O problema tem anos, quem não se lembra dele, e ao que parece não tem remedeio, volta e meia aparece, desavindo, e reaparece, agitado, e não me venham cá com o discurso rasteiro que encontra nas nomeações dos comandos pelas direcções as razões críticas para esta turbulência, isso é pensamento pobre e balanço sovina.
Eu gosto muito de bombeiros, gosto de gostar de bombeiros e gosto desse gosto a bombeiros, não gosto a contragosto, gosto por gosto e não sinto desgosto.
O gosto não me vem do gosto pela tribuna, do gosto pelo destaque, do gosto pela medalha, vem me de gostar mesmo.
Vem isto a propósito dos recorrentes conflitos, que, não sendo tantos assim, vão surgindo nas AHBs/CBs, envolvendo Órgãos Sociais, Comando e Corpo Activo.
Conflitos internos, publicitados nas televisões, jornais, redes sociais, um fartote, por isso mais criticáveis e ainda mais condenáveis, recato, resguardo e discrição são bons e recomendam-se.
Não sei as histórias, elas serão tantas, desconheço as razões, que serão demais, ignoro as culpas, serão de todos, nem sei se haverá mais culpados do que culpas, até culpas sem culpados, quem sabe culpados sem culpas.
Não tomo partido, não aponto o dedo, não atiro pedras, o tempo, que é o mais justo juiz, o fará por mim.
O que sei é que estas situações têm que se estancar e alguém tem que liderar o processo da sua barragem, de uma forma pedagógica, correctiva, construtiva.
Alterem-se os regulamentos, façam-se “workshops”, palestras, seminários, acções de formação, sei lá, mas faça-se alguma coisa.
Os bombeiros são uma força de protecção e socorro e um agente de protecção civil e, nessa condição, não podem dar-se ao luxo de serem protagonistas de casos de indisciplina, insubordinação e de revolta, mesmo que, eventualmente, lhes possa assistir toda a razão.
Não podem e não devem!
Há momentos, locais, órgãos, canais, e hierarquias próprios para essas questões se tratarem, não é na barafunda da praça nem na algazarra da rua.
As populações esperam dos bombeiros, generosidade, disponibilidade, competência, prontidão, aprumo, disciplina, tudo, afinal, o que eles lhes têm dado, mas, cuidado, algo que fure esta cadeia pode pôr em causa o grau de confiança que os portugueses lhes dedicam.
A sociedade está cansada destas "guerras", e do cansaço à saturação vai um passo e da saturação à exaustão vai uma nesga.
É tempo de as direcções, comandos e corpos activos abandonarem as incompatibilidades e as zangas, deixarem de andar de relações cortadas e a exigirem saídas e demissões.
Capacetes à porta, tarjas pretas nos portões, plenários e sirenes a tocar, desculpem, mas isso já não se usa, é do 4º mundo, e não honram a farda e envergonham o estandarte.
São situações que não dignificam a instituição, afectam a estabilidade do socorro e são um espetáculo degradante e pouco abonatório.
Esteja onde estiver a razão da desavença.
As regras, os poderes e as competências de todos os protagonistas, bem ou mal, estão definidos.
Quem não concordar, seja quem for, não entra ou não fica, mas não estorva, não atrapalha, não complica, não estraga as grandes casas das grandes causas.
Todos somos livres de entrar e livres de sair, mas querendo ficar, há disciplina a cumprir.
Não se pode estar em instituições desta natureza com um mal-estar latente, fazendo intriga, criando obstáculos, levantando dificuldades.
Sei que não é fácil, mas talvez seja o tempo de as entidades responsáveis acordarem para esta realidade e ensaiarem fórmulas de resolução do problema, sob pena de a imagem dos bombeiros ficar seriamente ofendida e comprometida.
Este texto não é bonito, nem é pacífico, eu sei, não é para arranjar grandes amigos, também sei, mas o valor mais alto da dignidade da instituição BOMBEIROS pesa mais, é mais forte e levou-me a esquecer as conveniências e o resto.
Sempre por bem e para bem dos BOMBEIROS, minha escola de vida, minha âncora, meu projecto!
Se puderem, entretanto, façam o favor de ser felizes!
Publicada por Zingarelho Rm
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