Marília Sousa foi uma das primeiras bombeiras a fazer parte dos Bombeiros Voluntários de Paço de Sousa (Penafiel), de onde é natural. Ao fim de 54 anos continua “apaixonada” pelo ofício e o que mais gosta é “de cuidar dos doentes”.
Embora já esteja na casa dos 76 anos, a penafidelense garante que “enquanto conseguir vou andar por aqui. Ajudei no que pude para construir este quartel e assim continuo”.
No quartel é a “Tia Marília” e afirma que “não tenho queixa de nenhum bombeiro”. Embora em 1969 tivessem entrada seis bombeiras auxiliares para o quartel de Paço de Sousa, Marília Sousa é a única que ainda continua a dedicar-se a esta causa. “Na altura o comandante disse que apostava em nós e que sabia do que éramos capazes. Mais tarde, afirmou que tinha apostado bem”.
Marília Sousa segue os passos do pai que também foi bombeiro mas, partilha que “não existem novas gerações no quartel. Pode ser que a minha neta, que tem 12 anos, um dia siga esta carreira”. Quando o pai ainda era vivo deixou um desejo: “nunca deixes esta casa, tudo o que podermos fazer pela casa temos de fazer”. É com esta memória que Marília Sousa vive e segue o “legado” do pai. “Sei que ele estaria muito orgulhoso”.
Quando conheceu o homem que viria a ser seu marido partilha que ele pediu-a para abandonar o quartel, mas Marília Sousa não hesitou em manter a sua paixão. “Então vai dar uma volta porque gosto muito disto”, conta o que disse na altura e sorri. Acabaram por ficar juntos e a penafidelense manteve-na casa da qual tanto gosta. “Ele teve de aceitar e estamos casados há 52 anos”.
Marília Sousa passou muita noites no quartel até à reforma mas, confessa que “não dormia nada. Ficava só. Foi um pouco doloroso porque estávamos sempre de serviço, às vezes passávamos a noite toda fora”. Quando voltava a amanhecer já não havia tempo para dormir, às 08h00 tinha de estar na escola.
“Nunca parei”. É desta forma que fala da sua longa vida. Dividida entre o quartel, a escola e, ainda, o Rancho Folclórico de Paço de Sousa, Marília tinha “sempre o tempo contado. Gosto de ser pontual, chegava a casa, vestia a farda e vinha para os bombeiros”.
Passado 54 anos, as recordações que ficam são os doentes. “Um dia fui com o rancho a Irivo e uma senhora disse-me assim ‘a minha mãe muito gostava da senhora’, as pessoas gostam mais das mulheres, temos outra sensibilidade. A verdade é que temos de ser delicados com os doentes”.
A bombeira destaca ainda que é preciso ter “sangue frio. Quando o telefone toca e vamos para desastres não sabemos o que vamos encontrar e isso é complicado. Mas enfrentei tudo muito bem, não sei se é por causa disso que tenho coragem”.
Ser bombeira há 54 anos é “uma honra muito grande” para Marília Sousa que sente-se “orgulhosa” sempre que veste a farda. “No dia em que morrer quero levar esta farda”.
Jornal A Verdade
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