Ano de 2023 foi o Primeiro de Sempre sem Vítimas Mortais em Incêndios - VIDA DE BOMBEIRO

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segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Ano de 2023 foi o Primeiro de Sempre sem Vítimas Mortais em Incêndios

 


Este ano foi o 2.º com o valor mais baixo de incêndios na última década, com uma queda de mais de metade. O incendiarismo continua a ser principal causa dos incêndios durante os meses de verão, embora também tenha diminuído. 


Este ano “é o primeiro ano em que temos zero vítimas fatais, quer civis [vítimas diretas de incêndios], operacionais e pessoas que antigamente eram apanhadas em queimas e queimadas”, revelou Tiago Oliveira, presidente da AGIF, em conferência de imprensa sobre os principais resultados do sistema de gestão integrada de fogos rurais, na Presidência do Conselho de Ministros, em Lisboa. No entanto, houve feridos, mas o número não foi divulgado. 


De acordo com os dados apresentados, este é um número que tem vindo a diminuir desde 2017, ano em que 119 vítimas perderam a vida entre as resultantes do fogo de Pedrógão Grande, em junho, e dos incêndios de outubro, na região Centro. Segundo o balanço da AGIF, em 2018 morreram 13 pessoas (12 das quais civis em queimadas ou acidentes), em 2019 morreram 10 civis devido queimadas, em 2020 contabilizaram-se nove as vítimas mortais (seis das quais operacionais em combate às chamas). Nos últimos dois anos o número de vítimas mortais caiu, respetivamente, para seis (quatro das quais devido a queimadas) e quatro (dois dos quais operacionais). 


Número de fogos é o segundo mais baixo da década 


O responsável apontou que o número de incêndios deste ano é o 2º mais baixo nos últimos dez anos: deflagraram, entre 1 de janeiro e 15 de outubro, um total de 7 635 incêndios rurais, a maioria nos meses de julho e agosto, menos 26% do que em 2022, ano em que ocorreram mais de 10 mil incêndios. Na década anterior ao atual Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais (PNGIFR), entre 2010 e 2019, corriam, em média, 18 188 incêndios. No pódio mantem-se o ano 2014, em parte por ter sido chuvoso, dando condições meteorológicas favoráveis ao combate aos fogos. 


Tiago Oliveira salienta que nos dias de maior calor, de junho a outubro, ocorreram menos incêndios, o que “facilitou imenso a atividade de supressão dos mesmos”. Este ano arderam mais de 34 mil hectares, o 3º valor mais baixo desde 2000. Reduziu-se 69% da área ardida face ao ano passado e 75% em comparação com o período de 2010 a 2019, quando, em média, arderam mais 136 mil hectares (ha) por ano. “Conseguiu-se reduzir para um terço a área ardida, o que é uma média história”, resumiu Tiago Oliveira. Para o presidente da AGIF, a redução da área ardida a par com a descida para metade o número total de incêndios é sinal das “tendências que se foram observando” nos últimos seis anos, desde os grandes incêndios de 2017.  


Olhando para as causas, os incêndios que resultam do uso do fogo diminuíram durante todo o período do ano, e em especial durante o verão, notou o responsável, salientando que em agosto, entre os anos de 2009 e 2017, ocorriam em média 800, passando para pouco mais de 400 nos últimos cinco anos. Para Tiago Oliveira, esta redução, nomeadamente em pleno verão, “demonstra que as pessoas se perceberam do risco que implica usar o fogo em dias difíceis e ajustaram essa mesma atitude”. O presidente da AGIF saudou, por isso, o facto dos portugueses terem conseguido “evitar a tragédia”. “Hoje em dia é completamente incomparável aquilo que nós devemos as pessoas fazerem nas aldeias [com o uso do fogo], à volta das casas e à volta dos aglomerados”, acrescento Nuno Banza, presidente do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).  


Incendiarismo é principal causa no verão


O incendiarismo é agora a principal causa durante os meses de verão, embora exista “um conjunto de metodologias que permitiu, ao longo dos últimos anos, reduzir o número de incêndios provocados por incendiários para mais de 50%”, apontou Duarte da Costa, presidente da Autoridade Nacional de Emergência e da Proteção Civil (ANEPC). No entanto, ocorreram cerca de 1284 incêndios, a maioria deles ocorridos durante o verão” provocados por fogo posto, notou o responsável, lembrando que foram criadas equipas multidisciplinares para investigar e deter presumíveis incendiários, envolvendo a PSP, a GNR, a PJ e o ICNF.  


Autoridades detiveram 101 incendiários


Segundo Duarte da Costa, do total dos quatro mil incêndios que ocorreram durante os períodos mais quentes do verão, foram identificados 915 suspeitos de fogo posto e detidos 101 incendiários. Em parte, devido aos grupos de redução de ignições que tornaram possível um número de capturas “substancialmente superior”, bem como de forma mais rápida. “Permitiu, em certas áreas, acabar com trabalho criminoso, por exemplo, na região de Montejunto, e que estavam a criar verdadeiros problemas no controlo das situações”, referiu. 


Nuno Banza acrescentou que o trabalho destes grupos de redução de ignições - coordenados por duas grandes equipas, uma na região do Norte e outra no Centro desde 2021 - é, por isso, de “muita proximidade” junto das comunidades com vista a “perceber onde é que se começam a gerar dinâmicas negativas, em que há fogos recorrentes ou que têm origem durante a noite, ou circunstâncias onde podem surgir conflitos locais, ou de pessoas com perturbações mentais”.  


De forma geral, os incêndios acidentais continuam a rondar a média entre os 100 e 200 entre os meses de abril e outubro. Enquanto em 2017 ocorriam em média 76 ignições nos dias de maior perigo de incêndio, esse número baixou para 36 (uma quebra de 42%) nos últimos seis anos.  


Quanto à dimensão dos incêndios, Tiago Oliveira aponta para uma redução do número de incêndios com mais de 500 ha desde 2017, tendo ocorrido quatro grandes incêndios em 2023. Bem como dos que arderam mais de 1000 ha, cuja média se situava nos 19 fogos por ano entre 2007 e 2017, e nos últimos anos baixou para sete. Este ano ocorreram dois incêndios a essa escala, apontou.  


De acordo com o presidente da AGIF, este ano a área da prevenção teve um maior investimento dada a existência de “uma estratégia, planeamento e programação conjunta aos vários níveis, nacional, regional e sub-regional” além de uma monitorização trimestral do que está a ocorrer no terreno. Duarte da Costa asseverou que um maior reforço na prevenção não significou um desinvestimento na área do combate, lembrando o incremento no dispositivo com a mobilização pela primeira vez de um total de 72 meios aéreos e a formação de mais de 5400 operacionais.  


“Em 2018, o orçamento para a prevenção era de 20% e para o combate 80%. O ano passado conseguimos um ‘break-even’, ou seja, 50% - 50%. Este ano foi a primeira vez que conseguimos ter para a área do combate 39% e cerca de 61% para a área da prevenção. Isto não quer dizer, em nenhum momento, que se diminuiu a área do combate. Houve sim a consciência de uma maior necessidade de investir em campanhas e na preparação do fator da prevenção porque a questão dos fogos rurais não se resolve nunca no combate”, apontou o presidente da ANEPC.  


Com o olhar posto no futuro, os responsáveis apresentaram ainda objetivos para 2024, entre os quais o reforçar os estímulos para proprietários e associações cumprirem as medidas de segurança e recuperar as áreas ardidas, em particular as que arderam depois de 2017, bem como aumentar área com silvicultura, pastorícia extensiva e a área tratada com fogo controlado.  


JN

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