Que fique claro. Por princípio não estamos de pé atrás, não temos quaisquer reservas mentais contra nada nem ninguém. Aliás, temo-lo dito, estamos disponíveis como sempre para analisar, participar e intervir no debate em torno das mudanças que venham a ocorrer no âmbito da proteção e socorro em Portugal. Temos consciência da história que transportamos, dos princípios que nos foram legados, das obrigações a que nos votamos no presente e da valia que terão todas as mudanças que permitam proteger e socorrer melhor os nossos concidadãos.
As Resoluções do Conselho de Ministros, já publicadas no Diário da República, e as medidas anunciada na Assembleia da República, em sede de discussão do Orçamento de Estado para 2018, têm-nos suscitado algumas questões, algumas dúvidas, algumas reservas até.
Ouvimos falar de mais elementos para os GIPS/GNR, que poderão vir quase a duplicar em breve, mais guardas florestais, em igual medida, milhões para o ICNF se equipar com meios, nomeadamente viaturas, para combate a incêndios florestais, verbas também significativas para designados projetos de prevenção estrutural de parques ou zonas protegidas e, inclusive, para a criação do denominado programa “Voluntariado Jovem para a Natureza e Florestas”.
Nada temos contra decisões que cabem exclusivamente ao Governo, e das quais apenas a ele caberá dar resposta e prestar contas. Contudo, é lícito e justo que nos interroguemos a nós próprios e questionemos quem de direito sobre o que caberá aos bombeiros, seja ao nível específico das missões e dos meios associados, seja ao nível geral da estratégia, da filosofia e da própria mudança paradigma que se pretende construir.
A generalidade das questões que têm sido lançadas pelas entidades oficiais, no fundo, correspondem a muitos dos temas e propostas que a Liga dos Bombeiros Portugueses tem avançado em sede própria e na oportunidade adequada, ou seja, muito antes de as vermos agora citadas., nomeadamente, mais profissionais nas Associações Humanitárias de Bombeiros através da instalação e reforço de equipas EIP há muito reclamadas por nós. Ao vê-las retomadas e apontadas positivamente, à partida, só temos que nos congratular com isso. E, não pondo em causa a bondade e a boa fé de quem agora também as escolhe como importantes, até prioritárias, apenas desejamos ver salvaguardada a lógica e o sentido com que antes foram por nós formuladas. A Direcção Nacional de Bombeiros Autónoma, Independente com Orçamento Próprio, bem como o Comando Autónomo dos Bombeiros e criação de Zonas Operacionais. Estas propostas, entre muitas outras, foram sufragadas há muitos anos a esta parte, posteriormente entregues ao Governo e até hoje sem resposta.
A nova Lei Orgânica para a ANPC, agora anunciada, que saudamos, será sem dúvida uma boa notícia se for ao encontro das nossas propostas, e contemple as nossas justas reivindicações. Desde já, reiteramos a nossa vontade e disponibilidade para participar em todo o processo. Mas, nesse anúncio oficial, ao defender-se a medida com a necessidade de melhor adequação dos serviços, nomeadamente, ao combate aos incêndios florestais, julgamos tratar-se de uma atitude precipitada e redutora que não poderá alhear-se em circunstância alguma em termos técnicos e operacionais do facto desses incêndios, no caso dos Bombeiros, dizerem apenas respeito a 7 % da sua multidisciplinar atividade. Assim, no tocante aos bombeiros e à lógica que preside a todo o universo da proteção e socorro importa que a mudança e as alterações associadas se inscrevam num sentido mais lato, ou seja, abrangendo com igual atenção e validação todas as restantes missões que estão confiada aos bombeiros.
Para tal, sublinhe-se, importa também ver esclarecida a questão de fundo da sustentabilidade das missões de proteção e socorro, mas também dos meios que é necessário colocar ao serviço das Associações e outras Entidades Detentoras de Corpos de Bombeiros. Por tudo isso, é necessário e urgente consolidar propostas concretas e objetivas. Temo-las feito, por exemplo, quando reivindicamos a retoma dos planos de reequipamento, avaliados e propostos a partir da base distrital. Importa ainda saber sobre o que se vai passar no futuro ao nível dos apoios do Estado para esse efeito. Há muito que o Orçamento de Estado, ao contrário do que se passou durante décadas, deixou de participar diretamente no reequipamento dos bombeiros. Em alternativa, os sucessivos Governos optaram pelo recurso aos fundos comunitários, sobre isso nada temos a opor a não ser o facto de todo o processo passar ao lado da Liga dos Bombeiros Portugueses em total desrespeito pela Lei e pelo bom relacionamento institucional que se deseja. O Estado passou a reservar-se o direito de cercear o acesso às candidaturas e às verbas com pareceres tantas vezes polémicos, fazendo de mero crivo cego sem atender, como tenho dito e repito, às necessidades globais justa e devidamente priorizados.
Perante este cenário, cumpre-nos questionar se foi por estas razões, ou por parte delas, que a LBP foi afastada das comissões paritárias, por onde devia passar obrigatoriamente a análise de todos os projetos.
É sobre tudo isto que teremos que dar continuidade a um profundo e sério debate. Na certeza, porém, de que tudo o que aposte no reforço, na economia, no financiamento e na eficácia dos meios contará, à partida, com o nosso apoio. Mas, para lá chegar, sublinhe-se, importa definir uma estratégia transparente e séria. Para já, em nosso entendimento, o somatório de medidas que vão sendo anunciadas, só por si, não são uma estratégia convincente, muito longe disso.
Aguardemos: Como S. Tomé, ver para crer.
LBP
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