É Tempo de Agir, Amanhã Poderá Ser Tarde Demais - VIDA DE BOMBEIRO

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terça-feira, 4 de agosto de 2020

É Tempo de Agir, Amanhã Poderá Ser Tarde Demais


Não vamos voltar ao que era antes da pandemia, é uma análise que tem vindo a tornar-se comum, mas que para muitos, nomeadamente o próprio Estado, ainda não terá sido suficientemente interiorizada e materializada numa nova postura perante a nova realidade que vivemos, em particular, para com as associações de bombeiros.

As coisas mudaram de um dia para o outro. Todos o sabemos e sentimos. Nas nossas associações, às dificuldades anteriormente sentidas no dia a dia, associadas a incumprimentos de pagamentos atempados e resistência à mudança dos valores e do próprio modelo de financiamento e das tabelas de preços praticados na prestação de serviços para o Ministério da Saúde, juntaram-se as condições decorrente da pandemia. Neste caso, a tudo o que aqui disse, juntou-se a quebra, repentina e abrupta, de receitas decorrentes do transporte de doentes e o aumento acelerado de despesas decorrentes do investimento em equipamentos de proteção individual para os bombeiros em todos os transportes de doentes.

As mudanças impostas pela pandemia tornaram-se incontornáveis na nossa vida pessoal, familiar, coletiva e associativa. E, desde o primeiro momento, verificou-se que ficaram para durar. Logo, esse prazo terá que refletir-se em todos os aspetos da vida, inclusive das associações de bombeiros. Negar isso, como à primeira vista pareceu ressaltar da análise do Governo, era falta de senso e sentido de responsabilidade. Depois, chamados à realidade pela LBP verificou-se uma mudança na análise e só mais tarde na atitude.

O Estado tem uma postura doentia em relação aos bombeiros. Frequentemente entende-os como coisa sua e força à mão para o que for necessário. Mas quando se trata de fazer contas e assumir os custos reais não tarda em mudar de postura e hipocritamente defender que as associações são entidades de direito privado em que não se quer envolver e que até dispõem de outras fontes de financiamento, sejam autarquias, receitas próprias ou através de beneméritos.

Trata-se de um verdadeiro jogo do gato e do rato que temos denunciado por demais, mas que tarda em acabar.

Vejam-se, por exemplo, as orientações emanadas pela ANEPC para os cuidados a ter durante o DECIR no âmbito do COVID 19 mas que ninguém tratou de assumir ou saber quem vai cuidar de pagar. Mais uma atitude típica de empurrar com a barriga à espera da solução que as associações e os bombeiros, e a LBP em nome de todos exige, mas que continua a não existir nem a haver demonstrações de vontade para resolver.

Esta é apenas uma de muitas questões que enfermam esta relação distorcida e abusadora do Estado para com os bombeiros que não vem de agora, mas que, face ao ocorrido e à certeza de que nada vai ficar com antes, terá que mudar depressa e bem.

Além dos apoios que defendemos e exigimos com caráter de urgência para as associações no âmbito da pandemia temos vindo a desdobrar-nos em contatos com os Ministérios da Administração Interna e da Saúde para o chamado “day after”, que é já hoje.

Os custos associados ao pré-hospitalar e ao transporte de doentes não urgentes, que timidamente começam a ressurgir, não podem estar sujeitos às tabelas que vinham sendo aplicadas, porque então já ultrapassadas e agora, por maioria de razão totalmente desfasadas da nova realidade. No caso do pré-hospitalar, o uso de cada vez mais consumíveis e do próprio oxigénio tornou ruinoso qualquer serviço feito nesse âmbito. O transporte de doentes, com a limitação do número de doentes transportados nas viaturas e a obrigatoriedade de EPI para os bombeiros e doentes, tornou-se também ingovernável.

Nos tempos que correm, em fase pandémica e porventura a aguardar novo surto, todos nós, portugueses, somos chamados a refletir e definir novas prioridades, novos desafios, novos modelos de desenvolvimento. E se, como já disse e é voz corrente, que no presente e no futuro nada será com de antes, tudo isso leva a que no universo dos bombeiros e das suas associações ponderemos bem sobre o que queremos e o que esperam de nós.

Veja-se que voltar ao passado, tout court, torna-se praticamente impossível salvo em pormenores irrelevantes. As próprias formas tradicionais de prestação de trabalho, nomeadamente presencial, sofreram uma mudança difícil de reverter a padrões tradicionais passados. Atente-se, por exemplo, ao teletrabalho que veio para ficar e alterar as relações laborais e sociais. Até que pouco o que se veio construindo vai conseguir mitigar ou anular o embate e as consequências do que aconteceu, nomeadamente, as dificuldades e as desigualdades que, entretanto, se acentuaram nas nossas vidas pessoais e das nossas associações e corpos de bombeiros.

É a reflexão sobre tudo isto que urge fazer. Temos o esforço acrescido de não podermos fechar as portas para pensar. Temos que o fazer em andamento, mas com a profundidade e a convicção que, independentemente da problemática do dia a dia, tenha em conta o futuro que se começa a construir já hoje. É tempo de agir, amanhã poderá ser tarde demais!

Como tal, não deixaremos de continuar a afirmar na pratica a defesa intransigência dos Bombeiros Portugueses.

LBP

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