Mais de 50 comandantes, ou elementos do comando, de corporações de bombeiros de todo o país são aguardados, esta manhã, à porta do Tribunal de Leiria, num gesto de solidariedade para com Augusto Arnaut, comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande e arguido no processo das mortes dos incêndios de 17 de junho de 2017.
Luís M. Cunha, diretor da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande (AHBVPG) e mentor da iniciativa de apoio a Arnaut, revelou ao JN que os comandantes se irão concentrar às 8 horas, nos Sapadores de Leiria, e se deslocarão a pé até ao Tribunal de Leiria, em formação de dois elementos.
A intenção é que Augusto Arnaut passe pelo meio dos comandantes, que lhe farão uma "espécie de guarda de honra", antes de o arguido entrar no Palácio da Justiça. O gesto de apoio será repetido à saída do tribunal, quando as alegações da advogada Filomena Girão forem interrompidas para a hora de almoço.
O diretor da AHBVPG adiantou que têm a confirmação da presença de três comandantes de corporações de bombeiros dos Açores e de um de Viana do Castelo. Deverão ainda estar presentes os 25 comandantes das bombeiros do distrito de Leiria, alguns dos quais foram ouvidos durante o julgamento.
Entrega simbólica das chaves
"Exaltámos os comandantes a também estarem presentes na leitura do acórdão e a fazerem a entrega simbólica das chaves das associações, caso o comandante Arnaut seja condenado", avançou ao JN Luís M. Cunha. Se assim for, sublinhou que a associação terá de fechar as portas, pois não tem dinheiro para pagar os pedidos de indemnização, superiores a um milhão de euros.
Esta tomada de posição em solidariedade com o comandante dos Bombeiros de Pedrógão Grande surgiu após o Ministério Público ter pedido a condenação de Augusto Arnaut numa pena superior a cinco anos, durante as alegações finais. "Os bombeiros portugueses acabaram de levar mais uma machadada na sua vontade de ajudar a salvar vidas e bens do próximo", lê-se num ofício da AHBVPG, partilhado nas redes sociais.
O documento acusa o Ministério Público de uma "total falta de honestidade intelectual no conteúdo e na forma como pede a condenação de um homem que se disponibiliza a dar o melhor de si em prol do outro". Pede, por isso, a todos os comandantes de bombeiros do país para demonstrarem a sua solidariedade para com o comandante Arnaut, de uma "forma ordeira e disciplinada", à porta do tribunal. "Hoje é ele, mas amanhã poderá ser um outro qualquer."
Comando Nacional de Bombeiros
A Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) também manifestou o seu apoio ao comandante de Pedrógão Grande, em comunicado. "A LBP assume a convicção de que, caso já estivesse instalado o Comando Nacional de Bombeiros, nem o comandante Arnaut estaria na posição em que está, nem o próprio comando deixaria de chamar a Proteção Civil a assumir as responsabilidades de que agora se tem alheado."
Preocupada com a Augusto Arnaut, "a LBP interroga-se sobre as razões que levaram ao processo contra um comandante de bombeiros, não havendo qualquer implicação direta ou indireta da estrutura de comando de que é responsável pelo combate a incêndios florestais." Diz ainda que esta situação levará "muitos outros comandantes a interrogarem-se se vale a pena prosseguir, caso nada mude, concretamente, se o Comando Nacional não foi instituído rapidamente".
"O Estado ausentou-se da defesa de um daqueles que sempre deram o melhor na defesa dos cidadãos", acusa a LBP. "Fica claro que, pese embora tudo aquilo que outros possam dizer, de facto a Proteção Civil não funciona nem funcionou. E, como não existe nem funciona nos moldes em que o devia fazer entendeu-se fazer de um comandante de bombeiros, integro e lúcido, o bode expiatório."
Bombeiros revoltados
Após as alegações finais do MP, Marco Francisco, administrador da página "Diário de um Bombeiro", no Facebook, também manifestou a sua revolta, em nome dos bombeiros portugueses. "Querem fazer do comandante Arnaut um exemplo da justiça em Portugal, mas a nosso ver escolheram mal a pessoa."
"Está na hora de os bombeiros portugueses demonstrarem o seu desagrado com o que se está a passar", apelou Marco Francisco. "Lembrem-se que o que está a acontecer ao comandante podia acontecer a qualquer um de nós, a partir do momento em que saímos do quartel a chefiar uma viatura."
Nesse sentido, deixou a proposta de "parar já". "Garantir os serviços mínimos e o socorro só? Não sei, mas sei que algo tem de ser feito. O povo entenderá e o povo estará do nosso lado", escreveu no Facebook. "Manifesto o meu desagrado, a minha revolta, a vergonha que sinto neste momento, a impotência, e o enorme apoio que o comandante Arnaut me merece."
Fonte: JN
Sem comentários:
Enviar um comentário