Comandante Operacional de Santarém convidou “ervas daninhas” a saírem dos Bombeiros - VIDA DE BOMBEIRO

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terça-feira, 23 de outubro de 2018

Comandante Operacional de Santarém convidou “ervas daninhas” a saírem dos Bombeiros


Os Bombeiros Municipais de Sardoal, fundados em 1 de outubro de 1953, celebraram o seu 65.º aniversário com uma sessão solene, no passado sábado, no Centro Cultural Gil Vicente. Entre os vários temas abordados, desde o estatuto de bombeiro até à limpeza das faixas de gestão de combustível, enviaram-se alguns recados ao governo central e aos próprios bombeiros portugueses.

A famosa frase de Winston Churchill “nunca tantos deveram tanto a tão poucos”, aquando da Segunda Guerra Mundial, foi a escolha do Comandante Operacional Distrital de Santarém (CDOS), Mário Silvestre, para terminar o seu discurso na cerimónia de celebração do 65º aniversário dos Bombeiros Municipal de Sardoal, este sábado, 20 de outubro.

Contudo, o Comandante, que lembrou a “capacidade de servir e honrar” e o lema dos Bombeiros “a vida por mil”, não se ficou pelas felicitações e usou palavras duras para classificar os atos daqueles a quem chamou de “ervas daninhas” convidando-os mesmo a “sair” do estrutura.

Admitindo “a necessidade de melhorar de forma contínua” classificou os bombeiros portugueses como “os melhores do mundo” e disse que, na qualidade de Comandante Operacional Distrital, “deveria estar contente e feliz” mas que não pode.

“Vejo proliferar nos bombeiros um conjunto de ervas daninhas que apenas contribuem para o descrédito de uma organização secular” convidando de forma pública “essas pessoas a saírem, a dedicarem-se a outras coisas porque o tempo delas ou nunca chegou ou já terminou. Deixem os bombeiros prosperar e crescer enquanto maior força de Proteção Civil” do País.

Lembrou que os “últimos meses foram particularmente duros” para os Bombeiros de Sardoal e do distrito de Santarém, embora reconhecendo uma realidade diferente da ocorrida em 2017, “não pelo número de ocorrências de incêndios florestais” mas “pelo elevado grau de prontidão”, salientando outras situações meteorológicas emergentes como a tempestade Leslie, colocando “à prova” todas as capacidades dos bombeiros.

Por isso, sublinhou, que a atuação dos bombeiros deve centrar-se em dois pilares “a atenção máxima para com o cidadão e a total articulação com outros agentes de proteção civil” e se 2018 “foi um ano bom, o comportamento do cidadão teve uma palavra decisiva”.

Honrando o compromisso alicerçado com Portugal, o distrito de Santarém “enviou para todo o País os grupos de reforço a incêndios florestais, chegando a ter em simultâneo cerca de 120 homens em operações externas ao distrito, mobilizamos no total mais de 20 mil homens que percorreram, durante o dispositivo especial de combate a incêndios rurais, aproximadamente meio milhão de quilómetros”, deu conta.

Destacando que o concelho de Sardoal “é dos poucos” com bombeiros municipais no País, Mário Silvestre afirmou “comungar das preocupações com a discriminação que existe” para com os corpos de bombeiros municipais, manifestando-se ainda “preocupado com a forma e conteúdo que é discutido para as alterações do estatuto de bombeiro das autarquias locais” indicando serem sete os corpos de bombeiros de tipologia mista (municipais e voluntários) no distrito de Santarém.

É do conhecimento público que a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) quer que as Câmaras com corpos de bombeiros municipais ou de sapadores beneficiem de um programa de financiamento permanente, à semelhança do que sucede com os voluntários.

A ANMP defende que “os municípios com corpos de bombeiros municipais têm de beneficiar de programas de financiamento permanente, bem como dos programas de financiamento estrutural previstos na lei, tal e qual como beneficiam as associações humanitárias de bombeiros”, afirmou o presidente da Associação, Manuel Machado, no mês passado, em Coimbra numa reunião do Conselho Diretivo da ANMP.

Em Sardoal, o comandante dos Bombeiros Municipais, Nuno Morgado, dirigindo-se ao corpo de bombeiros destacou “a dedicação e o espírito de missão ao serviço de uma causa” que é o socorro das populações.

