Qual é a reflexão atual sobre o recurso ao plano duro?
Estudos sugerem que a abordagem atual da RMC com recurso ao “plano duro” pode realmente ser prejudicial para um segmento de doentes.
Há consenso de que o “plano duro” e extremamente desconfortável e que existe uma correlação entre o tempo de permanência excessivo nesse dispositivo e complicações subsequentes, como o desenvolvimento de lesões por pressão.
Existe uma alternativa ao “plano duro”? Atualmente, existem varias alternativas para a “plano” e outras ainda, estão atualmente em desenvolvimento.
Sem duvida, a tendência é alcançar a RMC com o reconhecimento de que ela, pode ser realizada como uma medida de conforto e, sem maiores danos.
Macas de vácuo são recomendadas, e macas do tipo scoop são admissíveis, e muitas vezes estas últimas, são alternativas mais confortáveis que o “plano duro”.
Quanto à maioria das extrações potencialmente complexas, os vários dispositivos disponíveis no mercado ainda dependem, em grande parte, do “plano duro” durante, pelo menos, a fase inicial da extração.
Com mais pesquisa e desenvolvimento, o dilema do “plano duro” pode originar discussões sobre a maneira mais confortável de alcançar a RMC.
Os protocolos podem permitir que o plano seja removido na ambulância, a menos que seja mais seguro para o doente ser transferido no dispositivo até o hospital, fator tempo.
Serviços Médicos de Emergência Americanos, nomeadamente dos estados de Massachusetts e Califórnia há mais de 5 anos que já não utilizam o plano duro de forma imoderada, sendo o colar cervical aplicado de forma consciente em skills, muito especificas, e o "plano duro" apenas e extrações.
É sabido que a presença do colar e do plano duro podem gerar dor, stress, ansiedade, desconforto, aumento da pressão intracraniana até 4,5 mmHg, aumento do risco de úlceras de pressão, dificuldade na manipulação da via aérea e incremento no risco de bronco-aspiração.
Além disso, no trauma penetrante foi observado aumento de mortalidade quando a "imobilização" da coluna vertebral resultou no aumento no tempo de transporte.
Estudos como o NEXUS (National Emergency X-Radiography Utilization Study) do ano de 1992 e o Canadian C-Spine Rule, do ano de 2001 tem auxiliado as equipas dos centros de trauma para a decisão sobre a restrição da coluna e a necessidade de exames complementares, diminuindo custos, a necessidade de procedimentos e a exposição do paciente à radiação.
Estudo de validação do NEXUS, por exemplo, com 34.069 pacientes evidenciou uma sensibilidade de 99,6% em lesões cervicais clinicamente significativas, sendo que para o uso no paciente, apenas 5 variáveis de avaliação são consideradas.
Pesquisas seguiram-se e nos anos de 2013 e 2014, Dixon et al e Engsberg et al, demostraram que a técnica de auto-extração controlada é a que menos gera movimentos da coluna cervical, quando comparada com as técnicas tradicionais de extração.
A 9 de agosto de 2018, foi publicado um importante consenso pelos Colégio Americano de Cirurgiões – Comitê do Trauma (ACS-COT), Colégio Americano de Médicos de Emergência (ACEP) e Associação Nacional de Médicos de Pré-Hospitalar (NAEMSP).
Chegados a 2023, o consenso dita que, nem sempre, nem nunca, só apenas aquilo que o paciente precisa e nada mais do que isso.
Podemos aferir pelos estudos que têm vindo a ser produzidos que o recurso ao "plano duro" indiscriminado, assim como o do colar cervical - proporciona mais efeitos negativos, do que positivos para os pacientes. E aqui, deve imperar a evidência científica e o bom-senso.
Fonte: Sociedade Portuguesa de Emergência Pré-Hospitalar
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