Quando a Sirene Toca... - VIDA DE BOMBEIRO

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sábado, 18 de maio de 2019

Quando a Sirene Toca...


Escrevo da forma mais sincera e honesta que consigo, num apelo que há muito queria ter feito mas só agora arranjo coragem e espaço para o fazer. Culpo-me, desde logo, pelo facto de muitas vezes ao não falar num tema, este acabar por quase se extinguir do pensamento, como se de um crime a prescrever se tratasse.

Mas devo dizer que sou da opinião de que, e embora o Bombeiro não seja apenas o “apagador de fogos”, é sempre melhor falar nisto agora (que os ânimos arrefecem) do que no dito tempo dos fogos. E digo isto, pois entendo sempre que é neste tempo que melhor as influências se exercerem com o intuito de alterar o curso da vida. Sempre, mas sempre, na base do diálogo e da atitude civilizada e intelectualmente estimulante.

E o lamento vem agora, pois no verão, na mesma medida em que berram as sirenes, ouço políticos prometer com igual exuberância e sem hesitação mundos e fundos. Mas todos sabemos como funciona a ginástica comunicativa que é repetida.

Isto para vos dizer o quê? Eu sou Bombeiro do quadro de reserva e, falando português correto e sem medo das palavras, corta-me o coração ouvir a sirene chamar e não ir (das vezes em que a consigo ouvir). E não vou, não por falta de vontade, mas porque sou um cidadão que cumpre a lei e essa, como é evidente, devemos sempre respeitar. E essa, como é sabido, não nos permite exercer funções operacionais quando estamos no quadro de reserva.

Sabem, jamais cortei o cordão umbilical que me une aos Bombeiros. Jamais fiz ouvidos moucos (lá estou eu com o meu português prático e básico) à minha sirene. Mas confesso, acreditem que confesso, que me custa ouvir a sirene tocar e não ter a possibilidade de apoiar os meus camaradas.

Eu compreendo perfeitamente que não estou hoje preparado ou familiarizado com as técnicas novas de ataque aos incêndios, ou não terei conhecimento sobre as mais recentes evoluções na pesquisa de sinais do corpo humano para ajudar a salvar. E também sei que, e como sempre me disseram “quem não sabe, não salva”. Mas alguma coisa nós sabemos, acho eu.

O problema será a nossa falta de seguro? É que se a causa for essa, perdoem-me (e peço, desde já, desculpa se estiver errado), mas acho que o Governo podia cortar na pompa e circunstância de determinados atos e apoiar mais rapaziada dos Bombeiros.

No fundo, meus amigos e amigas, temos sido brandos perante ideias nefastas e leis feitas por senhores de gravatas, que metidos no conforto dos gabinetes não sabem os problemas reais que todos os dias enfrentamos. Também os há bons e os que nos compreendem e percebem, felizmente. Mas outros há que... Como dizia em tempos um conhecido dirigente do nosso futebol “vocês sabem do que eu estou a falar”.

De saída, confesso, nenhuma outra imagem me impressionou mais, nos últimos tempos, do que essa imagem de uma sirene a tocar violentamente aos céus de Entre-os-Rios, eu estar a dois passos do quartel e não ir, só para cumprir a lei. Mas como se diz na minha terra “são as leis que temos”.

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