Parte de uma fábrica de móveis de Vilela, em Paredes, ficou destruída por um fogo que deflagrou na sexta-feira da semana passada.
O fogo começou durante a noite e provocou prejuízos avultados. Desde o início do ano, este é o quarto incêndio em fábricas ligadas ao sector do mobiliário em Paredes e Paços de Ferreira. Um número que fontes ligadas à segurança e protecção civil não estranham.
Segundo estas fontes contactadas pelo VERDADEIRO OLHAR, o facto de muitas das empresas serem antigas, não cumprirem as normas de segurança impostas por lei e estarem a laborar em pavilhões antigos e localizados em zonas residenciais são factores de risco que proporcionam a deflagração destes incêndios que, em alguns casos, causam feridos e mortos.
30 bombeiros combateram chamas
Passavam poucos minutos das 21h00 da sexta-feira da semana passada quando os Bombeiros Voluntários de Lordelo receberam o alerta para um incêndio industrial. À chegada a Valcisão, em Vilela, Paredes, os bombeiros encontraram uma fábrica de cadeiras com chamas no seu interior. "Com o ataque musculado dos bombeiros, o incêndio ficou restrito à casa das máquinas", recorda o comandante da corporação de Lordelo, Pedro Alves.
O mesmo responsável revela que o fogo chegou a ameaçar uma fábrica de polimentos situada nas redondezas. "O fumo chegou a entrar nessa unidade fabril. Se a intervenção não fosse tão rápida poderia também ter ardido", acrescenta Pedro Alves, que liderou uma equipa de cerca de 30 homens das corporações de Lordelo, Rebordosa e Paços de Ferreira.
Este incêndio provocou prejuízos avultados e ainda um ferido ligeiro.
Homem morreu em Rebordosa
O fogo da sexta-feira da semana passada foi o quarto, desde o início do ano, em fábricas ligadas ao sector do mobiliário e localizadas em Paredes e Paços de Ferreira. Logo em Fevereiro, todas as máquinas e parte das instalações da "Maximine Barbosa Nunes, Lda", de Vilela, arderam durante um fogo que deflagrou pelas 3h00 de uma terça-feira. Na altura, o dono da empresa falou num prejuízo a rondar os 300 mil euros, coberto por um seguro que não pagava mais do que 70 mil euros.
Três meses depois, foi a empresa "Miguel Brito", em Penamaior, Paços de Ferreira, que ficou parcialmente destruída. O fogo começou, mais uma vez, durante a madrugada e também envolveu três corporações de bombeiros.
Já em Outubro, o armazém da Sopotin, uma empresa de tintas e vernizes, sedeada em Vilela, ardeu quase por completo. As chamas começaram quando estava a ser feita a trasfega de diluente. A explosão que se seguiu provocou ferimentos num funcionário de 21 anos.
Menos de um mês depois, um homem de 40 anos faleceu depois de não ter conseguido fugir das chamas que destruíram a "MR Polimentos". A fábrica de polimentos estava a laborar numa manhã de sábado e o fogo, cujas causas ainda não foram apuradas, provocou outros dois feridos.
"Normas de segurança não são cumpridas"
Fontes contactadas pelo VERDADEIRO OLHAR, não estranham este número de fogos em fábricas ligadas ao sector do mobiliário. Sem quererem identificar-se, alegam que, em muitas empresas, as "normas de segurança exigidas por lei não são cumpridas". "As matérias-primas, nomeadamente madeiras e diluentes, que são materiais muito inflamáveis, não estão acondicionadas devidamente. Também não há portas de corta-fogo entre as diferentes divisões das fábricas", diz.
Por outro lado, salientam que a existência de muitas unidades industriais junto a habitações é um factor que aumenta o risco de incêndio. "É muito preocupante e põe em perigo as pessoas", garantem.
Assim, a solução passaria por "instalar todas as fábricas em zonas industriais", onde beneficiariam de novas instalações construídas de acordo com os requisitos de segurança impostos pela legislação. "Deviam ter e cumprir os planos prévios de auto-protecção, que exige, por exemplo, sistemas de sinalização de incêndio", sustenta uma das fontes.
Recorde-se que em Paredes e Paços de Ferreira estão sedeadas 61 por cento das empresas de mobiliário do país. Entre estas, estão cinco das 20 maiores de Portugal (com facturação acima dos cinco milhões de euros), mas o tecido industrial é também composto por pequenas unidades a funcionar em garagens e em armazéns com mais de 40 anos.
Em 2012, quatro armazéns ficaram destruídos
97 bombeiros combateram chamas durante toda a noite
Um dos maiores incêndios na região destruiu quatro fábricas de sofás, estofos e espumas em Vandoma, Paredes. O fogo aconteceu na noite de 3 de Maio de 2012 e obrigou à mobilização de 97 bombeiros de nove corporações, muitos dos quais só abandonaram o local às primeiras horas da manhã do dia seguinte.
Nas instalações das empresas "Feira dos Sofás", "Feira dos Colchões", "Cúmplice Design" e "Serra" trabalhavam cerca de 55 pessoas.
"Quando os primeiros homens chegaram ao local já nada havia a fazer. As fábricas estavam tomadas pelas chamas e a nossa preocupação foi uma oficina de automóveis e uma fábrica de móveis situadas ao lado do incêndio. Houve o perigo de as chamas alastrarem a essas empresas", explicou, à data, Delfim Cruz, comandante dos Bombeiros de Baltar, sem querer avançar causas para o início do fogo.
Em pouco tempo as chamas atingiram tamanha dimensão que puderam ser vistas a vários quilómetros de distância. "Fui dos primeiros a chegar. As fábricas estavam a arder por todo o lado. As chamas eram enormes. Era uma coisa só vista", descreveu Rui Eusébio enquanto os bombeiros combatiam o fogo em mais de cinco mil quadrados de pavilhões, um dos quais havia sido concluído há uma semana.
Fonte: Verdadeiro Olhar