Jovem de 15 anos atropelada mortalmente

6 de Novembro de 2007

Tinha sido um dia de muito trabalho, e estava quase na hora de sair do serviço, eram quase 19h30 o telefone tocou, do outro lado uma voz muito aflita pedia socorro para um atropelamento em Cabeça Santa.

Fui para o local na ABSC-03, pelo caminho ia a pensar, mais um atropelamento, e ao mesmo tempo pensava para mim, estará muito ferido, será que não é nada demais, será grave?

 

Era uma mistura de perguntas na minha cabeça enquanto acelerava o mais que podia para chegar o mais rápido possível ao local do acidente, levava a sirene ligada, as viaturas à minha frente encostavam o mais que podiam para eu passar, já estava escuro o que tornava a condução mais perigosa e que me obrigava a estar muito mais atento. Em menos de 5 minutos chegámos ao local, e que grande aparato ali encontrámos.

Uma jovem de 15 anos tinha sido atropelada numa passadeira, e a violência do embate foi tão grande que ela foi projectada para debaixo de um carro que se encontrava estacionado num parque a 20 metros dali. A confusão era enorme, pessoas a gritar, outras que queriam bater no condutor que atropelou a jovem, ouviam-se também algumas vozes indignadas por não haver apoio do Inem.

Alheios a tudo isto começámos a desenvolver o nosso trabalho, colocámos todo o material necessário junto a nós, avaliámos a vitima e começámos a imobilizar, foi um socorro dificil, porque a jovem encontráva-se em decubito dorsal sob a viatura, estava inconsciente, estava taquicárdica, hiperglicémica, tinha feito aspiração de vómito, tinha um TCE (traumatismo cránio-encefálico) gravíssimo e apresentava escoriações nos membros superiores e tinha também fractura femural.

Apesar de toda a confusão existente no local, nós prosseguiamos com o nosso trabalho, e felizmente apesar de todas as circunstâncias rapidamente conseguimos imobilizar a jovem e colocá-la dentro da nossa viatura. Aqui já estavámos mais à vontade para prestarmos um bom socorro, lá fora a confusão continuava com vozes de reprovação e de indignação por haver tantos atropelamentos nesta estrada (EN-106), outras pessoas continuavam a questionar o porquê de não vir apoio do Inem. Nós tinhamos a indicação de que não haveria viatura médica disponível, e que deveríamos transportar a vitima para o hospital de Penafiel.

E assim foi, logo que terminámos toda a estabilização e procedemos a todos os cuidados primários da jovem, avançámos para o hospital.

Ao longo de todo o socorro fomos tendo a percepção que teríamos de agir o mais rápido possível, pois corríamos o sério risco de perdermos a jovem, dada a gravidade dos ferimentos. Apróximadamente dez minutos depois estávamos no hospital, foi uma viagem rápida mas ao mesmo tempo o mais tranquila possível para não agravar o estado clínico da jovem. Felizmente os condutores quando vêm uma ambulância a assinalar a marcha de emergência cedem passagem, à excepção de um ou outro condutor mais distraído.

Mais uma vez fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, às vezes quase que caio na asneira de dizer, que até fazemos mais do que devíamos, mas para nós, para salvar uma vida humana, tudo o que fazemos nunca é demais, e infelizmente tudo o que fazemos por vezes não chega para salvarmos alguém. Foi assim com esta jovem Claudia Fernandes de 15 anos, fizémos o possível e o impossível para a salvarmos, demos entrada no hospital de Penafiel ainda com vida, mas infelizmente passados dois dias, a jovem acabou por falecer.

                                                                   Local do acidente

 

 

                                                A jovem foi projectada além deste muro

Passados alguns dias li nos jornais que o condutor afirma que não atropelou a jovem na passadeira, mas será este factor importante quando se trata de uma vida humana? Será que quem atravessa fora das passadeiras perde os direitos enquanto peão na via publica? Na minha maneira de ver as coisas acho que não, até porque segundo testemunhas a jovem atravessou mesmo na passadeira, apesar desta estar muito mal localizada, pois encontráva-se na zona de uma lomba.

De salientar que esta passadeira acabou por ser retirada deste local. 

Mais uma vez não posso passar sem deixar mais um alerta, as passadeiras são para os peões, mas os peões antes de as atravessar também têm obrigações (verificar se não vem qualquer viatura próxima) e não podem simplesmente meterem-se à estrada. Aos condutores mais uma vez deixo um apelo, reduzam a velocidade nas localidades, respeitem as travessias para peões e ajudem-nos a combater uma das maiores causas de morte na estrada e que continua a aumentar, que são os atropelamentos. Lembrem-se que hoje são eles, mas amanhã podem ser vocês ou um familiar vosso.

 

Quero deixar também uma palavra aos nossos autarcas, todos nós sabemos que o famoso IC-35 neste momento não passa de uma miragem e que o fluxo de tráfego nesta estrada (EN-106) tende a aumentar, por isso, pelo menos sinalizem as passadeiras, não é assim tão dificil nem tão dispendioso fazer uma obra destas, e toda a gente agradece, agradecem os peões, agradecem os condutores e principalmente agradecemos nós enquanto bombeiros, que assim vemos o nosso trabalho muito mais facilitado, sim porque nunca é fácil lidar e trabalhar num atropelamento, porque infelizmente nós vemos coisas que ninguém quer ver nem em sonhos, afinal de contas, nós somos Humanos como todos vocês.

Srs. presidentes de junta, Sr. presidente da câmara não custa assim tanto colocar sinalização luminosa nas passadeiras, acho até que deveria ser obrigatório.

Percam 4 minutos e vejam este vídeo, não se vão arrepender.