Austrália: ‘Tempestades de Fogo’ Intensas Geradas por Incêndios Florestais - VIDA DE BOMBEIRO

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quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Austrália: ‘Tempestades de Fogo’ Intensas Geradas por Incêndios Florestais


As chamadas ‘tempestades de fogo’ começam com os tentáculos de fumo libertados pelos incêndios florestais na atmosfera, formando-se primeiro como pequenos aglomerados de nuvens brancas que, em menos de 30 minutos, se podem transformar em tempestades imponentes.

"É difícil exagerar a escuridão que produzem", diz Nicholas McCarthy, cientista especializado em incêndios florestais na Universidade de Queensland, na Austrália, sobre as chamadas nuvens de fogo, ou pirocumulonimbus, que se formam devido aos incêndios florestais mais intensos.

Com a abreviatura de piroCb, ou tempestades de fogo, estes fenómenos atmosféricos perigosos podem agravar os incêndios, gerando ventos intensos que transportam brasas e produzindo relâmpagos em regiões que ainda não estão a arder.

Em 2018, na Califórnia, durante o infame incêndio Carr, as nuvens piroCb atingiram os 5 e os 12 km de diâmetro em apenas 15 minutos, e produziram um tornado de fogo. Estas tempestades de fogo também marcaram presença noutras regiões fustigadas por incêndios brutais, casos de Portugal, Texas e Arizona.

À medida que o planeta aquece, os incêndios em grande escala também começam a ser mais frequentes e as épocas de incêndios florestais mais longas. A Austrália, que este ano sofreu a primavera mais seca e o ano mais quente de que há registo, está a ser lavrada por incêndios florestais cada vez mais perigosos. Os cientistas dizem que as tempestades de fogo também podem aumentar no país, criando um perigoso ciclo que queima as terras que já estão secas.

Como se formam estas tempestades?
Saber exatamente quando e como é que as tempestades de fogo ganham vida pode ser difícil de prever, diz Mike Flannigan, professor especializado em incêndios florestais na Universidade de Alberta.

“São incrivelmente intensas e erráticas”, sublinha Mike.

"Estes fenómenos surgem nos momentos mais críticos”, diz Mike Fromm, especialista em piroCb no Laboratório de Investigação Naval dos EUA.

O ar quente e seco e o vento intenso, condições que podem dar origem a incêndios devastadores, também são as mais prováveis para as tempestades provocadas pelo fogo.

À medida que o ar por cima de um incêndio aquece de forma intensa, cria uma rajada de vento ascendente, chamada corrente ascendente, que canaliza o fumo para a atmosfera como se fosse uma chaminé. Quando o ar sobe, arrefece e fica condensado, formando nuvens. E quanto mais alto sobe, maiores são as probabilidades de gerar uma tempestade, diz Flannigan.

“Estas tempestades possuem uma corrente de ar tão violenta que criam o seu próprio campo eólico. É um ambiente muito turbulento.”

Quando se formam, as piroCb podem parecer tempestades, mas têm diferenças importantes – tendem a produzir relâmpagos com cargas positivas, e não negativas, que duram mais tempo, dando assim mais tempo aos raios para incendiarem o solo. As tempestades de fogo também tendem a estagnar, ficando a pairar sobre os incêndios que as criaram. E talvez o mais notável, as tempestades de fogo raramente produzem a precipitação necessária para apagar os fogos.

"Quase que não produzem precipitação", diz Fromm. "Uma das ironias das piroCb é que, como são geradas pelo fogo, a propagação do fumo altera a microfísica até um ponto onde a precipitação não se forma."

A questão climática
A Austrália está particularmente em risco de sentir os impactos diretos das alterações climáticas. Desde 2005, o país viveu os 10 anos mais quentes alguma vez registados.

Seja um furacão, uma inundação ou um incêndio, os cientistas não podem atribuir diretamente nenhum destes eventos às alterações climáticas e, em vez disso, procuram tendências que revelem como é que os padrões climáticos se alteraram ao longo do tempo. Fromm diz que a sua investigação ainda não conseguiu revelar esta tendência, mas a investigação ainda está a decorrer.

Durante o ano passado, a Austrália teve mais tempestades geradas por incêndios do que nos últimos 20 anos. E dado que as condições quentes e secas persistem no país, os cientistas esperam que a formação de piroCb também continue a aumentar.

"Com as alterações climáticas, vamos assistir a incêndios de maior intensidade e, com os incêndios de maior intensidade, vamos testemunhar mais tempestades destas", diz Flannigan. "Acredito que vão ser mais frequentes no futuro.”

Num artigo publicado em julho do ano passado, McCarthy e os seus coautores descobriram que as alterações no clima da Austrália podem colocar mais pessoas e habitats em risco de tempestades de fogo.

Ainda não se sabe quais são os efeitos destas tempestades a longo prazo. Os cientistas sabem que podem propagar incêndios e piorar as condições dos fogos, mas Fromm diz que as piroCb podem tapar o sol em áreas localizadas, criando um efeito de arrefecimento.

A Austrália ainda está no início da sua época de incêndios florestais, e os meteorologistas dizem que os fogos podem continuar durante meses.

Fonte: natgeo

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