Opinião: Até Quando? - VIDA DE BOMBEIRO

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sexta-feira, 31 de julho de 2020

Opinião: Até Quando?


O incêndio florestal que deflagrou sábado no concelho de Oleiros provocou uma vítima mortal. Foi um jovem bombeiro de Proença-a-Nova que estava no teatro de operações. A revolta é grande. A dor imensa.

Até quando terá que ser assim?

Até quando o país só olha para estas questões quando as chamas tomam conta de nós?

Até quando o país deixa estes territórios à sua sorte, que por mais que autarcas, alguns proprietários florestais e as gentes, que são tão gente como todas as outras, se esforcem (criando zonas abertas e limpando a floresta), o trabalho de fundo nunca é implementado por parte do Poder Central?

Até quando vamos ver, ler e ouvir o circo mediático dos incêndios?

Até quando temos que viver com o coração nas mãos sempre que as temperaturas sobem?

Até quando aguentam as pessoas que vivem no pulmão do país? Naquele que faz com que haja ar puro para todos respirarmos.

Até quando?

Agora vêm as explicações. Nas televisões, nas rádios, nos jornais. Porque é assim. Especialistas vão comentar o pós incêndio. Os partidos vão gladiar-se entre si. O circo, o triste circo continua. Há os imaculados e há os outros. E há, seguramente, aqueles que vêm dizer mal. Porque é assim que tem que ser, tem que se dizer mal, encontrar culpados mesmo que se tenha que mentir, ofender.

As pessoas que vivem nestes territórios são resilientes. Já passaram por muito. Até já ouviram aquilo que não mereciam e explicações que mais pareciam retiradas de um filme de drama, terror e comédia:
Em 2003, o então ministro do Ambiente, Amilcar Teias, em declarações que me foram prestadas ( a mim e a dois colegas) junto à serração do Roqueiro - já a noite estava cerrada e o fogo queria abraçar-nos -, dizia que os antigos combatentes tinham consigo munições e outros equipamentos e que era isso que poderia estar na origem dos fogos. 

Estas declarações até tem uma história jornalística pouco recomendável. É que no regresso ao quartel dos Bombeiros de Oleiros vários camaradas de profissão de órgãos nacionais me pediram as declarações do ministro. No campo de batalha temos que ser uns para os outros. 

Acedi. Infelizmente nem todos respeitam as regras do jogo. O desejo de brilhar é grande. Mesmo que isso signifique usar o trabalho de colegas em proveito próprio (infelizmente há muitos casos assim no jornalismo). Na manhã seguinte, o jornalista da TSF abriu o noticiário a informar os seus ouvintes que era um exclusivo dele, quando nem as botinhas tinha tirado do quartel, provavelmente com receio de ir para o terreno.

Mas estas gentes, as nossas gentes, porque todas as gentes são nossas, ouviram também um Primeiro Ministro negar o apoio, por parte do Estado, a um homem que combateu um incêndio florestal, em Oleiros, em 2017, deixando a sua família sem amparo. A resposta do gabinete de António Costa foi de que a família poderia por o Estado em tribunal. 

O Decreto lei que anunciava os apoios apresentava um período de tempo. Só as vítimas dos incêndios entre a data X e a data Y seriam apoiadas (ou as suas famílias). O funcionário da autarquia de Oleiros pegou na máquina de rasto, deixou em casa os seus familiares, e num dia Z foi combater o incêndio. Faleceu. Fora do prazo, segundo o Governo.

E assim anda o país. Na televisão choram lágrimas de crocodilo, dão abraços que parecem fraternos, põem as suas próprias máquinas de comunicação a trabalhar neste ou naquele sentido. Influenciam. Mas quando é necessário agir colocam a justiça na estrada da solidariedade, quando a deveriam colocar na via rápida da... Justiça.

Até quando isto terá que ser assim?

Fonte: Reconquista

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