Sara é psicóloga do INEM: "Temos que pensar quando outros não o conseguem fazer" - VIDA DE BOMBEIRO

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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Sara é psicóloga do INEM: "Temos que pensar quando outros não o conseguem fazer"


"Temos que pensar quando as pessoas não o conseguem fazer." É com esta frase que Sara Rosado, psicóloga do INEM há 15 anos, define o seu trabalho. São estes profissionais que fazem a "intervenção psicológica de emergência", a resposta de "primeira linha" dada às vítimas e familiares de vítimas de crimes, acidentes, situações de ansiedade e comportamentos suicidários. "Sobretudo, as situações em que vamos para o terreno serão de morte traumática", explica.

Esta segunda-feira, uma mulher foi assassinada em casa no Seixal. Foi logo acionada uma equipa de psicólogos para prestar apoio à família. O suspeito do crime é o genro, que também terá morto a própria filha no dia seguinte. A menina, Lara, tinha dois anos.

Pouco tempo depois de ter sido mãe, Sara Rosado, que trabalha na delegação do INEM de Coimbra desde 2004, lidou com a morte de uma criança com a idade de Lara: "A maternidade é um momento que nos deixa mais vulneráveis. Aquela situação teve um impacto diferente, imaginei se me tivesse acontecido. E uma coisa é a morte natural, outra é a traumática com crianças pequeninas. Lembro-me que nessa altura, precisei de chegar a casa e de perceber se o meu filho estava bem."

Sara destaca o papel do trabalho de equipa no INEM para conseguir lidar com as "situações intensas em termos emocionais". "O que é importante perceber é que o impacto é normal, natural, deve ser aceite como tal. A equipa tem que falar sobre o que aconteceu. Exteriorizar as emoções é a melhor forma de as integrar e gerir de forma saudável", relata.

Um psicólogo do INEM arranca para o terreno quando cai uma chamada de emergência, no CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes), alvo de triagem. É acionada a Unidade Móvel de Intervenção Psicológica de Emergência (UMIPE), em que seguem um psicólogo e um técnico de emergência pré-hospitalar.

A caminho, o profissional é informado do que se passa através do rádio, do telemóvel e do iCare (um sistema informático que indica o que está a ocorrer no local, os meios acionados e o que já fizeram). Quando chega, encara "situações potencialmente traumáticas, de suicídios presenciados, acidentes, de violação, acidentes de trabalho, ou de uma pessoa ter sido encontrada sem sinais vitais por um familiar", só para dar alguns exemplos.

"São desencadeadas reações muito intensas nas pessoas, com desespero, choro, raiva, revolta. Por vezes, provocadas por erro humano. As pessoas ficam incapazes de compreender o que se está a passar. Tudo isto cria um desespero muito grande", frisa. "Perde-se capacidade de funcionar. Nós ajudamos a contactar outras pessoas para servirem de suporte, para tratar do funeral."

O que é preciso para se ser um psicólogo do INEM? "Temos uma preparação de base que nos permite saber os objetivos em cada momento", explica Sara Rosado. É necessária "uma grande capacidade de avaliar as situações, o que é normal e não é, e entender as necessidades para lhes darmos resposta. Intervir sem formação específica é um risco não só para as vítimas, como para quem age. Este último coloca-se em risco e transforma-se numa vítima."

Após o primeiro contacto, o psicólogo acompanha as vítimas. "O tempo vai depender de cada pessoa. Em média fazem-se três a quatro follow-ups, que podem ocorrer a partir do dia seguinte, ou daí a quatro. Depende", considera a médica.

A ideia é perceber se a vítima consegue integrar a situação traumática sem adoecer, ou se tem que ser encaminhada para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e ser acompanhada durante mais tempo: "Na maior parte das vezes as pessoas não adoecem, encontram outra forma de viver. A dor não desaparece, mas aprende-se a lidar com ela."

Fonte: Sabado

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