Recordando os “inúmeros danos” sofridos nomeadamente aquando dos incêndios de 2017, não sendo possível sequer a “celebração do aniversário”, o comandante pediu ao presidente da Câmara Municipal, Miguel Borges, para “não desistir e continuar a investir na proteção e socorro do Município e dos seus cidadãos”.

Fez saber que os bombeiros de Sardoal continuam a aguardar pelo Cartão Social de Bombeiro e considerou que o Governo central, “seguindo o mesmo caminho da Câmara de Sardoal, deverá atribuir incentivos ao serviço voluntário, nos serviços do Estado”, tal como acontece ao nível dos incentivos municipais, como por exemplo a redução da fatura de água, descontos nas piscinas ou nos bilhetes de cinema.

Aguardam ainda “pela obrigatória e necessária revisão do diploma legal que regula a carreira de bombeiro profissional promovendo a dignificação e valorização desta nobre classe”, disse.

Sem tal revisão, Nuno Morgado prevê um continuar de “chutar para canto dos problemas inerentes aos corpos de bombeiros da administração local com claros prejuízos para o bom funcionamento destes. Promessa permanente de todos os governos, assistimos impávidos e serenos a um constante falhar de prazos prometidos”, desabafou.

O corpo de Bombeiros de Sardoal conta com cerca de 60 elementos e um quartel com cerca de 30 anos, indicando Nuno Morgado que “para as exigências atuais, nomeadamente no apoio prestado à estrutura nacional e distrital da Autoridade Nacional de Proteção Civil como centro de meios aéreos”, a necessidade de remodelação e ampliação das mesmas, apontando “apoios através da Alta Autoridade para a Proteção Civil ou através de fundos comunitários”.

Acrescenta que “nos últimos anos foi feito um investimento na aquisição de diverso material e equipamentos, nomeadamente os 20 fatos de proteção urbano com um custo superior a 14 mil euros”.

Por seu lado, Adelino Gomes, vice-presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, agradeceu às famílias pelo apoio que dão aos “homens e mulheres sempre com disposição para poder ajudar quem deles necessita” sendo “garante da proteção civil dos municípios”.

Lamentou que “muitas vezes o apoio devido pela responsabilidade que o País tem de manter este exército barato ao seu serviço, não reconheça as autarquias que têm apoiado estes homens” vendo a atribuição de apoios “àqueles que menos fazem para os poder merecer” .

A encerrar os discursos, o presidente da Câmara de Sardoal, Miguel Borges (PSD), vincou que “o problema da estrutura de bombeiros é político e nada operacional” apontando o dedo aos políticos que precisam de “algum juízo” e presidentes de câmara, defendendo que “muitos ainda não se consciencializaram que são os responsáveis máximos pela proteção civil do seu território” e sem isso “nunca vamos conseguir chegar a lado nenhum”.

O autarca deu conta que a proteção civil no concelho de Sardoal “uma prioridade, tem um investimento muito elevado, mais de 10% do orçamento municipal” falando em “falta de coragem política que vem dos diferentes governos dos diferentes partidos que resistem a um peso muito forte de câmaras deste País, não permitindo alterações legislativas”.

Declarou que “em muitos municípios nem sequer o comandante dos bombeiros é profissional”, enquanto em Sardoal “estamos atentos à formação”, notando a recente formação facultada aos bombeiros de Sardoal na Escola de Sapadores de Bombeiros. Nesta linha, considerou “urgente reconhecer o estatuto de bombeiros” e defendeu que cada território “tenha um número mínimo de bombeiros profissionais de acordo com a sua tipologia” um investimento feito pelo Executivo central e municípios.

Miguel Borges terminou explicando que no concelho o trabalho de limpeza das faixas de gestão de combustível está “praticamente a 100%” num custo total de 100 mil euros. Disse ainda que apenas 18 (onde se inclui Sardoal) dos 308 municípios portugueses apresentaram candidaturas à linha de crédito de 50 milhões de euros disponibilizado pelo Governo, para financiamento da limpeza da floresta, solicitando um montante, no total, de cerca de sete milhões de euros.

Os Bombeiros Municipais de Sardoal, fundados em 1 de outubro de 1953, celebraram o seu 65.º aniversário com uma sessão solene que se realizou no Centro Cultural Gil Vicente. As comemorações iniciaram com uma romagem ao cemitério, numa homenagem aos bombeiros falecidos. Seguiu-se um desfile apeado pelas ruas da vila, que terminou com a cerimónia oficial e entrega de condecorações a um total de 12 bombeiros.

Medio Tejo

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