O grupo Floresta do Futuro, que junta especialistas florestais e climáticos e várias pessoas da sociedade civil, está a organizar um protesto nacional para domingo, dia 22 de setembro, sob o mote “O país arde, temos de acordar”. O objetivo é chamar a atenção do Governo para os desafios da gestão das florestas.
Guida Marques é um dos nomes que integram o grupo, nascido de forma orgânica e sem formalismos depois dos grandes incêndios de 2017. "Ainda em stress pós-traumático", admite a arquiteta, que vive e trabalha nas serras de Arganil, o coletivo pretende juntar o máximo possível de pessoas nas ruas, para mostrar que há milhares prontos a fazer parte da solução para ajudar a mudar a gestão das florestas. Outro dos objetivos é também mostrar solidariedade para com as vítimas dos incêndios da última semana, mostrando-lhes que "não estão sozinhas".
A iniciativa vai decorrer pelas 10 horas em Odemira, às 16 horas em Coimbra, e às 17 horas, em Lisboa, Porto, Braga, Castanheira de Pêra, Pedrógão Grande, Vila Nova de Poiares, Sertã, Torres Novas, Gouveia, Arganil e Melres (Gondomar) para mostrar o "sobressalto cívico". "O país está todo acordado, a querer contribuir para a solução. Este não pode ser um tema só quando está tudo arder, tem de ser um tema do ano inteiro", defende Guida, que afirma que ao protesto juntaram-se já diversas organizações climáticas e ambientais.
"Falta a gestão florestal"
Em 2017, o território onde a arquiteta que é também agricultora e proprietária florestal "ardeu todo". Trabalhou na reconstrução de casas que foram consumidas pelas chamas, num processo "doloroso", que se arrasta até aos dias de hoje. "Nessa altura, juntamo-nos, sabíamos que as questões de então continuariam por resolver. Reunimos e debatemos e temos projetos exemplares, como o que está a ser feito aqui em Arganil, com a reflorestação da Serra do Açor".
"A lei que foi construída desde 2017 é mais limitativa para a gestão florestal. É preciso voltarmos aos mosaicos, às diferentes parcelas agrícolas, e deixar de lado as monoculturas. Caímos sempre nas críticas aos eucaliptos, mas o próprio pinhal, se for em monocultura extensiva é também problemático", defende. Algo que não se materializa sem pessoas e, por isso, apela a um incentivo do Estado para que a sociedade volte para as áreas agrícolas, de forma a trabalhar os territórios para os proteger da dimensão devastadora dos incêndios que desde domingo consumiram milhares de hectares de floresta em vários concelhos do país e que foram particularmente destruídores na região Centro.
À semelhança de muitos portugueses, Guida diz ter acompanhado a última semana "com inquietação, sem dormir". Ao contrário de 2027, desta vez, o fogo não foi tão castigador naquela área, apesar do fogo em Côja ter deixado todos à volta da Serra do Açor "em estado de prontidão".
JN
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