O meu mundo é perfeito. Não me falta nada. Tenho dinheiro, tenho trabalho, tenho saude, tenho amigos, tenho carros, tenho casa, mas acima de tudo tenho DUAS FAMÍLIAS.
A primeira e mais importante, é a esposa e os filhos. São aquele delicioso aconchego, o porto de abrigo. Sentar à mesa e saborear aquela refeição maravilhosa, entre conversas e gargalhadas.
A segunda são os bombeiros. Os meus colegas combatentes, sejam eles assalariados ou voluntários. Passo com eles muitas e muitas horas, no cumprimento de qualquer missão, sempre com esperança de voltar a casa no final do turno e saborear a tão esperada refeição maravilhosa com a melhor companhia do mundo.
Mas nem tudo corre como queremos nem quando queremos.
Toca a sirene e lá vamos nós de encontro ao desconhecido. Na esperança que o lema " Vamos todos, voltamos todos" nunca seja quebrado.
Os incêndios estão aí à porta, e muitas vezes, aquelas refeições deliciosas sentados em casa, dão lugar a uma marmita com alguma coisa lá dentro que é devorada, sentados encostados a uma pedra ou aos pneus dos VFCI, com a cara toda preta tal e qual como se fosse um exercício militar e estivéssemos camuflados.
Temos indicação para este ano que será muito duro, vai ser muito difícil e exigente para todos os combatentes.
Entretanto para acalmar, vêm os engravatados, com palmadinhas nas costas e sorrisos, dizer que tudo vai correr bem, que somos os melhores do mundo, que sem nós o socorro não funcionava.
Mas na prática nada muda e tudo fica igual ou pior. Somos carne para canhão. Não somos respeitados nem valorizados, nem mesmo quando acontecem grandes desgraças.
Portanto, não vivamos na ilusão, para não ter desilusão.
Vamos continuar a fazer o melhor que sabemos e podemos, com o que temos ou nos deram.
Que esta segunda família trabalhe sempre em segurança, para que a primeira não fique eternamente à espera.
Um abraço apertado a todos e a cada um de vós.
Para os Bombeiros, de um amigo dos Bombeiros
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