A emigração está a fazer reduzir os efetivos em várias corporações de bombeiros do norte de Portugal. Um fenómeno que se faz sentir na zona da Cova da Beira e do interior do Porto. Os números apontam para a diminuição de dezenas de bombeiros, sobretudo nos últimos cinco anos, a maioria do sexo masculino, o que tem reduzido a capacidade de prontidão no socorro.
Na Cova da Beira, as corporações têm vindo a perder efetivos, devido à emigração e à mudança de voluntários para outras cidades, nas quais procuram emprego ou continuam os respetivos estudos.
Em Belmonte, em menos de dois anos, foram dez os que deixaram o corpo ativo da corporação, que chegou a ter cerca de 70 elementos e que atualmente não ultrapassa os 56, informou à agência Lusa o comandante António Leitão.
“Num corpo de bombeiros como o nosso qualquer perda é significativa, mas também temos que entender que as pessoas só estão onde há empregos e, como não os arranjam aqui, vão procurá-los para fora. Assim, a grande percentagem dos que saíram foram mesmo para o estrangeiro, sobretudo para a Suíça, Franca e Inglaterra”, referiu.
Para contornar o problema, a corporação tem apostado na integração de novos elementos e está a levar a cabo uma formação que conta com nove elementos, todavia “tal não será suficiente para suprir a falta dos que saíram”. “Estamos a falar de bombeiros que têm formação e experiência de vários anos que dificilmente é reposta de imediato. Não se tratam de transferências e sim de um trabalho que tem de se começar no zero, disse. A aposta na formação também tem sido seguida na corporação do Fundão, a qual perdeu “entre dez a 15 pessoas, nos últimos três a quatro anos”, número que passa para 97, caso a análise seja feita desde há 10 anos. “Temos 97 bombeiros que transitaram do quadro ativo para o quadro de reserva, alguns dos quais perdidos para sempre outros que, esperamos, em situação temporária, nomeadamente os que estão emigrados e que, talvez, um dia, quando voltarem a Portugal, peçam para ser reintegrados”, disse o comandante, José Sousa.
O responsável ressalvou, todavia, que, na grande maioria dos casos, o abandono não teve como causa a emigração, mas sim a migração para o litoral. Quanto ao recrutamento para aumentar o quadro de 130 elementos, José Sousa assume alguma dificuldade, que, diz, “é criada não pela “vontade das pessoas, mas sim pelas regras que foram definidas pela tutela”. O comandante deu o exemplo da última escola de formação que realizou - começou com 16 elementos e acabou apenas com quatro, situação que já tinha ocorrido e que, no entender do responsável, voltará a repetir-se se o processo de formação de bombeiros não for revisto.
Porto perde dezenas de bombeiros
A emigração também está a diminuir o efetivo de várias corporações de bombeiros do interior do distrito do Porto, condicionando a sua operacionalidade, apurou a Lusa junto de vários comandantes. Os números apontam para a diminuição de dezenas de bombeiros, sobretudo nos últimos cinco anos, a maioria do sexo masculino, o que tem reduzido a capacidade de prontidão no socorro.
O caso mais preocupante ocorre em Entre-os Rios, Penafiel, onde a corporação viu partir, em cinco anos, 30 elementos. Atualmente, o corpo ativo é composto de 44 elementos e no quadro de reserva estão 60. À Lusa, a comandante Isaura Rocha reconheceu que a diminuição de operacionais “faz uma diferença astronómica”. “Com o voluntariado e a escala rotativa, os elementos que ficam têm cada vez mais trabalho, porque são em menor número”, explicou. A corporação de Entre-os-Rios tem a decorrer uma formação de bombeiros com 30 elementos.
Desses, cinco vão entrar, ainda este mês, em estágio de seis meses e 13 acabam o estágio em setembro, podendo integrar a corporação. Apesar da diminuição de elementos, a corporação tem, até setembro, duas equipas de combate a incêndios (ECIN), compostas por cinco elementos cada. Os 10 elementos que compõem as equipas estão atualmente desempregados e poderão ter de abandonar a corporação em setembro, quando acabar o programa de ECIN.
Os bombeiros de Celorico de Basto, atualmente com 100 elementos no ativo, perderam 15 devido à emigração. Com a falta de resposta de trabalho no concelho, “os bombeiros celoricenses são obrigados a procurar novos rumos”, realçou o comandante Marinho Gomes. “Neste momento, não temos desempregados nos bombeiros, mas temos alguns elementos que estão a tirar cursos superiores e que, no final, vão ter de procurar trabalho fora”, lamentou.
Situação semelhante ocorre nos Bombeiros de Baião. Com 92 elementos no ativo, a corporação viu partir 15 homens e mulheres nos últimos cinco anos. “É uma situação preocupante, porque nos levou um grupo dos melhores bombeiros que tínhamos”, salientou o comandante José Costa. No Marco de Canaveses, a emigração levou 12 homens, grande parte com vários anos de serviço. A corporação daquela cidade tem no ativo 128 bombeiros. Contudo, de acordo com o comandante Sérgio Silva, “todas as semanas emigram homens”.
Apesar daquele fenómeno, no verão, com as férias dos elementos que estão emigrados, as corporações observam um aumento considerável no número de bombeiros nos quartéis, o que acaba por ajudar no combate aos incêndios florestais da época estival.
Fonte: mundoportugues.org
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