A Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica questionou, esta quinta-feira, a atuação do INEM e os meios destacados para socorro no acidente com 38 feridos ocorrido na terça-feira perto do Cartaxo, especialmente pela falta de uma Viatura de Intervenção em Catástrofe.
A colisão lateral entre um camião e um autocarro, na EN3, a cerca de três quilómetros da cidade do Cartaxo, junto à localidade de Cruz do Campo, causou 38 feridos, três dos quais graves. Segundo o INEM, foram acionadas pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) um total de 28 Ambulâncias, três Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER), um helicóptero e uma equipa de psicólogos, que realizou 17 intervenções.
"Tendo em conta o cenário daquele acidente rodoviário específico não pudemos deixar de notar a falta da Viatura de Intervenção em Catástrofe (VIC)", disse ao JN disse o presidente da Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica (ANTEM), Paulo Paço. A VIC é dotada de equipamento médico adicional e de um Posto Médico de Emergência, “que permite a triagem de doentes mais eficaz e por pessoas mais qualificadas clinicamente.” A avaliação dos feridos “não foi feita nas melhores condições", acrescentou.
A VIC “devia ter sido acionada à partida", argumentou Paulo Paço. "Não podemos esquecer que no início da resposta nunca conseguimos saber o número de vítimas graves e leves. Temos de responder sempre para o pior cenário e o que nos parece é que o INEM não terá respondido da melhor forma para um cenário que poderia ser bastante grave", acrescentou o presidente da ANTEM.
"O que pretendemos é que alguém se digne a investigar aquilo que precisa de ser investigado", disse Paulo Paço. "A leitura que fazemos disto é que estas viaturas não estão disponíveis por inoperacionalidade dos veículos ou até mesmo por falta de pessoal", acrescentou o presidente da ANTEM.
Confrontado com estas dúvidas, o INEM disse ao JN que “foi efetivamente equacionado o acionamento” da VIC, que tem por função a triagem secundária e a estabilização das vítimas graves para transporte às unidades hospitalares. “No entanto, após receção do primeiro ponto de situação, em que se comunicou a existência de 27 vítimas, sendo apenas três graves e as restantes vítimas ligeiras ou ilesos, optou-se pelo não envio” daquela viatura, acrescentou numa resposta enviada por escrito.
“Também o tempo necessário para a chegada da VIC ao local e para montagem do Posto Médico Avançado não representava um benefício para a triagem e evacuação das vítimas do acidente em questão”, acrescentou o INEM na mesma nota. "A não ser que exista uma análise mais profunda, é complicado aferir com exatidão se a resposta do INEM foi a mais adequada", contrapôs o presidente da ANTEM.
Portugueses podem estar em risco
“Entendemos que tem de haver uma análise à ocorrência e perceber o que correu bem e menos bem, para que no futuro não se repitam situações destas”, disse Paulo Paço. “É algo que temos vindo a defender já há bastante tempo, que em Portugal não se retiram lições ou ilações deste tipo de situações. Ou quando se tiram raramente são aplicadas”, acrescentou, em declarações ao JN, no seguimento de um comunicado da ANTEM enviado às redações.
“Após a avaliação de informações recolhidas pela ANTEM nos últimos dias e a análise de dados obtidos junto de operacionais presentes no local, bem como das inúmeras imagens e vídeos divulgados pelos meios de comunicação social durante os trabalhos desenvolvidos no teatro de operações deste acidente, é evidente que a esmagadora maioria dos meios presentes foram disponibilizados pelos Bombeiros”, lê-se no comunicado. “É importante relembrar que estes são, na melhor das hipóteses, tripulados por Tripulantes de Ambulância de Socorro (TAS), cuja prática é extremamente limitada”, acrescenta a nota.
“Não colocando em causa a competência dos bombeiros”, Paulo Paço diz que os TAS “têm um défice formativo bastante grande relativamente aos meios do INEM”. No entender do presidente da ANTEM, “nem todas a vitimas ficaram entregues aso profissionais mais diferenciados”, durante a operação de socorro.
O que colocamos em causa, mais uma vez, é a falta de treino e de melhores competências para os profissionais dos bombeiros”, acrescentou Paulo Paço. “Se os bombeiros garantem 90% da emergência pré-hospitalar em Portugal e depois são as pessoas com menos capacidade técnicas e menos capacidade de atuação estamos a colocar em risco a vida dos portugueses”, acrescentou.
JN
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