Nuno Sousa, o bombeiro agredido, diz que os seus colegas o imaginavam como o presidente da Câmara Municipal ou o comandante da corporação. Não vai apresentar queixa, mas quer um pedido de desculpa.
“Estava a regressar do almoço, fui apupado pelos colegas que se manifestavam e fiz um esgar que eles consideraram como um assobio contra eles. Fui para dentro do gabinete e entraram logo uns dez para me agredir, nem sequer me ouviram, fui sovado a murros e pontapés e atiraram o monitor do computador contra mim”, conta o bombeiro sapador que diz ter sido vítima por ser elemento mais próximo do comandante e do presidente da autarquia.
Nuno Sousa desempenha funções no Serviço Municipal de Proteção Civil. Não aderiu ao protesto espontâneo dos sapadores em frente ao quartel esta quarta e quinta feira, com a deposição de capacetes em frente ao quartel. Em comunicado, a autarquia considera que está obrigada a cumprir a lei e que nesse sentido emitiu um despacho que determina, neste preciso quadro, "a suspensão do pagamento de suplementos remuneratórios aos bombeiros sapadores no exercício das suas funções, até que este direito seja expressamente reconhecido na lei".
Ao JN, Nuno Sousa diz que compreende a reivindicação dos colegas, mas que não é obrigado a aderir a greves. “Tentei explicar que não sou beneficiado por ter proximidade ao comandante, mas não me ouviram”, afirma.
Após as agressões que duraram cerca de dois minutos, a vítima deslocou-se ao hospital no carro de um colega bombeiro para receber tratamento. Foi suturado no sobrolho esquerdo com dois pontos e recebeu alta hospitalar.
A PSP deslocou-se ao local, mas Nuno Sousa já tinha saído para o hospital. De acordo com fonte oficial da PSP, ninguém foi identificado e a vítima foi informada de que tem seis meses para apresentar uma queixa por ofensas à integridade física, sendo que durante o processo, os supostos autores podem vir a ser identificados.
Ao JN, Nuno Sousa recusa apresentar queixa e quer um pedido de desculpa pelos colegas. “Não quero ir para a Justiça porque não vejo qualquer benefício nisso, mas fui agredido sem justificação, também fiquei como eles sem subsídio de turno e passo dificuldades, mas não me ouviram quando me agrediram e peço agora um pedido de desculpa”.
Na génese da animosidade contra o bombeiro está o tornar público do seu recibo de vencimento há cerca de um mês. Nuno Sousa apresentou queixa na Polícia Judiciária de Setúbal pela forma como o documento foi tornado público. Paulo Pires, dirigente do Sindicato Nacional de Bombeiros Sapadores, diz que os colegas partiram para as agressões por acreditarem que o bombeiro recebia os subsídios sem fazer horas nem turnos. Nuno desmente.
Paulo Pires diz que “estava em frente ao quartel quando cerca de dez dos 60 bombeiros em protesto partiram para dentro do quartel, mas não vi nada. No interior, no hall, vi muitos colegas e pedi para dispersarem, mas não estive nos gabinetes onde se diz terem ocorrido as agressões”. O dirigente sindical acrescenta que os “bombeiros estão de cabeça perdida por perderem mais de um quarto do vencimento e estarem em situação de não poderem pagar as rendas e empréstimos à habitação”.
O presidente da autarquia lamentou e condenou o episódio. “Lamento profundamente esta situação e que entre os bombeiros tenha chegado a um ponto destes. Mas quem faz agressões destas tem que ser punido”, disse André Martins, em declarações na quinta feira após o incidente.
Até à tarde desta sexta feira, não era conhecida intenção da autarquia em abrir um inquérito interno ao sucedido no quartel. O JN entrou em contacto com o comandante da corporação, Paulo Lamego, que não se dispôs a comentar o caso.
JN
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