António Nunes Dirige-se aos Bombeiros Portugueses - VIDA DE BOMBEIRO

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quinta-feira, 23 de junho de 2022

António Nunes Dirige-se aos Bombeiros Portugueses

 


Meus caros e caras,


Ontem, dia 21 de junho, o Governo demonstrou uma vez mais o respeito e apreço que tem pelos Bombeiros portugueses.


Com a publicação da Portaria nº 547/2022, no âmbito do Programa MAIS Floresta: Reforma do sistema de prevenção e combate de incêndios – «Aumentar a capacidade da resposta operacional da GNR», designadamente para a aquisição de EPI florestais, foi atribuído a esta força de segurança o montante de 3.012.900 €, dividido por 2022, 2023 e 2024. Se considerarmos o número de elementos previstos na DON nº 2 – DECIR 2022 (1.150), resulta uma média de 2.620 €/militar.


Já quanto aos Bombeiros, foi-lhes atribuído cerca de 6 M€; dividindo pelo número de bombeiros a envolver no DECIR 2022 (20.193), resulta em 297 €/bombeiro.


Será que temos combatentes de primeira e de segunda no combate aos incêndios florestais? Será que os Bombeiros têm de usar equipamento de muito menor qualidade? Será que os Bombeiros, uma vez mais, são desconsiderados a favor de um outro agente de proteção civil? Será que não são os Bombeiros quem faz a supressão da maioria dos incêndios florestais, apesar de haver por aí alguns que desejavam que assim não fosse? Será que temos de continuar a assistir, mês após mês, ano após ano, ao desprestígio permanente dos nossos Bombeiros?


O destino de cada indivíduo ou organização depende, em muito, das suas decisões, da sua resiliência e da sua vontade. Só aos Bombeiros compete decidir até onde permitem que ano após ano, lhes sejam retiradas competências, que se emocionem com palavras bonitas nos seus aniversários, que andemos de mão estendida a pedir mais umas sobras orçamentais, que passemos o tempo a tentar encontrar recursos financeiros para se manter as Associações capazes de continuar a subsidiar o Estado no transporte de doentes urgentes e não urgentes, a pedir viaturas usadas a várias entidades, a combater incêndios com veículos com mais de 30 anos, a aceitar a desnatação dos nossos quadros de comando, a prestar serviço barato à ANEPC no combate aos incêndios florestais (cada bombeiro é compensado a 2,542 euros à hora) ou comandantes às ordens dos srs. CODIS a 2,958 à hora, a não termos um sistema de Comando Nacional Operacional de Bombeiros, a sermos diariamente humilhados quando nas notas informativas somos considerados “operacionais” e não “bombeiros”, escondendo a verdadeira dimensão da nossa expressão operacional, a termos de ficar horas nas portas das urgências dos hospitais, ou seja todos decidem por nós. Os Bombeiros são hoje tutelados pela ANEPC, pelo INEM, pelas ARS´s, pelos Hospitais, e não são reconhecidos com factos que são os agentes insubstituíveis da proteção civil. 


Ou querem mesmo destruir os nossos Bombeiros, em particular os Voluntários, criando as condições financeiras e operacionais para que as nossas Associações fechem as portas e assim se passe para a estatização dos Bombeiros. Se assim é que o digam. Haja a coragem política para dizer o que querem dos nossos Bombeiros.


E esta situação já vem de longe. A 13 de dezembro de 2003, em Santarém, a LBP promoveu um Congresso Extraordinário com o tema: Que Bombeiros? Que proteção civil? Com que meios? Parece de que nada serviu porque nós nos momentos cruciais não conseguimos estar unidos, focados na defesa dos nossos valores, da nossa história, da nossa memória coletiva de Bombeiros, num país que sempre teve o seu suporte de socorro e salvamento nos seus Bombeiros Voluntários.


Meus caros e caras,


Chegados a este ponto, onde não fomos considerados com qualquer medida específica para apoio ao impacto brutal do preço dos combustíveis nas tesourarias, o sistema de saúde deve milhões às Associações pelo transporte de doentes, o INEM diz que não pode avançar com outras medidas, cumprindo com o determinado pela Assembleia da República, porque não tem orçamento, os Bombeiros são os únicos que têm um comandante a ser responsabilizado pela ausência do sistema de proteção e socorro das populações, são tomadas decisões pelo Estado sem nos ouvir, sem nos tratar como parceiros, e quando o faz, na maioria dos casos já tem as decisões tomadas, não temos uma visão de médio prazo para o financiamento das Entidades Detentoras dos Corpos de Bombeiros, não temos um verdadeiro Estatuto do Bombeiros Voluntário, não temos carreiras e estruturas profissionais nas Associações, que nos resta?


Meus caros e caras,


O presente e futuro dos Bombeiros está nas mãos dos seus dirigentes, comandantes, chefes e bombeiros. O que fizermos hoje, colheremos no futuro.


Quanto a nós, vamos continuar a lutar pelos Bombeiros portugueses, pela sua memória, pelos seus valores, pela sua história, até que nos querem à frente da LBP.


O Presidente e o Conselho Executivo apresentam as cordiais saudações e cumprimentos.


O Presidente


António Nunes

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