Em Portugal, há uma tendência singular para resolver problemas com uma criatividade muito própria: improvisa-se. Planeamento? Análise? São meros detalhes descartáveis. Quando surge uma crise - como no caso das urgências obstétricas - opta-se por uma solução elegante e aparentemente eficaz: colocam-se ambulâncias à porta dos hospitais. E pronto, problema resolvido… Ou melhor, mascarado.
A instalação das duas ambulâncias referidas nas notícias é, com o devido respeito, uma solução cosmética. Não só não resolve a questão estrutural, como revela a ausência de qualquer planeamento estratégico. Dir-se-ia até que, com um mínimo de conhecimento de como funciona um sistema de serviços médicos de emergência e algumas alterações adicionais e pontuais, nem seria necessária esta medida de emergência disfarçada de proatividade.
Por outro lado, tivemos ainda o privilégio de assistir ao chamado "SIEM" - esse sistema supostamente destinado a apoiar o SNS - a enveredar por esforços para resolver os problemas estruturais da saúde, não obstante a curiosa incapacidade de resolver, em primeiro lugar, os seus próprios. É, no mínimo, ambicioso: querer ser parte da solução quando ainda se é, em grande medida, parte do problema.
E, já agora, desde que se começaram a encerrar urgências obstétricas - facto que se vai tornando cada vez mais frequente - que medidas estruturais foram efetivamente implementadas? Houve algum investimento real na formação das tripulações das ambulâncias? Ou continua-se a considerar que uma formação básica, genérica e apressada é perfeitamente adequada para lidar com situações de elevado risco, como partos em ambulâncias?
A verdade é que, até agora, a sorte tem estado do nosso lado: a Mãe Natureza tem feito o seu trabalho com competência, e não ocorreram tragédias. Mas será prudente confiar indefinidamente na benevolência do acaso? Todos sabemos que um parto pode, em instantes, transformar-se numa emergência médica crítica, para a qual as referidas equipas - por falta de educação e treino adequados e por interesses que bloqueiam e desincentivam ativamente a sua diferenciação - não estão minimamente preparadas.
E assim se mantém um ciclo vicioso: improvisa-se, tapa-se o sol com a peneira, e espera-se o melhor. Um modelo de excelência… Em gestão de ilusões.
Liga de Bombeiros acredita que não é a solução mas é o seu contributo.
Fénix - Associação Nacional de Bombeiros e Agentes de Proteção Civil
Sem comentários:
Enviar um comentário