Bombeiros de Castigo - VIDA DE BOMBEIRO

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sexta-feira, 25 de julho de 2014

Bombeiros de Castigo

Não me lembro de coisa assim.

Antes de mais, uma palavra de reconhecimento pelo trabalho feito pelos bombeiros de Miranda do Douro, com 54 anos de uma vida larga e de exemplar serviço, e uma mensagem de solidariedade aos bombeiros daquela corporação e a todos os que são vítimas de agressões, apropriações, intromissões, incompreensões e ingratidões.

A crer nas notícias, os bombeiros de Miranda do Douro foramproibidos pelo Ministro da Administração Interna de combaterem incêndios florestais fora da sua área de actuação própria.
Mas o MAI tem legitimidade política e jurídica para medida tão radical?
Tem mesmo?

Segundo o que foi posto a circular, os bombeiros em causa terão agido por conta própria, contrariando as decisões do comandante das operações de socorro (COS).

Abandonando os eufemismos em que este País é fértil, de uma forma directa, simples, crua, "os bombeiros de Miranda do Douro portaram-se mal e estão de castigo".
Só faltava mais esta!

Perante esta realidade, as manifestações de solidariedade e as expressões de confiança, sendo justas e merecidas, são curtas e sabem a pouco.

É necessário ir mais longe, e é bom não nos ficarmos por reacções emocionadas, que podem conquistar corações, mas não facilitam soluções.

Estamos perante uma clara intromissão do Governo no desempenho de um Corpo de Bombeiros (CB), limitando-o no cumprimento das missões que lhe foram atribuídas, aquando da sua homologação como CB.

Tenho sérias dúvidas sobre o enquadramento legal de tal decisão.

E mesmo que haja esse enquadramento,convinha que ele viesse na sequência de um processo de inquérito, concluído e com decisão final tomada.

E mesmo que o inquérito concluísse por responsabilidades individuais, não me parece sensato castigar-se toda a corporação.

E mesmo que o inquérito concluísse por responsabilidades dos bombeiros de Miranda do Douro, julgo que haveria outras medidas ao dispôr do decisor, bastava querê-las.

Medidas correctivas, pedagógicas, de sensibilização, entre outras.

Esta decisão tem tanto de humilhante como de revoltante.

Cheira-me a decisão precipitada, do género “murro na mesa” para mostrar força, que esconde fraqueza.

Para um CB que há 1 ano perdeu dois dos seus homens no combate aos incêndios florestais, esta não é a melhor forma de incutir ânimo, alento e confiança, antes pelo contrário.

Solidarizarmo-nos não chega, é absolutamente necessário ir à raiz do problema e apurar a legitimidade da tutela política para tomar esta decisão e reflectirmos sobre a porta que se abriu e os medos, os receios e as intimidações que vai desencadear por aí.

Mas isso não é coisa que interesse muito aos políticos., porque não lhes convém, mas é obrigação nossa, de todos os que têm especiais responsabilidades no sector.
É obrigação da Liga exigir clarificação da legitimidade de tal decisão e questionar sobre a adopção de medida tão extrema e tão gravosa.

O Ministro da Administração Interna já se enganou noutras situações, assumiu o erro, o que só lhe ficou bem, mas parece querer persistir nos enganos.

Não me admirava que amanhã viesse reconhecer o erro, mas só depois do mal-estar feito.

É urgente que o MAI se explique, perante este facto absolutamente inédito no sector, e que ele protagoniza, arriscando-se, assim, a ficar na história, pelos piores motivos.


Fonte: O Zingarelho

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