Comandante dos Bombeiros diz que “Podiam Ter Sido Milhares de Mortos” - VIDA DE BOMBEIRO

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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Comandante dos Bombeiros diz que “Podiam Ter Sido Milhares de Mortos”


"Falhou tudo. Nada funcionou. Não havia homens, nem carros. Houve grande força de vontade dos poucos bombeiros que combateram o fogo, evacuaram aldeias e salvaram muitas pessoas. Há a lamentar estas mortes [ontem estavam contabilizadas 42 vítimas mortais] mas só nos concelhos do distrito de Viseu poderiam ter morrido milhares de pessoas. Foi um milagre isso não ter acontecido", diz Hélder Mota, comandante dos Bombeiros de Santa Comba Dão, um dos concelhos que foi consumido pelo fogo que começou no concelho da Lousã.

As comunicações entre bombeiros e comandantes que ontem o CM revelou demonstram a aflição vivida pelos operacionais no combate ao incêndio que no domingo à noite e madrugada de segunda-feira espalhou o pânico e a destruição no sul do distrito de Viseu. 

Os comandantes dos bombeiros das zonas mais afetadas depararam-se "com um monstro" para os quais não tiveram capacidade de resposta. "Eram muitas solicitações para tão poucos homens. Foi um monstro que engoliu a floresta, automóveis e casas. Matou pessoas. Na zona sob meu comando voltou a falhar tudo: Siresp, rede operacional dos bombeiros, reforço, tudo. O combate a este fogo fez-me lembrar a forma como se combatia os fogos há 25 anos. Andamos para trás e o socorro é que paga", desabafa Francisco Lima, comandante dos Bombeiros de Santa Cruz da Trapa. 

Em Oliveira de Frades, o cenário foi o mesmo: muito fogo, pouca gente para o atacar. "Foi impressionante a grandeza deste fogo. Preparamo-nos durante o dia para o pior e a partir do meio da tarde os incendiários começaram a deitar fogo. Eram ignições a cada dois minutos. Foram ondas de fogo que levaram tudo pela frente, como um tsunami", diz Fernando Farreca, comandante dos Bombeiros de Oliveira de Frades. Em Carregal de Sal, onde morreram duas pessoas, evacuaram-se cinco aldeias. "Poupamos muitas vidas", garante Filipe Lopes, comandante em substituição dos Bombeiros de Carregal do Sal. 

Homem queimado morre e engrossa lista da tragédia 

"Tivemos conhecimento esta manhã [ontem] de mais uma vítima mortal no concelho de Carregal do Sal. É um homem, de 68 anos, de Cabanas de Viriato, que tinha sofrido queimaduras em cerca de 40% do corpo e que morreu no Hospital do Porto", disse ontem ao CM o edil Rogério Abrantes. António Jesus, 76 anos, natural de Papízios, também morreu. 

Está desaparecido em Folgosinho   

Desde a manhã de terça-feira que a GNR de Gouveia procura o rasto de Rui da Costa, de 49 anos, em Folgosinho. Foi visto pela última vez à meia-noite de domingo pela GNR que cortava a estrada por causa do fogo. "À volta ardeu tudo" diz Rui Gaspar, tio do homem. 

Fogos afetaram distribuição do CM 

Muitos leitores em todo o distrito de Viseu viram-se impedidos de comprar o Correio da Manhã na segunda-feira, já que a distribuição foi afetada pelos incêndios. As estradas cortadas impediram a passagem das carrinhas. A distribuição já se encontra normalizada. 

"É um perigo para a nossa saúde" 

Lobão da Beira, em Tondela, ficou rodeada pelas chamas. A localidade viveu momentos de terror e os que lá habitam não conseguem esquecer. "Era fogo por todo o lado, um barulho assustador. Parecia um vulcão. Eu não fiquei no meio das chamas graças a Nossa Senhora de Fátima", contou ontem Carlos Paiva, de 58 anos. O pastor está desolado. Dentro do armazém que não conseguiu salvar ainda continuam 108 ovelhas carbonizadas. "Não sei o que é preciso fazer para virem tirar daqui as ovelhas. É um cheiro intenso e um perigo para a nossa saúde. Era disto que eu vivia. Agora, não tenho quase nada", explicou. Isabel de Jesus, de 58 anos, também perdeu tudo. 

"Para além das batatas, cebolas, coelhos e galinhas, fiquei com a casa quase toda destruída e sem condições. Tenho dormido em casa de um amigo e preciso que resolvam o meu problema", desabafou. Mais à frente encontrámos Lúcia Figueiredo, de 56 anos. Da casa dos sogros restam apenas as paredes. O resto ardeu. "A casa tinha um recheio avaliado em milhares de euros, entre loiças, mobília e uma biblioteca. Tudo se perdeu. Estamos  perturbados", conta.

Fonte: Correio da Manhã

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