Julho foi o segundo mais quente desde 1931. Curiosamente, ou não, há razões para isso, a área ardida é das mais baixas da última década. Boas notícias. Aparentemente, sim. Todavia, a realidade não é animadora. À força de centenas e centenas de hectares ardidos, ao longo das últimas décadas em Portugal, as chamas banalizaram-se. Se é mato, pouca importância tem.
Não é verdade. Com a classificação de mato, ardem dezenas de hectares de floresta. Ontem, na freguesia da Gavieira, no coração do Parque Nacional da Peneda-Gerês, "ardia mato", segundo a página da Autoridade Nacional de Proteção Civil. Na mesma zona, quinta-feira à noite, deflagrou um outro incêndio, no Ramiscal, zona de reserva integral do Parque Nacional. O mato de que fala a Proteção Civil são afinal carvalhos-alvarinho e azevinhos... e habitat de corços, lobos, gatos-bravos, entre outras espécies que deviam estar protegidas. As zonas mais importantes em termos de biodiversidade no Parque Nacional, como é evidente, são de difícil acesso, mesmo para os meios dos bombeiros. Muitas vezes, apenas é possível chegar a pé ao local onde lavram as chamas. Mas na última década, pelo menos, é a segunda vez que o fogo ataca o Ramiscal.
São incêndios isolados, não ameaçam habitações, apenas a natureza no seu estado mais puro. E assim, lentamente, o país vê-se privado de uma das suas maiores riquezas: a floresta. Todos os anos, de acordo com dados divulgados ontem pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, arde 2,2 por cento da nossa floresta. Aqui, somos campeões há muito: é o valor mais alto da Europa e o 11.º a nível mundial, segundo os investigadores da Universidade trasmontana.
O mês de julho, que há dias findou, espevitou muitos fogos, todavia pouco vorazes. A chuva abundante, durante o inverno e a primavera, tem limitado a capacidade de propagação dos incêndios. O verão está aí. E nada está ganho. Mantenho a minhas dúvidas, não sei se, no final da época do fogo, os balanços serão positivos como agora. E voltaremos a lamentar a área ardida. Mas isto não pode ser um eterno lamento, é um problema gravíssimo. E os problemas gravíssimos combatem-se na altura certa. Só assim terá algum efeito a terapia.
*EDITORA-EXECUTIVA-ADJUNTA JN
Paula Ferreira
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