O que se passou nos últimos dias em matéria de incêndios mostrou de forma evidente que este é um tema que nos deve unir como país, por forma a evitar a inenarrável sucessão de disparates com que vamos sendo intoxicados, enquanto parte do país arde nas zonas com maior concentração de floresta, este ano com a mistura trágica de componentes mais urbanas, como foi o caso do Funchal.
As televisões farejam a desgraça, se possível em direto, sendo que a inovação vai sempre no pior sentido, com ênfase no modelo dos alertas, iniciados pela CM, mas de imediato seguidos pelas restantes cadeias, pública e privadas. Quem está no Governo tende para o disparate, este ano com expoente na sábia e precoce análise do ministro que antecipou a maior eficácia no combate ao maior número de ignições. O foguete final do primeiro- ministro a anunciar mais uma reforma e um inquérito também não auguram nada de bom. Se no próximo ano o inverno for mais frio e menos chuvoso e o verão mais suave, lá virão alguns arautos anunciar a eficácia de tais medidas.
Estamos a falar de uma questão difícil. Quando as cem maiores empresas decidiram criar a COTEC elegeram a floresta e o combate aos incêndios como o seu primeiro grande projeto estratégico, anunciando resultados concretos para os anos seguintes. Tal como alguns governantes, ilustres responsáveis da instituição fizeram diagnósticos e propuseram soluções por cujos resultados ainda hoje esperamos passados catorze anos. Parece afinal que o tema merece ponderação e, sobretudo, decisões que posicionem as soluções a adotar como decisões de estado que a todos nos envolvam e nos sejam explicadas.
Se o número de graduados em ciência e engenharia florestal está próximo do grau zero, não pode o Governo criar um estímulo claro à recuperação desta área profissional? Se as áreas florestais têm um potencial económico concreto, não deve o Governo propor um programa de estímulo muito claro a esta fileira, tendo como alvo associações e empresas do setor, mesmo que isso signifique algum esforço público claro e bem explicado? Caso contrário, um inverno mais propício à criação e aumento do stock de combustível, o calor do verão e algum vento, infelizmente ajudados por alguns atos de loucura humana, serão suficientes para queimar as inócuas e inconsequentes intenções do período de rescaldo.
Emidio Gomes, PROFESSOR CATEDRÁTICO DA U. PORTO
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