"Houve Momentos em que Achei que ia Quebrar." A Voz da Proteção Civil na Tragédia - VIDA DE BOMBEIRO

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quinta-feira, 8 de março de 2018

"Houve Momentos em que Achei que ia Quebrar." A Voz da Proteção Civil na Tragédia


A confissão é de Patrícia Gaspar. No Dia da Mulher, a TSF entrevista a mulher que deu a cara pela Proteção Civil durante a tragédia dos incêndios.

Patrícia Gaspar tem 44 anos e é natural de Lisboa, mas há muito que reside no Barreiro, município onde vai ser homenageada esta sexta-feira.

Passou pela Marinha e pelas Secretas, com múltiplas condecorações. Agora é a 2.ª comandante operacional da Autoridade Nacional da Proteção Civil.

Mas é por ter sido a cara e a voz da Proteção Civil, durante a tragédia dos incêndios que atingiu o país no último ano, que todos a conhecemos. Tempos "de grande esforço", que recorda em entrevista à TSF.

"Vivemos dias muito complicados e tivemos a noção de que era preciso passar uma mensagem que permitisse informar, sem esconder nada do que estava a acontecer, mas sem pânicos", explica, salientando que era preciso atender ao "dever de informar" da Proteção Civil, "mas também ao direito que os portugueses têm de saber o que se passa".

Patrícia Gaspar lembra um período em que, ao mesmo tempo que monitorizava a situação do fogo em todo o país, respondia às constantes solicitações dos órgãos de comunicação social - em dias que começavam às 6h00 da manhã e se prolongavam até às 2h00 da madrugada seguinte.

"Houve dias em que achei que poderia não ser capaz", admite. "Houve momentos em que achei que ia quebrar".

Felizmente, isso não aconteceu. "Fomos todos resilientes", diz.

Patrícia Gaspar considera que a tragédia dos incêndios foi uma grande lição para o país, que aprendeu que as catástrofes naturais não acontecem só nos outros dias e que a segurança depende, em primeira instância, de cada um de nós.

"Sem retirar qualquer responsabilidade àquilo que são as missões e o papel que as autoridades governamentais têm de desempenhar, há um papel fundamental dos portugueses enquanto garante da sua segurança", defende. "Temos de avaliar o risco, estar atentos ao que está à nossa volta, para garantir que assumimos sempre um comportamento defensivo".

Em tempo de fogos, a então porta-voz da Proteção Civil começou a ser reconhecida pelas pessoas, mas garante que foi sempre abordada com simpatia - e até que foi isso que lhe deu algum alento durante os tempos mais duros.

"Eu não tenha formação específica na área da comunicação, mas gosto de comunicar. Sempre gostei. Terá sido a grande mais-valia", confessa.

Um percurso invulgar

A agora 2.ª comandante nacional da Autoridade Nacional da Proteção Civil afirma nunca ter feito "muitos planos" em relação à sua vida profissional.

"Nunca defini onde queria chegar. Não sei se estou onde queria estar. Sei que gosto muito de onde estou", assegura. "A Proteção Civil, mais do que uma profissão, é um modo de vida".

Patrícia reconhece que o pai, o contra-almirante Álvaro Gaspar, "teve um papel importantíssimo" na sua formação. "Foi sempre um exemplo, um modelo".

"Quando tinha 13 anos, tanto chateei o meu pai que, um dia, ele levou-me com ele para o mar. Foi uma verdadeira aventura", relembra

"Eu gosto de coisas diferentes. Nunca quis ser aquelas coisas que, tipicamente, acompanham os desejos das meninas", conta. "A minha mãe passou a vida com o coração nas mãos - se calhar, ainda passa um bocadinho".

"Fiz ballet clássico durante oito anos. Até hoje não percebo como. Depois percebi, com a ajuda do meu pai, que não tinha jeito nenhum para aquilo - foi a única pessoa que teve coragem de me dizer e de me aconselhar a procurar outra atividade desportiva", recorda divertida.

Mesmo com essa influência paterna, Patrícia Gaspar diz nunca ter imaginado seguir uma carreira nas Forças Armadas. "Até porque, durante muitos anos, isso nem sequer era possível. Quando entrei para a faculdade, ainda não eram admitidas mulheres nas Forças Armadas nem nas Forças Policiais", afirma.

Acabou por seguir o percurso regular, licenciando-se em Relações Internacionais. A Marinha foi uma oportunidade que seguiu mais tarde e que, admite, ao princípio estranhou, mas agarrou.

Mulher(es) de força

Apesar do longo percurso, em que percorreu vários ramos das Forças Armadas e da Proteção Civil, Patrícia está longe de ter uma atitude austera.

É conhecida por ser uma grande contadora de histórias, que nunca se inibe de contar uma anedota. "Durante muitos anos, lembro-me de ter um repertório e de estar cerca de duas horas a contar anedotas quase à desgarrada. Hoje em dia, já menos", conta.

Quando lhe é pedido que nomeia uma mulher que represente uma referência para si, Patrícia não hesita na resposta: a mãe. "Foi uma pessoa que me acompanhou a vida toda".

"A minha mãe puxou-me sempre mais para o lado sentimental, que nós nunca devemos perder", afirma.

Enquanto mulher numa cargo de poder, a 2.ª comandante operacional da Autoridade Nacional da Proteção Civil destaca a importância da mudança da posição da mulher na sociedade.

"Recentemente, tivemos uma mulher a candidatar-se a um dos lugares mais importantes da cena internacional, a presidência dos Estados Unidos da América", sublinha. Uma mulher que não ganhou. Mas o mundo não perde pela demora. "Estou convencida de que, se não foi desta, será numa próxima oportunidade", assegura.

Perante a sugestão de Fernando Alves, de um programa na TSF assinado pela voz desta representante da Proteção Civil, Patrícia Gaspar responde prontamente que, perante tal convite, "diria que sim". Fica a ideia no ar.

Fonte: TSF

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