Ao longo da história tem sido um verdadeiro lugar comum constatar que se tornou habitual, recorrente, ver as associações de bombeiros avançarem e o Estado, sem rebuço, tirar partido disso sem avançar primeiro com quaisquer tipo de apoios.
Falo dos sucessivos investimentos que as associações de bombeiros têm feito ao longo dos anos, cientes da importância em equiparem-se melhor, em prepararem-se melhor e em intervirem melhor. São novas disciplinas, são novas ferramentas, são novas competências e resultados de eficiência e eficácia para que, habitualmente, as associações de bombeiros têm concorrido sozinhos.
É uma atitude recorrente por parte do Estado constatar essas melhorias, essa evidência, para só mais tarde, e quando o faz, acompanhar os bombeiros com alguns apoios. Célere, também recorrente, é em saber tirar partido daquilo para que não contribuiu, ou pouco ou nada ajudou a obter.
O mundo de hoje evolui todos os dias. O que ontem era novidade hoje já é passado. O equipamento de socorro que ontem estava na primeira linha hoje já tem substituto.
O mundo evoluiu de forma acelerada e todos os dias surgem novos materiais, novos equipamentos e novos tipos de estruturas. A acrescentar a isso, estão novos hábitos de vida, novas práticas e modalidades de lazer que passam a exigir também novas técnicas e novas formas de socorro.
Os bombeiros, atentos a todos esses fenómenos, de forma muito proactiva, têm-se abalançado a novas especialidades, novas tecnologias para que o socorro seja cada vez melhor e mais rápido.
Especialidades, como o salvamento e desencarceramento, o grande ângulo, o mergulho, as equipas cinotécnicas, o socorro em estruturas colapsadas, o socorro pré-hospitalar sofreram nos últimos anos mudanças e evoluções fantásticas. Mudanças que permitiram aos bombeiros dar enormes saltos na execução do socorro. Fizeram-no, no primeiro momento, por si próprios em todas elas, durante muito tempo nalgumas e, inclusive, assim continuam nas restantes. Algumas destas disciplinas passaram, entretanto, a constar do programa de formação da ENB. Mas os investimentos têm continuado a ser feitos às costas das associações, com honrosas excepções para intervenção de benfeitores e de um número crescente de autarquias.
Como traço comum, em todas estas especialidades aqui referidas, a capacidade do Estado em apoiar tem sido sempre lenta, arrastada ou até inexistente.
Mas, conhecedor da existência dos meios e das novas competências, o Estado é frequentemente rápido e insistente a solicitar, até exigir, a intervenção dos bombeiros para actuarem com as novas valências.
Passaram-se anos, muitos anos, até que o Estado começasse a assumir o salvamento e desencarceramento como deve ser, inclusive no apoio à aquisição de equipamentos para tal. Na Associação de que faço parte foram necessários mais de 30 anos para que tal acontecesse.
No mergulho ainda nem chegámos aí. No grande ângulo, evoluiu-se mas ainda muito logo dos mínimos. No mergulho, ainda pior, com frequentes pedidos para a intervenção dos mergulhadores dos bombeiros sem que o próprio Estado contribua para a sua criação e manutenção. E o domínio das estruturas colapsadas orienta-se pelo mesmo diapasão.
No caso do pré-hospitalar, apesar de ter até criado um Sistema Nacional de Emergência Médica (SIEM), o Estado demitiu-se da antiga obrigação de entregar ambulâncias de socorro às associações e corpo de bombeiros que não fossem posto de emergência do INEM (PEM) e, inclusive, de dotá-las do equipamento necessário para qualificar a prestação de socorro nesse domínio.
Sobre as equipas cinotécnicas dos bombeiros o problema é o mesmo. São desconhecidas do Estado até que ele precisa delas. Aí, também não tem rebuço em pedir que intervenham, mesmo que, como se sabe, não tenha contribuído em nada para que existam. Infraestruturas, formação e manutenção, inclusive rações e cuidados veterinários para os animais, ficam ao cuidado dos próprios bombeiros.
As associações e corpos de bombeiros, estou certo, por si próprias, irão continuar a fazer enormes investimentos para a obtenção de conhecimentos e ferramentas, com os resultados que são sobejamente conhecidos e reconhecidos.
Será bom que um dia o Estado os saiba acompanhar. Essa obrigação resulta do estrito cumprimento da legislação em vigor. É uma obrigação do Estado fazê-lo. Bem prega Frei Tomás!
LBP
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