Quem Ajuda os Bombeiros Depois de Uma Situação Traumática? - VIDA DE BOMBEIRO

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quarta-feira, 28 de junho de 2017

Quem Ajuda os Bombeiros Depois de Uma Situação Traumática?


Equipas de psicólogos especializados dirigiram-se a Pedrógão Grande para dar apoio psicológico a quem combate as chamas. Saiba como funciona

Os bombeiros ajudam as pessoas em perigo, mas quem lhes presta socorro a eles? Quando um incêndio de grande intensidade deflagra em Portugal, como aconteceu em Pedrógão Grande, centenas são chamados a responder ao local encontrando muitas vezes situações potencialmente traumáticas que os podem marcar para a vida.

As Equipas de Apoio Psicossocial respondem ao problema. Estes bombeiros e psicólogos tentam dar uma resposta rápida, agindo nos primeiros dias que se seguem ao incêndio. Rui Ângelo, coordenador nacional das Equipas de Apoio Psicossocial (EAPS) da Autoridade Nacional da Protecção Civil, conta à SÁBADO que o modelo de apoio psicológico de emergência que é aplicado a operacionais é bastante diferente do que é prestado a civis. 

Esta diferenciação prende-se com o perfil e a experiência que os bombeiros ou militares têm em relação à restante população. "É totalmente diferente ter um idoso exposto a um incêndio florestal ou um bombeiro. A interpretação dos eventos é distinta, logo o apoio psicológico prestado também o é", explica o coordenador nacional das EAPS. Se os civis costumam ser "apanhados pelo fogo", os bombeiros vão em "busca do incêndio para o combater", estando mais mentalmente preparados.

O equipamento e a preparação física e técnica adquiridas pelo bombeiro durante a sua formação faz com que este tenha um controlo "muito superior" quando encarado com uma situação de perigo. Para Rui Ângelo, a forma como se lida com as chamas é também importante para perceber a diferença no apoio que se dá. 

Rui Ângelo revelou que não existem programas de treino psicológico específicos para bombeiros. As reacções diferem de acordo com o tipo de treino recebido: "Um bombeiro que tenha treinado e tenha a formação adequada para combater um incêndio florestal vai estar melhor preparado, do ponto de vista psicológico, para gerir um fogo dessa natureza do que um que nunca tenha tido formação neste tipo de incêndios".

Quando questionado se os bombeiros portugueses estão psicologicamente preparados para enfrentar situações como o incêndio que vitimou mortalmente 64 pessoas, Rui Ângelo explica que existem "bombeiros profissionais, voluntários e ainda bombeiros voluntários com muitas horas de formação", sendo impossível dizer com certeza se estão ou não preparados, acrescentando ainda que "mesmo um bombeiro com toda a formação e preparação física possível tem um limiar de resistência psicológica perante um acidente".

Alguns operacionais no terreno encontram-se a combater as chamas desde sábado a dormir poucas horas, o que coloca mais pressão sobre a sua resistência psicológica. A solução pode passar por uma maior rotatividade das equipas, apesar de reconhecer que "num cenário tão intenso" como o vivido nos últimos dias "se torna mais complicado".  

No local, enquanto as operações decorrem, muitas vezes dá-se uma resposta aos que possam ter presenciado um evento mais traumático, como os que responderam às primeiras horas, ou os que encontraram as vítimas mortais. 

Esse primeiro contacto, por norma, é feito no sentido de "aumentar a capacidade de gestão de stress de um bombeiro a nível individual" ou de conseguir "diminuir a probabilidade do mesmo vir a desenvolver algum problema psicopatológico" depois. As equipas de psicólogos são bastante importantes no momento de triagem inicial, tomando atenção aos mais necessitados de um "acompanhamento de emergência". Rui Ângelo explica ainda que muitas vezes os bombeiros não recebem ajuda enquanto as operações estão a decorrer já que estão focados na sua missão. Se for necessário um acompanhamento posterior, esse será continuado pelo Serviço Nacional de Saúde.

Quanto ao incêndio em Pedrógão Grande, Rui Ângelo explica que o "número ideal seria um psicólogo por cada bombeiro que lá está". No entanto a resposta tem sido "bastante maior do que é o normal".

Fonte: Sábado 

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