio 2 elementos do ECIN e não cumpro com o que está na lei?


E se for um familiar meu, e se for um amigo meu, e se for um desconhecido que no meu juramento declarei pela minha honra socorrer pessoas e bens?


Dá que pensar...


Meus caros, isto já vai longo, mas todos merecem um tratamento digno da parte de todos aqueles que um dia prestaram o juramento de socorrer pessoas e bens, que se comprometeram com o lema "Vida por Vida", mas o que mais me preocupa no meio disto tudo, é que grande parte da culpa por estarmos a viver tudo isto não é culpa daqueles que todos os dias dão a cara.


E fico-me por aqui...


Cordiais saudações deste Chefe do Quadro de Honra, António Manuel que deu mais de 40 anos à causa. 

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