Mais Respeito, a Nós Bombeiros - VIDA DE BOMBEIRO

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quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Mais Respeito, a Nós Bombeiros


Há alguns dias fiz um desabafo, nas redes sociais, por não perceber a falta de reconhecimento a estes senhores que se incendeiam de vontade, para apagar os fogos alheios.

Agora que acabou a fase Charlie, e em que os grupos de Ecin ficam bastante reduzidos, é peremptório dizer; 
“Mais respeito a nós Bombeiros”.

Ao longo dos últimos meses foram muitos os envolvidos nestes grupos de combate a incêndios, este ano, felizmente, alguns quase nem saíram dos seus corpos de Bombeiros, mas nem assim deixaram de cumprir com as suas obrigações, fazendo um pouco de tudo nos seus respetivos quartéis. Sempre que eram solicitados para intervir, partiam para o desconhecido sempre com a mesma dedicação, sempre com intuito de ajudar quem precisava de auxílio. Felizmente, durante este verão, todos aqueles que foram, voltaram, ao contrário do ano que passou.

Dou por mim a pensar no que irá ser o ano de 2015, fico com a ideia que será um ano muito difícil para nós Bombeiros, as matas estão a pedir fogo, e alguns proprietários até agradecem a “limpeza”.

As chamas são tragicamente bonitas. O efeito nefasto delas, não apaga um certo brilho cintilante que elas oferecem às imagens aéreas, ou térreas, de florestas e matas a arder. É doloroso percebermos tudo o que se passa em torno daquelas populações aflitas, daqueles idosos que, ano após ano, aparecem nos noticiários em lágrimas, a relembrar o quanto perderam, o investimento de uma vida esfumaçado, enquanto outros regozijam sadicamente com essa beleza natural das chamas.

Não posso crer que tudo se deva a matas mal limpas, a descuidos de investimento nas suas limpezas. Em muitos casos é isso que sucede, sem dúvida, mas em muitos outros há mãos assassinas. Sim, assassinas.

Um incendiário é um assassino, mesmo que não morram bombeiros ou habitantes.

É assassino porque mata o verde que nos enche os pulmões; é assassino porque desfalece a alegria das pessoas. Os incendiários deveriam ser tratados, em tribunal, como assassinos. Não os suporto! Se gostam de fogo, pois que comprem isqueiros e lhes peguem as chamas aos pelos do corpo, que se rejubilem com os seus próprios corpos em chamas.

No meio desta questão complexa dos meses do Verão, existem corporações de voluntários, pessoas com famílias, jovens com estudos acabados, que se colocam em risco, como se para eles não existisse risco, como se o único risco fosse as pessoas ficarem sem os seus pertences. Nós, não somos heróis, os heróis são ocasionais. Nós somos deuses. Só deuses, ou anjos, se sujeitam ao que nós nos sujeitamos.

Ontem revi uma reportagem do sobrevivente do carro dos bombeiros incendiado, com marcas visíveis no corpo todo, a lamentar não lhe darem alta para ajudar no combate aos fogos, numa fase mais atormentada. Arrepiou-me a pele e o coração. Tamanha vontade não deveria ser condecorada somente com medalhas ocasionais. Estas pessoas, dispostas a tudo pelos outros, deveriam receber por cada aventura desventurada em que se metem. Não é justo não recebermos, não se percebe como não recebemos!

Como podemos ter a natureza salvaguardada pela vontade voluntária de alguém? Como podemos pagar serviços externos por tudo e por nada e depois esperar que pessoas como nós protejam populações e investimentos de uma vida voluntariamente?

Não percebo. Admiro a nossa coragem, a nossa entrega e a devoção das pessoas que como eu se voluntariam, que não querem saber de mais reconhecimento do que a sensação de dever cumprido.

Não me concebe pensar que um salvador, um Deus, um anjo, tenha o seu emprego que mal lhe paga as contas e depois ainda se arrisque a desaparecer, a deixar a família, por um voluntariado que o estado não reconhece. Aliás, ainda nos cortam os veículos, os apoios. Querem bombeiros, querem que sejam voluntários, mas não querem que lhe pesem nas contas.

Ser bombeiro não é uma carreira, porque o estado quer voluntários. Mas ser bombeiro não é uma ambição, é um estado de alma, uma desventura da sorte. É uma profissão sem ordenado, que só os anjos podem almejar.

O meu obrigado, e reconhecimento, para todos nós bombeiros deste nosso país!

E permitam-me que diga:
“Mais Respeito a Nós Bombeiros”

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