Gerir o Medo, Organizar a Esperança - VIDA DE BOMBEIRO

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domingo, 2 de janeiro de 2022

Gerir o Medo, Organizar a Esperança

 


A sabedoria raras vezes dá grandes títulos ou notícias retumbantes. É quase sempre discreta, como acontece quando se conversa com Sobrinho Simões, que junta à excelência profissional o gosto genuíno de pensar sobre o Mundo e a experiência de ter passado pela fragilidade de olhar de frente a finitude, após um AVC.


Num tempo de medo e de pessimismo, o patologista insiste muito na necessidade de melhorarmos as nossas respostas coletivas. E repete a fórmula poética com que interpreta essa resposta em sociedade: organizar a esperança.


Já lá vão dois anos desde que a covid mergulhou o Mundo numa incerteza nova na sua escala. E os últimos dias fizeram ressoar os receios de agravamento da mortalidade, bombardeados que somos diariamente com números recorde de novos casos. A leitura de epidemiologistas e virologistas aponta para um cenário relativamente otimista: a generalização da ómicron poderá ser uma oportunidade para a convivência mais simples com o vírus, enfraquecido e comparado às constipações de inverno. Outros médicos contrapõem a esse otimismo o risco de reaparecimento de variantes ou de sobrecarga dos serviços de saúde.


Como sublinha Sobrinho Simões, escolhemos quase sempre a esperança no plano individual, nem que seja por instinto e porque é ela que nos impulsiona a projetar e sonhar para nós e para os nossos. Mas coletivamente somos frágeis a organizar essa esperança, ou seja, a definir e concretizar um plano concreto do que temos de fazer por um melhor Serviço Nacional de Saúde, um melhor sistema de educação, uma sociedade com menos desigualdade e pobreza.


Nesta altura, contudo, até o otimismo individual pode falhar, esmagado pelo cansaço e pelo peso avassalador que demos ao conceito covid. Este é o momento de escolher a esperança e de nos deixarmos mobilizar por ela. Sem essa escolha, dificilmente daremos o passo seguinte. O de contribuir, no trabalho, no voto, na intervenção cívica, na solidariedade coletiva, para um projeto que nos fortaleça como sociedade.


*Diretora JN, Inês Cardoso

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