Curso de TAT está Desatualizado e Obsoleto

 

𝗥𝗲𝗳𝗹𝗲𝘅𝗮̃𝗼 𝗖𝗿𝗶́𝘁𝗶𝗰𝗮 𝘀𝗼𝗯𝗿𝗲 𝗼 𝗖𝘂𝗿𝘀𝗼 𝗱𝗲 𝗧𝗿𝗶𝗽𝘂𝗹𝗮𝗻𝘁𝗲 𝗱𝗲 𝗔𝗺𝗯𝘂𝗹𝗮̂𝗻𝗰𝗶𝗮 𝗱𝗲 𝗧𝗿𝗮𝗻𝘀𝗽𝗼𝗿𝘁𝗲 (𝗧𝗔𝗧)

A questão do Curso de Tripulante de Ambulância de Transporte (TAT) é, na verdade, bem mais profunda do que a mera ausência de atualização técnica ou pedagógica. É uma anomalia formativa com raízes estruturais, cujas consequências têm sido ignoradas por sucessivos ciclos institucionais - e, surpreendentemente, por muitas das vozes que com razão se manifestam sobre outras fragilidades do sistema.

Em diversos países com serviços médicos de emergência robustos, encontramos perfis de técnicos com menor carga horária formativa do que os TAT portugueses, mas que, ainda assim, estão sujeitos a regras claras de competência e limitação de atuação. São profissionais que, mesmo com menos tempo de educação, possuem mais competências clínicas e operacionais - embora, ironicamente, estejam legalmente impedidos de tripular qualquer tipo de ambulância por não cumprirem os critérios mínimos exigidos nesses países.

Em Portugal, pelo contrário, optou-se por um modelo “original”: um curso obsoleto, sem reconhecimento internacional, desprovido de fundamentação técnica sólida, mas cujos detentores são frequentemente colocados em primeira linha de atuação - inclusive em contextos que exigiriam competências muito além das que lhes são efetivamente transmitidas. O resultado é uma fórmula de risco: profissionais mal preparados a operar em ambientes de elevada exigência, com impacto potencial na segurança dos pacientes, na qualidade assistencial e, claro, na reputação de todo o sistema.

É mais uma invenção portuguesa, desenhada para “resolver problemas” administrativos e operacionais - à margem de qualquer lógica técnico-científica - e que, como todas as soluções improvisadas, tem produzido resultados abaixo do aceitável.

Urge, por isso, uma reforma profunda. Não apenas para rever conteúdos ou formatos, mas para repensar, de raiz, o propósito e a validade de um curso que, no seu estado atual, serve mal o sistema, os provedores e os pacientes. E, acima de tudo, para deixar de lado a confortável ilusão de que “ter alguém fardado numa ambulância” é sinónimo de garantir cuidados de saúde dignos desse nome.

Fénix - Associação Nacional de Bombeiros e Agentes de Proteção Civil