Os técnicos de emergência pré-hospitalar vão ter um papel mais ativo no socorro mas a formação está a ser bloqueada. A Ordem dos Enfermeiros (OE) é contra o aumento de competências e recusou participar no treino dos profissionais, obrigando o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) a recorrer a um centro militar.
O curso, para um centena de elementos — a maioria já no quadro do INEM —, está a ser assegurado no Centro de Saúde Militar de Coimbra. “Não os quiseram nos hospitais, recusaram dar-lhes formação até que fossem colocados como observadores nas viaturas de emergência”, diz fonte próxima do processo. Já o INEM explica que apenas optou pela unidade militar, “essencialmente, por questões logísticas e de operacionalização da formação”.
A OE garante que é preciso parar de imediato o treino dos técnicos para as novas competências para não pôr em risco o socorro à população. A assessoria jurídica da Ordem revela que estão a ser preparadas diligências para “a suspensão do modelo de formação” porque “porá em risco a vida de todos”. O passo é dado depois de a OE ter enviado cartas aos autarcas de todo o país a criticar o modelo e de intentar uma providência cautelar para travar o início da formação. Agora, assegura a advogada dos enfermeiros Cristina Calheiros, já com o treino em marcha, a Ordem mudou de estratégia: “Alterou o procedimento jurídico para impedir a homologação do novo modelo de formação.”
No total, os novos técnicos terão 910 horas de formação presencial, a terminar em novembro. Vão ter funções mais próximas das que têm os paramédicos noutros países, embora sob supervisão de um médico coordenador. Para os enfermeiros, a tutela médica não é suficiente para garantir a qualidade das intervenções dos novos técnicos de emergência pré-hospitalar.
“É uma posição corporativista que põe em causa a assistência e o socorro dos doentes e sinistrados”, responde o presidente da Associação Nacional de Técnicos de Emergência Pré-hospitalar, Nelson Batista. O dirigente sublinha que “a atividade destes técnicos existe em paralelo com outras na saúde e no socorro” e que “as novas competências são usadas na generalidade dos países europeus e de outros continentes”. Em resumo, a sua intervenção “pode ser determinante para a sobrevivência de vítimas em situação de emergência”.
O presidente do sindicato destes técnicos está convicto que a nova carreira representa “uma enorme evolução na emergência médica e nos cuidados prestados aos cidadãos”. Pedro Moreira garante: “Os técnicos não vão substituir ninguém, vão minorar os danos que a demora no diagnóstico pode causar.”
O modelo para dar mais competências aos técnicos é antigo, foi atualizado em 2016 e só este ano se tornará efetivo. Pedro Moreira não vê inconvenientes na formação em hospitais militares: “Na unidade de Coimbra existe um simulador, que até permite ganhos de eficiência na formação.” Os técnicos vão continuar nos centros de orientação de doentes e nas ambulâncias de emergência e de suporte imediato de vida, ao lado de enfermeiros.
Expresso
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