“Há poucos incentivos ao voluntariado nos bombeiros” - VIDA DE BOMBEIRO

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segunda-feira, 17 de abril de 2023

“Há poucos incentivos ao voluntariado nos bombeiros”

 


António Carvalho é comandante dos Bombeiros da Póvoa de Santa Iria, coordenador da Protecção Civil de Vila Franca de Xira e presidente da Federação de Bombeiros do Distrito de Lisboa.


Entrou no universo dos bombeiros por mero acaso, depois de uma carreira na área dos seguros e apaixonou-se pelo mundo do socorro. Fez da exigência e da luta por melhores condições para os bombeiros a sua bandeira e diz que o trabalho nunca está concluído.


É urgente encontrar um maior número de profissionais para trabalhar nas corporações de bombeiros e só depois disso acontecer é que se conseguirá promover um maior nível de voluntariado na comunidade. A convicção é de António Carvalho, comandante dos Bombeiros da Póvoa de Santa Iria e que é também coordenador da Protecção Civil de Vila Franca de Xira. Para o responsável, quanto melhor estiver a parte profissional das corporações melhor será o voluntariado.


“O voluntariado não tem hoje a disponibilidade de antigamente e para garantir a primeira resposta precisamos de mais profissionais e que sejam pagos”, defende. Para atrair voluntários, uma das ideias é criar um programa municipal de incentivos para quem se faça voluntário. “Há pequenas coisas que podem fazer a diferença. Descontos no Imposto Municipal sobre Imóveis, descontos na factura da água ou até programas especiais de acesso aos pavilhões desportivos. No fundo, pequenas vantagens que se podem dar a quem seja voluntário”, explica a O MIRANTE. António Carvalho diz estar a trabalhar nessa ideia e espera que se venha a concretizar a curto ou médio prazo.


O comandante dos Bombeiros da Póvoa admite que é difícil promover o voluntariado junto da comunidade mas que a luta não deve parar. “Temos de procurar os mais jovens, começar desde pequenos com acções de sensibilização nas escolas, colectividades, na rua e promover o quartel aberto. Infelizmente há poucos incentivos ao voluntariado e o comandante tem de ter uma palavra importante nesse sentido, de dar as poucas coisas que tem ao seu alcance”, defende. Entre elas estão instalações com camaratas em condições, alimentação e utilização de equipamentos modernos que minimizem riscos de acidentes.


António Carvalho tem 64 anos, nasceu em Lisboa mas foi viver cedo para a Póvoa de Santa Iria. É também presidente da Federação de Bombeiros do Distrito de Lisboa. Quando era criança nunca teve a ideia de ser bombeiro e preferia o desporto. “Tinha um fascínio pela área financeira e segui essa profissão”, conta. Esteve durante 35 anos a trabalhar no ramo dos seguros. Um dia no seu prédio um bombeiro desafiou-o para integrar uma direcção numa altura em que a corporação da cidade atravessava uma crise directiva. “A minha ida para os bombeiros surge de uma situação administrativa, de gestão do corpo de bombeiros. Entrei e apaixonei-me”, conta.


A sua vida tem sido dedicada, desde então, a lutar por melhores condições para os bombeiros. Em 1988, quando entrou nos bombeiros, nem um quartel em condições existia na cidade. “Não tínhamos equipamentos de protecção individual, as viaturas eram todas usadas e muito antigas, os carros de incêndio eram todos antigos”, recorda. Também não havia auto-escada para socorrer quem estivesse num prédio de nove andares durante um fogo. “Felizmente 30 anos depois, no ano em que vamos comemorar os 80 anos da corporação, podemos dizer que estamos bem”, confessa.


Lidar com a morte é o que mais custa


Para António Carvalho, lidar com a morte é o mais difícil e já teve de lidar com a perda de um membro da equipa, o sub-chefe Paulo Coelho, que morreu em serviço num fogo rural em Mação quando a viatura em que seguia se despistou. “Tocou-me muito e foi muito difícil lidar com isso. Ainda por cima porque foi a pessoa que me incentivou a vir para os bombeiros. Se hoje estou aqui foi por ele me ter incentivado. Nunca estamos preparados para uma morte assim”, recorda, emocionado.


António Carvalho considera que nunca como agora tivemos bombeiros tão bem formados e preparados ao serviço das comunidades. “Evoluímos muito e no município até já temos formação conjunta, que é um passo à frente”, diz. Não é defensor da criação de bombeiros municipais mas é a favor da criação de uma central única que agregue todas as seis corporações do concelho. “Articulados podemos cobrir as costas uns dos outros. Estamos a trabalhar nessa organização e a sua criação está presa por pequenos detalhes que espero possam ser resolvidos em breve. Só podemos avançar quando todos estiverem confortáveis com a solução”, explica.


Confessa-se um homem de planeamento, gestão e organização, perfeccionista e que gosta de trabalhar, embora goste de desligar quando necessário. A fotografia é uma das suas paixões e recentemente passou quatro horas no espaço de observação de aves do concelho (EVOA) a disparar. Em 2021 candidatou-se à presidência da Liga dos Bombeiros Portugueses mas não venceu. “Foi pacífico. Nos bombeiros não somos inimigos, nem adversários sequer, todos temos os mesmos objectivos embora pontos de vista diferentes”, conclui.


O Mirante

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