Não é fatalidade , é inércia embrulhada numa SMS - VIDA DE BOMBEIRO

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quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Não é fatalidade , é inércia embrulhada numa SMS

 


Ano após ano, a mesma miséria, a mesma rotina de tragédias evitáveis, o mesmo país apanhado de surpresa por coisas que já não surpreendem ninguém. As primeiras chuvas de novembro chegaram e, como sempre, bastou isso para expor o falhanço total daquilo que chamamos “prevenção”. A verdade nua e crua é esta: prevenção não existe. Nunca existiu. Só existe reação  sempre tarde demais.


Vêm falar de alertas por SMS como se fossem escudos mágicos. Uma SMS não salva vidas. Uma SMS não limpa sarjetas entupidas. Não reforça margens. Não avalia casas em risco. Não limpa linhas de água abandonadas há décadas. Não identifica árvores prestes a cair. Não faz nada do que realmente importa. A SMS é só o lembrete perfeito de que tudo o resto ficou por fazer.


Hoje morreram dois idosos dentro das suas casas. Isto não é azar. Isto não é fenómeno raro. Isto não é clima extremo. Isto é o resultado direto de anos de repetição, anos de negligência coletiva, anos de aceitar o “é assim mesmo” como se fosse normal ver pessoas morrerem por falta de trabalho prévio.


E o mais revoltante? As zonas onde isto aconteceu são sempre as mesmas. Os problemas são sempre os mesmos. A água corre sempre pelos mesmos caminhos. Mas o país insiste em aprender zero. Nada muda. Nada evolui. Nada é corrigido. Há lugares onde já se sabe que basta chover duas horas para virar tudo do avesso ,e mesmo assim, ano após ano, deixamos tudo igual, à espera da próxima tragédia.


Estamos no século XXI, mas parecemos presos a um modo de funcionamento medieval: agir só depois da destruição, lamentar, fazer balanços, apontar números e prometer soluções que nunca chegam. Chuva em novembro não devia ser um teste ao país. Devia ser rotina. O problema é que, por cá, qualquer chuva vira desastre porque não há preparação básica.


A falta de prevenção em Portugal não é uma falha pontual. É um padrão. Uma cultura. Uma maneira de operar. E enquanto isto continuar, cada outono será um aviso do mesmo: vidas perdidas não pela força da natureza, mas pela força da inércia.


Prevenção não é difícil. Exige vontade. Exige trabalho. Exige presença antes da catástrofe. Coisas simples. Coisas óbvias. Coisas que, ano após ano, simplesmente não acontecem.


E depois perguntam-se porquê que continuamos a contar mortos, arvores caídas e desalojados, brincamos anualmente com números que representam vidas .


Ariana Ribeiro

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