O ex-presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Porto (AHBVP) ficou em silêncio esta manhã de sexta-feira no início do julgamento onde responde por um crime de peculato. Uma inspetora da PJ contabilizou mais de 53 mil euros que terão ido parar, sem justificação, ao património de Jaime Madureira.
"De momento não quero prestar declarações. Estou a recolher provas para mais tarde apresentar", explicou Jaime Madureira, 74 anos, perante o coletivo de juízes do Tribunal de São João Novo, no Porto. O ex-presidente da AHBVP e pai do ex-líder dos Super Dragões está acusado de se ter apropriado indevidamente de mais de 53 mil euros da instituição entre 2015 e 2019.
Uma inspetora da Polícia Judiciária que participou no inquérito explicou que este teve início com uma denúncia de um associado da AHBVP. A inspetora analisou as pastas entregues e, depois, documentos encontrados numa sala fechada da sede da associação. Contabilizou mais de 53 mil euros entregues em numerário ou no pagamento de despesas pessoais sem qualquer justificação a Jaime Madureira.
Em numerário, ficou registada a entrega de 36 mil euros. Depois, em despesas, detetou várias despesas de refeições, "muitas vezes, numa base diária com registo de almoço e jantar, em várias localidades". A título exemplificativo, o procurador do Ministério Público destacou uma fatura do "Gaveto, um restaurante caro de Matosinhos".
De camarão a espumante, passando por um soutien e um fato da Zara
Foram também detetadas várias despesas de supermercado, de quase 3 mil euros, incluindo bacalhau, espumante, camarão, presunto, vinho, uísque e cervejas. Mas também dodots, desodorizantes, champo, mochilas escolares, estojos, medicamentos, artigos para a casa um soutien, calças de senhora, um fato da Zara, sapatarias e até um medidor de tensão. "Coisas tão escandalosas que, de forma alguma, se podem reportar à vida normal da instituição", descreveu o procurador. A inspetora concordou que seriam mais compatíveis com despesas familiares do que de uma associação humanitária de bombeiros.
A inspetora confirmou ainda que os dois veículos registados em nome de Jaime Madureira, um Mercedes e um Peugeot e, apesar de não ter conhecimento de que alguma vez estivessem ao serviço da AHBVP, eram abastecidos quase todos os dias: um de 3 em 3 e outro de 5 em 5. "Era abastecer com fartura", considerou o procurador, contabilizando 4882 euros em abastecimentos.
Gabinete fechado, zero documentos e contas penhoradas
O atual presidente da AHBVP, que tomou posse em setembro de 2022, conta que recebeu a instituição numa situação caótica, deficitária e desorganizada. Mário Lino contou que encontrou o gabinete do presidente fechado, zero documentos e duas contas penhoradas.
"Quem me antecedeu [e que sucedeu a Madureira em 2019] ou nunca usou as instalações como sede ou fez sumir os documentos todos", explicou. Mário Lino esteve então a explicar os vários procedimentos implementados pela sua direção.
As despesas de refeições apenas são pagas aos bombeiros, nunca aos órgãos sociais; se houver uma situação excecional, tem de ser aprovada em reunião. As deslocações em viatura própria só serão pagas se for aprovado pela direção. E os abastecimentos com o cartão de frota só se aplicam às viaturas oficiais dos bombeiros.
Atual presidente nunca viu ceia de Natal na sede
Sobre a eventualidade de os bens adquiridos por Jaime Madureira serem para uma ceia de Natal, Mário Lino diz que "nunca viu nada disso". E que têm um bar, chamado de sala do piquete, mas que não é utilizado para confecionar refeições com alimentos comprados pela AHBVP. "É usado pelos bombeiros, para comerem refeições que trazem de casa", explicou.
Mário Lino explicou que os 53 mil euros que alegadamente terão sido desviados fazem muita falta à instituição, que é assistente no processo. "Quanto entrei tinhas as contas. Só as contas, não tinha mais nada, porque os montantes estavam penhorados e os funcionários com dois meses de atraso e zero cêntimos em caixa", lamentou.
JN
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