Bombeiros. Hugo Gonçalves, um dos 52 elementos da força de elite, contou ao DN a experiência no combate aos incêndios naquele país
Hugo Gonçalves saboreia por estes dias a paisagem de Castelo Branco. À volta da Base de Apoio Logístico (o novo aeródromo) não se ouve muito mais do que o barulho dos pássaros. É ali que retoma a normalidade da vida e se adapta outra vez ao inverno, depois das semanas escaldantes do Chile: faz parte da Força Especial de Bombeiros, uma espécie de tropa de elite que deixa nome no mundo e recebe aplausos nos aeroportos quando regressa a casa, como se tivesse conquistado uma medalha para Portugal. Foi assim a 13 de fevereiro, quando os 50 bombeiros portugueses deixaram o território chileno, onde tinham aterrado no final de janeiro, para ajudar a combater os incêndios de dimensão gigantesca que lavraram durante várias semanas e consumiram mais de meio milhão de hectares em sete das 15 regiões do país. Uma área equivalente a duas vezes o tamanho do Luxemburgo, por exemplo, como assinalava a Euronews.
Entre os 52 portugueses estava Hugo Gonçalves, 34 anos, residente em Castelo Branco, mais de metade da vida dedicada aos bombeiros. Entrou para os Voluntários de Pombal (de onde é natural) quando ainda nem tinha completado 18 anos, e foi lá que ganhou o gosto pelo combate ao fogo e pelo salvamento. Foi ficando, enquanto fazia toda a formação na área, desde o desencarceramento à organização de postos de comando. De modo que, quando abriu o concurso público para vagas na Força Especial, candidatou-se. Foi parar a Beja, de onde só sairia pela escada do casamento, que o levou até Castelo Branco. Era lá que estava quando o comandante José Realinho o convocou para a missão do Chile. Ao início, "foi uma grande expectativa. Iríamos ajudar um país que já nos ajudou no passado, numa área que é do nosso conhecimento e especialidade, que é o combate aos incêndios florestais por meio de material sapador, com abertura de faixas de contenção no combate indireto, ou faixas de segurança no combate direto", contou ao DN. Tal como Hugo, todos os elementos são treinados para cenários difíceis. E desta vez tratava-se de retribuir um esforço impagável: em 2006, morreram em Portugal cinco bombeiros chilenos, enquanto combatiam um incêndio no interior do concelho da Guarda.
Chegar onde os veículos não vão
Uma vez integrados no terreno, através da Força Especial de Bombeiros no Dispositivo de Combate a Incêndios Florestais Chileno, os portugueses começaram a trabalhar: "No teatro de operações foram efetuadas faixas de contenção (aproximadamente 12 km) e a consolidação do rescaldo (cerca de 10 km) num total de 22 km de trabalho efetivo", relata Hugo Gonçalves, enquanto recorda a deslocação "sempre apeada" e o trabalho desenvolvido "unicamente com material sapador", que acabou por ter um resultado "extremamente positivo e permitiu-nos chegar a sítios onde os veículos nunca conseguiriam". O maior desafio? "Sem dúvida as longas horas de trabalho e a temperatura... fora do nosso hábito corporal, dado que cá é inverno." Os bombeiros europeus confrontavam-se então com a humidade e as temperaturas elevadas, "o peso do material transportado e necessário para conseguirmos trabalhar onde mais ninguém ia, tais como cerca de 4 a 5 litros de água, comida, e todo o material de segurança obrigatório neste tipo de cenários". Hugo Gonçalves resistiu a esse cenário ao longo de 18 dias de missão, "com uma receção oficial e popular como pouco se vê".
A missão do Chile foi a segunda deste membro da FEB. A primeira foi mais marcante - ao Haiti, em 2010, na sequência do sismo que provocou "um elevado nível de destruição". "Foram duas missões completamente distintas. No Haiti envolveu demasiadas vidas humanas, demasiada destruição... A contrastar com a força que tinham em sorrir por nos ver e por receberem ajuda", sublinha Hugo. Ainda hoje pensa naquele cenário de destruição de lares e milhares de mortos.
Quando os bombeiros portugueses embarcaram, a 27 de janeiro, lavravam mais de cem incêndios. Consumiam a floresta do Centro e do Sul do Chile, e já tinham provocado 11 mortos. Foi nessa altura que o governo chileno declarou o estado de emergência em várias regiões e pediu ajuda internacional. Os 52 portugueses juntaram-se ao grupo de 600 operacionais de 14 países. Ao todo, estima-se que mais de 10 mil homens e dezenas de aeronaves ajudaram no combate ao fogo.
Durante três semanas os bombeiros portugueses não tiveram mãos a medir, em resposta a um pedido de assistência internacional apresentado pelas autoridades chilenas, no quadro do Mecanismo de Proteção Civil da União Europeia.
Fonte: Diário de Noticias
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