Não Envergonha Ninguém Dizer Obrigado - VIDA DE BOMBEIRO

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quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Não Envergonha Ninguém Dizer Obrigado


Quantas são as pessoas socorridas e até salvas pelos bombeiros que, por diversas razões, não sabem expressar e assumir o reconhecimento pelo gesto, pelo momento crucial em que um bombeiro os ajudou, os confortou e amparou, os socorreu ou até os resgatou de um desfecho dramático.

Não é para que lhes agradeçam, não é para isso que lá vão, é o que dizem os bombeiros, mesmo que, assumam os riscos que correm, as dificuldades extremas que sentem, os enormes obstáculos, os elementos meteorológicos, o próprio terreno ou as circunstâncias que incontornavelmente os desafiam.

Os testemunhos de muitos deles são conhecidos. Não há duas situações iguais mesmo que em condições porventura idênticas. Há sempre algo que faz a diferença. Há sempre alguma coisa que diferencia entre sinistros aparentemente semelhantes. Os bombeiros preparam-se para isso, treinam e simulam todas as situações possíveis e imaginárias. Para tal, pedem também as devidas ferramentas, não para seu deleite, como alguns podem imaginar irresponsavelmente, mas para tentar satisfazer todas as necessidades que uma manobra de socorro pode exigir, até ao limite, até ao sucesso de salvar uma vida.

Mas mesmo assim, mesmo que satisfeitos todos os requisitos técnicos, conhecimento, treino, preparação, em cada intervenção pode haver momentos novos ou até inéditos em que o bombeiro é posto ainda mais à prova. Para encará-los e ultrapassá-los com sucesso, por certo, fará apelo ao conhecimento e ao treino efectuado mas, em muitas circunstâncias, depois de equacionadas as normas de segurança, ficará expressa a abnegação e o espírito de sacrifício em prol dos outros. E para tal arrisca-se ainda mais.

Não quero com esta apreciação fazer qualquer apelo ou apologética ao desrespeito pelas normas de segurança e à obrigação do bombeiro em salvaguardar também a sua própria integridade física. Tudo isso é verdade, é importante e deve ser cumprido. Mas também todos sabemos que há circunstâncias em que há um momento de ouro, que não se repete e que é determinante, em que muitas vezes só o risco, não inconsciente mas plenamente assumido, pode fazer a diferença entre o sucesso e o insucesso do socorro. E, nessas situações, os bombeiros arriscam-se. Fazem-no com a convicção da sua missão e do seu papel na sociedade. Mas esta, ao contrário, nem sempre reconhece nem agradece esse gesto, porventura até momentâneo, mas que determina o desfecho de tudo o que se passou até ali no teatro de operações e, em particular, no cuidar de salvar a vida a alguém.

Mas a tantas dessas provas de amor ao semelhante, com risco da própria vida, nem sempre há a devida correspondência, um gesto de agradecimento, uma palavra que tarda ou nem chega a acontecer. É pena, mesmo que isso não seja determinante para que o bombeiro, porventura, volte a fazer o mesmo.

Há excepções a isso, há episódios memoráveis de vítimas agradecidas a testemunhá-lo a quem os resgatou, como aliás, temos procurado evidenciar nas páginas deste jornal.

Mas, apesar disso, o défice é grande. Não é para isso que os bombeiros vão, todos sabemos. Mas também sabemos que isso aquece o coração. E não envergonha ninguém dizer um simples obrigado.

LBP

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